NOVO
TEMPO
Manhã do dia 03 de abril, em direção ao
trabalho, atravessando as ruas desertas, refleti mais uma vez sobre a situação
em que estamos mergulhados. Fiquei me perguntando: Quantas mudanças estão
ocorrendo dentro e fora das pessoas diante desse vazio que o momento nos impõe?
Logo respondi: Acredito que um rio de emoções, de pensamentos, sentimentos, sensações,
percepções, de crenças e descrenças esteja fluindo diariamente do íntimo de cada
uma delas e em mim. Veio um desejo: Espero que a humanidade esteja revendo os valores
essenciais da vida para fazer diferente e proporcionar uma resposta sensata ao
planeta terra, que ecoa por transmutações e implora por uma fonte expansiva de
amor e luz.
Lembrei do nosso desrespeito em relação ao
universo e à maravilhosa natureza, sobre a falta de consciência de que estamos
todos juntos num mesmo entrelaçamento de vidas e energias. Nessa perspectiva entendi
que além do vírus em circulação, o egoísmo do ser humano, aliado com a
ganância, competição, vingança, falsidade, entre outras terríveis atitudes têm ajudado
a gerar esse confinamento, com o objetivo quem sabe de nos desconectarmos da sombra
que tem adoecido o mundo.
Estive repensando sobre aqueles que continuam
numa fase de negação do problema e continuam levando uma jornada “normal”. Mantendo
o devido respeito à singularidade de cada indivíduo, indago o que se passa na
mente de muitos, de acordo com os comportamentos adequados e inadequados frente
a expansão da COVID-19.
Por um lado, imagino que hajam
indivíduos rígidos que só acreditam no que veem em seu estrito lado e não buscam
as medidas de proteção, se expondo, de forma irresponsável ou por pura
ignorância frente às consequências de uma contaminação. Outros estão arraigados
unicamente na fé e sem a compreensão das demais complementações existenciais que
integram o ser humano. Muitos estão envolvidos apenas com as informações
científicas sem a devida atenção a questão biopsicossocial e espiritual tão inerente
a pessoa. Dessa forma, me chama a atenção o quanto é importante nos vermos por
inteiro.
Neste sentido, ainda visualizo o
quanto a humanidade precisa evoluir, cada um com seu processo individual e no
seu tempo. Levando em consideração a paralisação mundial, percebo uma
movimentação além do nosso limitado olhar clamando por transformações
individuais e sociais. Mas, infelizmente, parece que a insensibilidade de
alguns não consegue identificar esse chamado.
Sem julgamentos, com muito respeito e com
intuito de ajudar, quero fazer um convite para silenciarmos por um instante. Convite
este para adentrarmos numa dimensão construtiva e fidedigna conosco sobre a
lição que devemos de fato aprender com esse ensino universal. Olhando
profundamente para o nosso EU, perguntemos: O que preciso aperfeiçoar em mim?
Não tenha medo de mergulhar na pessoa mais importante dessa vida: você. E se
diante da sua profundidade emocional não conseguir processar o conteúdo exposto
ou latente e desejar ser escutado por alguém, interaja de acordo com as suas
possibilidades.
Vale salientar que nesse momento de
estresse coletivo, nem toda sintomatologia apresentada se transformará num
diagnóstico. No entanto, é preciso que seja reconhecida e processada com todos
os cuidados possíveis. A livre expressão exteriorizará as preocupações, medos e
todos os conflitos interiores trazendo leveza e ressignificação ao próprio ser
nesse momento de sofrimento, e desde sempre.
Esse novo tempo que intitulei nesse
pequeno texto, de maneira prática, nos abre espaços para atentarmos às escolhas
baseadas no bom senso, nas mudanças pessoais e na compreensão de uma nova
realidade. O presente tempo é de insegurança. Então, se sentir vontade de
chorar, chore. Lave não apenas as mãos e o corpo, mas também a alma. Quando as
lágrimas cessarem, volte a sorrir com as coisas mais simples da vida, dê
gargalhadas, se reinvente, faça algo inusitado, mesmo que as dificuldades continuem,
valorize o que há de saudável em você.
Vamos nos conectar com a paz interior,
com o amor e a solidariedade para salvarmos a nós e o planeta.
Lindonete
Câmara, Psicóloga.
João
Pessoa, 06 de abril de 2020.
Email: lin.dearaujo@hotmail.com
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