ESCONDIDA
ATRÁS DA ANGÚSTIA
Nunca esqueci a cena de “E O VENTO LEVOU...”, onde a
protagonista serve água ao soldado solitário e quando ele está bebendo ela
dispara a arma que trazia debaixo da bandeja. Não podia errar senão seria
estuprada. Só havia uma munição. Foi na cara. Caiu com os miolos estourados. O
filme não foi tão sensacional quanto o livro, mas ficou registrada a chocante
cena. Uma outra foi a da negra escrava servindo água ao coronel visitante, e
ainda na cozinha cuspiu dentro do copo.
O coronel, inocentemente, saboreava a água enquanto os espectadores se
enojavam. A empatia faz o consumidor de arte ser conivente com o faz de conta.
É só através desse consentimento que a criatividade é transformada em produto
de luxo. Isso é bem evidente no Ensaio sobre a cegueira, livro de José Saramago,
que traz a condição humana retratada no mais alto grau de mesquinhez. O
agravante é que os personagens são cegos.
Uma foto de uma cadeira nada significa, mas se
acrescentarmos alguém sendo morto na elétrica acende-se o interesse. Quem era?
O que fez? Bem feito, dizem os juízes populares.
Quando se tem o olhar de poeta, a realidade é descrita
com pitadas de poesia a ponto de influenciar o olhar do outro. É uma fuga que
ambos concordam em fazer juntos. Para o construtor do produto artístico essa
busca passa a ser incessante quando há prazer em procurar a nota certa na
música, a pincelada ideal na pintura e a palavra exata no texto. Nem mais, nem
menos. Essa medida cada um tem a sua. Quando se consegue uma em que muitos
concordam, há aplausos. Quando só o autor entende, há um dilema: é arte
futurista ou lixo. Arte de vanguarda ou brincadeira de mau gosto. Mas fiquemos
atentos: uma coisa e não a outra precisa ser planejada pela inspiração e
executada pelo talento.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 18/12/2020 – 16:35
84-99973-4114
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