terça-feira, 1 de maio de 2018

Pedro Marceneiro



Pedro Marceneiro


Hoje, 30.04.2018, acordei muito cedo, pois pretendia desocupar um quarto. Trabalhadores viriam às sete para fazer reformas nas paredes. A principal tarefa seria desmontar uma cama.

Ao desmontá-la, refleti sobre o quanto permanecia firme, livre de cupins e absolutamente fixa após décadas de uso. Jamais rangeu ou vacilou. 

Há vinte anos encomendei-a a um senhor evangélico muito simpático com quem muitas vezes conversava. Lembro-me de ter-lhe dito que queria uma cama de fato resistente, bem construída, de excelente madeira.

Hoje pela manhã, espantei-me com o estado dela e comecei a pensar em quem a fez, em como cumpriu à risca os meus desejos. Veio-me à mente a face risonha e sempre bem- humorada do senhor Pedro Marceneiro.

Grande parte dos que trabalham nessa profissão fazem jus à fama de enrolões; mas não era o caso de seu Pedro, que fez exatamente como combinamos, dentro do prazo estipulado. 

Este e outros trabalhos que lhe encomendei foram todos feitos com esmero, não deixaram a desejar.

Como evangélico nunca foi homem de grandes arroubos emotivos; eram-lhes constantes o bom humor sereno, o trato respeitoso para com todos, a atenção despretensiosa dirigida a crianças e adultos, a paciência e a generosidade. Conversar com seu Pedro significava vivenciar bons momentos, ver um testemunho favorável à fé cristã.

Após tão boas recordações a respeito de seu Pedro, fui ao trabalho. Lá, um pouco depois das sete, seu filho entrou no grupo da escola para dizer-nos que ele acabara de falecer.

Para mim, que nele tanto pensara ao começar o dia, foi um choque profundo.

Ponho-me, com a cama ainda desmontada, a pensar nas lembranças - todas positivas - que ele deixou em mim e em tantos outros que provaram do calor ameno e jamais invasivo de sua suave presença.

Tenho uma prova viva do hábil profissional que foi e do homem que honrava sua palavra. 

Convivendo com seus filhos, percebemos as marcas profundas que neles deixou. O exemplo de educação que lhes deu não foi em vão. Transmitiu à prole seus melhores caracteres, construiu neles estruturas que perdurarão gerações a fio, tão firmes quanto a minha cama. 


Gilberto Cardoso dos Santos


30.04.2018

Um comentário:

  1. Parabéns pela bela e justa homenagem.
    Não quero aqui generalizar, mas é raro encontrar, hoje, um evangélico como Seu Pedro Marceneiro.

    João Maria de Medeiros

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”