BOA
IDADE... Ô MENTIRA GRANDE!
Estou na idade da dor. Há, inicialmente, a idade do
brinquedo, depois a idade do banheiro, idade do dinheiro e finalmente a tão traumática
idade da dor. Mesmo estando nesta idade finalista, visito sempre as outras
idades. É muito bom encontrá-las saudosas. Perguntam-me como é estar
hierarquicamente na frente. Ai! Ai! Respondo: dói nas juntas, cabeça, barriga,
membros, etc., este etc. significa o resto do corpo. É melhor perguntar onde
dói mais. Aí fica fácil responder. Se puder afinar ainda mais a busca
utilizando como parâmetro a hora, é melhor. Por exemplo: pela manhã dói as
pernas. À tarde dói as pernas e a cabeça, à noite dói cabeça, tronco e membros.
Pela madrugada não dói nada, mas falta sono. Depois que o galo canta chega o
sono, mas a bexiga está cheia. Quando esvazio a bexiga caio no caminho. Quando
não bato com a cabeça, machuco o nariz. Durmo com dor, ou melhor, cochilo. Um
dia desse acordei sem dor. Estranhei. Procurei ela debaixo da cama, dentro do
guarda-roupa e nada de encontrá-la.
Voltei a praticar exercícios. Quando cheguei de volta em casa ela estava no banheiro. Para tirar a roupa foi um sacrifício. Segurei-me na parede, mas não consegui me sustentar. Caí por cima do sanitário. Alguém havia ido lá e não deu descarga. Fiquei frente a frente com uma ex-feijoada. Minha mulher perguntou-me se eu estava bem. Respondi-lhe fazendo outra pergunta: o que você acha? Passei três dias acamado com bolsa de gelo nas pernas e na cara. Sem dormir e gemendo. Aproveitei esta estada no quarto para colocar a conversa em dia. Minha interlocutora foi, principalmente, a parede. Ela é muito boa ouvinte. A janela, às vezes responde em tom de assobio. O vento ajuda na expressividade da janela. A cama fica só dizendo para eu sair de cima dela. Eu digo que ela existe para isso. Alguns da família dizem que estou caducando, outros dizem: está com Alzheimer. Na juventude eu sempre valorizei as mulheres, não é na boa idade que vou aceitar um macho comigo. Não! Este tal de Alzheimer deve estar com sua mãe, respondo. Tirando essas dorzinhas, o resto está tudo bem. Divirto-me muito atirando fezes nas visitas. É um esporte fantástico. Defeco na frauda e quando tem munição suficiente, faço uma guerra de brincadeira. As pessoas não entendem esse meu espírito alegre. Sempre gostei de jogos, principalmente, games de guerras. Não é porque estou acamado que vou deixar de praticá-los.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Santa Cruz/RN, 1º/01/2021 21:41
84-99973-4114
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