quarta-feira, 1 de novembro de 2023

UM MILHÃO DE CAMINHOS

 


UM MILHÃO DE CAMINHOS


O sonho dele era possuir uma alma que fosse sensível e racional. Depois que conseguiu, procurou a felicidade. Caminhou até a montanha em busca dela e quando chegou lá começou a ficar triste. Percebeu que para atingir a felicidade ele precisava tomar água. Foi o que fez por diversas vezes até descobrir que enquanto procurava essa tal de felicidade gastava energia, e com a energia baixa, consequentemente, batia-lhe a tristeza. 

Pensou bastante e inventou uma régua para medir seu estado de espírito. Quando o ponteiro ia para o lado dos números negativos, tristeza; quando ao contrário, ele começava a se aproximar do ideal almejado. Agora estava fácil de permanecer feliz, pensava ele. 

Passado algum tempo, a água já não fazia o efeito inicial. O ponteiro começou a ficar com tendência para o lado da tristeza até ele acrescentar comida. Ah, nessa hora o ponteiro foi a mil. Agora ele estava felicíssimo. Hidratado e bem nutrido, não tinha com o que se preocupar. Resolveu consultar os filósofos. 

Aristóteles falou das três formas de se conseguir uma vida feliz: “a primeira tem a ver com o desejo e o prazer do corpo; a segunda como cidadão livre e responsável; a terceira como pesquisador e filósofo.”

Não ficando muito satisfeito com essa conversa, resolveu consultar a régua e os números lhe mandaram para o sexo, e por imposição vieram os filhos, casa, carro, colher, sorvete, picolé, escola, roupa, agulha, sabão, geladeira, cama, feira, cadeira, eleição... e quando ele havia resolvido se conformar em ser triste para o resto da vida, caixão. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 1º/11/2023 – 12h33min.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”