CHORAR NÃO ADIANTA
Quem diz que gosta de trabalhar está dizendo a verdade? Eu sei que gostamos do fruto do trabalho, isto sim, até eu gosto. Mas trabalhar mesmo... hum, sei não, hein! Meu amigo contou-me satisfeito que pega um ônibus com ar-condicionado de madrugada em direção ao trabalho, vai dormindo no conforto, e complementou que é bom demais. Conta isso como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Prefere assim a ficar com a esposa na cama quentinha? Será?
Vejo alguém limpando a rua sei que ele está ali por falta de opção. Limpar esgoto não é trabalho que se planeje assumir algum dia. O que você quer ser quando crescer? Gari. Não se escuta essa opção entre os meninos. Pode até dizer que quer ser padre, mas gari, hum... e ainda dizem: “O trabalho dignifica o homem”. Qual homem? Quem compra o tempo do trabalhador tem esse discurso. E não adianta dizer que existe só em tarefas manuais.
Visitei um parente recentemente e ele não pôde me atender. Estava Home Office tentando bater a meta e ganhar um prêmio extra. Percebi que a cenoura na frente do jumento ainda funciona muito bem. Agora o sistema criador de riquezas não precisa investir em paredes para deixar alguém sob os olhos do feitor. O carcereiro é o programa marcando a hora que se liga e desliga o computador. O pior de tudo isso é que meu parente não se lembra da minha visita. Já vi esse filme antes. O protagonista é atropelado pela roda grande que quer entrar na pequena. Existem metas, e se não as cumprir abrirá vaga para outro mais jovem. O filho fica perto dizendo que quer o prêmio. O coração de pai se esforça para ver seu filhinho contente. O prêmio é um aparelho de última geração que traz o último jogo... tudo é último nessa corrida, menos a radiação eletromagnética.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 28/01/2021 – 06:38
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