terça-feira, 31 de março de 2015

"GOSTO DOS GAROTOS" - Michel Quoist, padre francês



"Gosto dos garotos", diz Deus. Quero ver toda a gente parecer-se com eles.

Não gosto dos velhos, diz Deus, a não ser que ainda sejam garotos.
Por isso no meu Reino Eu só quero garotos, desde sempre está decretado.
Garotos curvados, garotos corcundas, garotos com rugas, garotos de barbas brancas, toda a espécie de garotos que quiserem, mas garotos, só garotos.
Não se volta atrás, está decidido: para os outros não há lugar.

Gosto dos garotinhos, diz Deus, porque neles a minha imagem ainda não se embaciou.
Não falsearam a minha semelhança, são novos, são puros, sem rasuras, sem marcas de uso.
Assim, quando suavemente sobre eles me debruço, neles me reencontro.
Gosto dos garotos, porque estão ainda a crescer, ainda estão a subir.
Estão a caminho, caminhando.
Mas a gente grande, diz Deus, já não tem ponta por onde se lhe pegue.
Não mais crescerá, não mais subirá.
Parou.

É um desastre, diz Deus, a gente grande, sempre a julgar que já chegou ao fim.

Gosto dos garotos grandes, porque ainda estão a lutar, porque ainda fazem pecados.
Não é por os fazerem, diz Deus, entendamo-nos, mas porque sabem que os fazem, e o dizem, e fazem por não fazê-los mais.
Mas a gente grande, diz Deus, não gosto dela, nunca faz mal a ninguém, não acha nada a reprovar em si mesma.
Nada lhes posso perdoar, nada têm para ser perdoado.
É de cortar o coração, diz Deus. É doloroso, pois nada disto é verdade.

Mas sobretudo, diz Deus, ah! Sobretudo gosto dos garotos por causa do olhar que eles têm. É no olhar que leio a idade deles.
No meu céu só haverá olhares de cinco anos, pois não conheço nada de mais belo que um olhar puro de garoto.
Nada disto espanta, diz Deus, habito neles e sou Eu que me debruço à janela da alma deles. Quando vós estais no caminho de um olhar puro, sou Eu, que vos sorrio através da matéria.
Mas, ao contrário, diz Deus, não conheço nada de mais triste que dois olhos apagados numa cara de garoto.
Abertas estão as janelas mas a casa está vazia.
Restam dois buracos negros e sombrios, mas já não há claridade, dois olhos, mas já não há olhar.
E fico triste à porta, e sinto frio, e espero, e bato. Que vontade de entrar…
E o outro está sozinho: o garoto.
Engorda, iça rijo e seco, envelhece. Coitado do velho! Diz Deus.

Aleluia! Aleluia! Diz Deus, abram, velhinhos!
É o vosso Deus, é o Eterno ressuscitado que vem ressuscitar o garoto que há em vós!
Vamos, depressa, chegou a hora, estou pronto a refazer-vos um belo rosto de garoto, um lindo olhar de garoto…
Pois gosto dos garotos, diz Deus, e quero ver toda a gente parecer-se com eles."




Um comentário:

  1. O conhecimento do Intelectual ou matuto estar no aprendizado e tende a ser aperfeiçoado e exteriorizado de forma verbal ou escrita. Pelo matuto: geralmente falado; Pelo intelectual: falado e escrita. Uma coisa é certa: A regra estar para todos gramatical/verbal/numeral. Cada cabeça uma sentença, é sua interpretação daí compartilha e diz ser o tal. Papel em branco cabe tudo. Falar ou escrever sobre os escritos sobre Deus exige uma pureza espiritual. A sabedoria estar em poucos, ser sábio é obediente aos limites moral, cultural e religioso, o mais si resume aos insensatos.
    Jadson Umbelino

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