sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Homofobia - Jomar Morais

 



Homofobia
É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.
Albert Einstein


Em dois meses, as câmeras da avenida Paulista, o coração de São Paulo, flagraram dois ataques a homossexuais que passavam no local. Seus autores são jovens cuja explosão de violência injustificável tem a mesma motivação: aversão à orientação sexual de suas vítimas. O nome do crime: homofobia. O termo surgiu da união do grego phobos (fobia) com o prefixo homo, como remissão à palavra homossexual. Não é, portanto, o mais adequado para expressar as cenas de brutalidade exibidas na TV, mas etimologicamente vai à raiz do problema. Fobia é medo instintivo a algo. Neste caso, medo da homossexualidade do outro, a que se reage com agressão física e crueldade.

A homofobia existe há milênios e tem sido reforçada por conceitos religiosos e cânones morais acerca do sexo que resultaram em preconceitos e muita hipocrisia. No passado foi pior. Ainda que cerceados pela intolerância explícita ou velada, os homossexuais vivem hoje no melhor dos mundos se considerada a dura experiência dos que os antecederam, condenados à clandestinidade, à prisão ou à morte. A divulgação de atentados à sua dignidade e a pronta reação institucional aos autores de tais delitos constituem um marco da civilidade e do intento da sociedade de assegurar a igualdade de direitos entre todos os cidadãos.

Apesar dos obstáculos culturais que tornam o reconhecimento pleno dos homossexuais mais difícil que o de minorias étnicas ou raciais, a realidade acena com um futuro em que ninguém será discriminado ou segregado em razão de sua sexualidade. Mas para isso teremos antes de responder à questão a que nos remetem os espasmos homofóbicos do presente. Por que alguns homens e mulheres perdem o equilíbrio diante de um homossexual? Por que reagem com tanta violência?

Uma das explicações acatadas pela psicologia refere-se a um efeito espelho constatado em todos os casos de aversões irracionais. Sentimo-nos incomodados quando identificamos no próximo aquilo que consideramos nossas fragilidades e “defeitos” reprimidos a duras penas. E, a menos que tenhamos desenvolvido autoconhecimento e autoaceitação, a dor dessa experiência pode ter consequências abomináveis. No caso da homofobia, a suposição preconceituosa de que todo gay é feminino e toda lésbica masculinizada pode catalizar a insegurança de homens e mulheres às voltas com conflitos sexuais ou com a ignorância acerca das qualidades passivas e ativas – o anima e o animus arquetípicos – que sustentam em cada pessoa o equilíbrio das emoções e da vida afetiva.

Alguém assim, habituado a reprimir seus impulsos naturais, pode ver no espelho humano da alteridade uma ameaça real a ser destruída. A solução? Educação. Informação sobre o espectro sexual, mais variado do que imaginávamos nos homens e animais. Releitura dos conceitos religiosos e a prática dos ensinamentos de amor e tolerância de todos os grandes mestres, corrompidos depois pela pequenez dos discípulos. Autoconhecimento e aceitação, mesmo que isso venha a mexer profundamente com nossos valores e referências.

Extraído do livro







Sobre o Autor

Jomar Morais é jornalista, professor e estudioso das tradições espirituais.
Foi repórter, colunista e editor político no Jornal do BrasilFolha de S. PauloVeja Istoé, editor especial da revista Superinteressante, redator no jornal O Estado de S. Paulo e coordenador de projetos especiais da revista Exame. Foi editor da revista Viagem e Turismo (Editora Abril), tendo se aposentado em junho de 2006.

Lecionou Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP e na Faculdade Cásper Líbero (SP). Foi o primeiro jornalista brasileiro a publicar uma coluna na Internet.

Em 2002, fundou em Natal o Sapiens - Grupo de Estudos Filosóficos e Autoconhecimento.
É autor dos livros Meditação (Editora Abril) e coautor de Viagem Interior (Editora Ediouro).

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