segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

ESCONDIDA ATRÁS DA ANGÚSTIA - Heraldo Lins

 



ESCONDIDA ATRÁS DA ANGÚSTIA

 

 

Nunca esqueci a cena de “E O VENTO LEVOU...”, onde a protagonista serve água ao soldado solitário e quando ele está bebendo ela dispara a arma que trazia debaixo da bandeja. Não podia errar senão seria estuprada. Só havia uma munição. Foi na cara. Caiu com os miolos estourados. O filme não foi tão sensacional quanto o livro, mas ficou registrada a chocante cena. Uma outra foi a da negra escrava servindo água ao coronel visitante, e ainda na cozinha cuspiu dentro do copo.  O coronel, inocentemente, saboreava a água enquanto os espectadores se enojavam. A empatia faz o consumidor de arte ser conivente com o faz de conta. É só através desse consentimento que a criatividade é transformada em produto de luxo. Isso é bem evidente no Ensaio sobre a cegueira, livro de José Saramago, que traz a condição humana retratada no mais alto grau de mesquinhez. O agravante é que os personagens são cegos.

 

Uma foto de uma cadeira nada significa, mas se acrescentarmos alguém sendo morto na elétrica acende-se o interesse. Quem era? O que fez? Bem feito, dizem os juízes populares.

 

Quando se tem o olhar de poeta, a realidade é descrita com pitadas de poesia a ponto de influenciar o olhar do outro. É uma fuga que ambos concordam em fazer juntos. Para o construtor do produto artístico essa busca passa a ser incessante quando há prazer em procurar a nota certa na música, a pincelada ideal na pintura e a palavra exata no texto. Nem mais, nem menos. Essa medida cada um tem a sua. Quando se consegue uma em que muitos concordam, há aplausos. Quando só o autor entende, há um dilema: é arte futurista ou lixo. Arte de vanguarda ou brincadeira de mau gosto. Mas fiquemos atentos: uma coisa e não a outra precisa ser planejada pela inspiração e executada pelo talento. 

 

 

 

Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 18/12/2020 – 16:35

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