domingo, 19 de maio de 2019

Ouvindo o que não quer



Palavras têm força. Ao serem ouvidas,  independente do emissor,  a força permanece sendo exercida por dias ou até mesmo perduram por  toda   uma existência.  

Os poetas escondem-se por trás dos escudos sintáticos para se defenderem. De forma sutil, sem direcionar a decepção, usam a pedra como escudo no meio do caminho. 

Mas não precisa ser poeta para sofrer com os projéteis verbais. O certo  é que, no artista , a perfuração infecciona e só será curada  quando houver cirurgia vocabular publicada. Quando isso acontece, parte-se para a etapa das trincheiras escritas.Torna-se hábito, por parte do vate, recorrer a tal expediente visando a cura. 

Combustível de não tão  fácil digestão, a agressão verbal impulsiona neurônios artísticos na elaboração da obra. Contrário do sistema digestório, primeiro vem o lixo para depois sair o luxo.

A exposição na guerra da realidade visa sentir o mercado agressivo da inveja. Procura colher a essência das sensações entristecidas pelos significados deploráveis, com o objetivo de produzir razão alegre.

Vincent Van Gogh cortou a própria orelha. Nossas orelhas são cortadas na convivência social. No trajeto do berçário até o necrotério muitas são  decepadas. Quando não se consegue mais se esconder, restam apenas os borrões de uma caneta sem tinta. 

Heraldo Lins Marinho Dantas
15.05.2019

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