terça-feira, 21 de maio de 2019
MENDIGANDO ATENÇÃO - Heraldo Lins
Mendigando atenção
A correria desenfreada por fazer acontecer está acontecendo. A criança chora, esperneia, pula e até quebra o vaso raro da vovó. Abre um canal e posta fotos. Quando os aplausos não chegam, assassinam colegas de escola.
Substância viciante, navegar vicia. Observar as medidas das modelos é bem mais interessante do que saber formas rizotônicas. Os pequeninos neurônios estão obesos. Não levantam nem trinta quilos de questionamentos. Esqueceram as interrogações. Acomodaram-se com as mensagens rápidas. Os gladiadores do coliseu foram substituídos pelos vídeos de tropeços.
A estrutura neuronal permanece se modificando a cada click. A prática da construção do conhecimento Rodopia e morre. Não precisa parar no porto. O que importa é Navegar na dúvida provocada pela evolução. A todo momento uma postagem para ser curtida. A linha reta dos objetivos enovela-se nos fakes. O atual de agora fica ultrapassado daqui a pouco.
Alguém exige um sorriso com a Câmara ligada. Fazemos parte de uma sociedade onde é feio não sorrir, mesmo depois de um tombo na rua. É proibido chorar, a não ser que esteja em um programa de audiência melosa. É proibido massagear o joelho ralado em público, e, mais ainda, não viver fazendo pose.
Natal/RN, 19.05.2019
Heraldo Lins Marinho Dantas
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