TECNOLOGIA E PRIMITIVISMO
Baixei um aplicativo que me permite escrever deitado. Quando estou sem inspiração, aproveito e durmo. Acordado e olhando para o teto, fico com a impressão de que estou em frente a uma parede, um colchão puxando minhas costas, e os pés, flutuando. Se estou entediado, aperto o travesseiro na cara até faltar o fôlego. Amanhã vou amarrar uma corrente nos pés e me pendurar de ponta cabeça para experimentar a sensação. Tudo é válido em busca de novas inspirações. Tenho consciência de que isso já foi feito por Nero, mas como não posso incendiar Roma, vou me adaptando.
Essa ideia de procurar o aplicativo surgiu quando a empresa que me havia bloqueado no WhatsApp me desbloqueou. Eu estava usando o mesmo número para digitar meus rascunhos. Ao receber a pergunta: quem é? Fugi para o aplicativo e me vinguei dela, bloqueando-a.
Estou satisfeitíssimo com essa forma de escrever, mesmo sendo desconfiado com as novas invenções. Antigamente eu não queria aprender a digitar porque achava que a ciência da computação queria me fazer escravo da tecnologia. Hoje não acho, tenho certeza. Sou escravo do virtual. Em casa ligo para a mulher perguntando se o almoço está pronto. Ando na rua digitando, e quando esqueço o celular em casa fico apertando os dedos no corpo.
Se alguém tem o vício de gravar mensagens no banheiro, não sou eu. Recebi um pedido de Adelaide via whatsApp. No início achei que ela estava sendo abduzida, seduzida ou assaltada. Não, foi engano. Era apenas sons do ambiente. Em seguida eu transcrevo um pouco da mensagem de voz que chegou ao meu celular: “olá Heraldo! você pode passar... aqui... Puuuuuuuummm... hoje?” Respondi-lhe: puuuuummmmm não!
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 02/03/2021 – 11:50
showdemamulengos@gmail.com
84-99973-4114
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