DE JANEIRO A JANEIRO
(José de Castro)
Não sei se rio de janeiro a janeiro ou se choro
Ou se fervo em fevereiro, sem sorte, sem trevo
Ou se me atrevo a riscar do calendário qualquer
Data que não seja primeiro de abril nestas terras de Cabral
Aqui a mentira grassa sem graça nenhuma...
E me falta o verso mais que perverso para
Virar o poder do avesso e fazer um novo começo
E fica no meio do caminho essa pedra de tropeço
Uma vontade louca de detonar com tudo
Explodir o verbo, a verba, a propina, a latrina
E toda essa fedentina da política que assola o país...
Há uma falta de vergonha que me faz descrer do mercado
Nem acredito nessa merda de lei da oferta e da procura
Pois quem procura, porcaria acha - e safadeza maior encontra
E perco a conta dos anéis, dos dedos, dos coronéis,
Da venda de títulos e papéis, moeda podre, inflação, merreca, mil réis...
Já não tenho mais capacidade de previsão, nenhuma premonição
- e nem pré-sal...
E vejo a falta que me faz uma palavra de fé, algo que me faça
Acreditar que o país tem jeito, que vai entrar nos trilhos
Dar pano pras mangas e emprego pros filhos
E que vai sair dos estribilhos da corrupção
Quero apenas um frasco de dignidade no ar
Uma justiça que seja ética e justa na medida certa
Uma estética da política que desenhe melhor a sua face
Com arte, engenho, empenho e sob o lenho da honestidade
Enfim, parece sonho impossível....
Por isso, rio de janeiro a janeiro.
E, depois, fervo no frevo em fevereiro.
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José de Castro, jornalista, escritor. Autor de livros para crianças (A marreca de Rebeca, Vaca amarela pulou a janela, dentre outros). Publicou “Apenas palavras” e “Quando chover estrelas”, livros de poemas. Membro da SPVA/RN e da UBE/RN. Contato: E-mail • josedecastro9@gmail.com
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