domingo, 27 de novembro de 2022

DAS INCELÊNCIAS NO MEU SERTÃO, A EXEMPLO DAS CARPIDEIRAS DA ANTIGA ROMA. - Jair Eloi de Souza



DAS INCELÊNCIAS NO MEU SERTÃO,
A EXEMPLO DAS CARPIDEIRAS DA ANTIGA ROMA.

Grassava os primeiros passos da década de sessenta. Na Rua do Emboque, ainda havia algumas casas de taipa, dentre as quais, uma pertencente Joaquim do velho Antônio Paulo, casado aquele com Maria de Sinval*.
Certa noite, mal o crepúsculo fechava as cortinas, lá estava um caixão, nele uma gestante, adereçada de flores de jasmim colhidas na quinta de Damásia de Gatinho. Era Maria de Sinval, que morrera de véspera do parto. Era comum esse tipo de morte.
Nesses tempos, velhas rezadeiras se encarregavam de encomendar o corpo do falecido durante a noite toda. E foi naquela ocasião, que pela primeira vez, assisti o canto de incelências, também fazer parte do ritual de lamentação pela morte. E naquele caso, era um agudo penar, pois, Maria era uma jovem mãe.
Na antiga Roma, esse trabalho ou ofício, era uma verdadeira profissão. As carpideiras, eram contratadas para chorar, fazendo às vezes da família. Pois esse costume foi trazido para o Brasil, durante o período colonial.
De ressaltar para os mais pobres rincões desse Nordeste, pátria mítica de fanáticos, beatos, e de profundo respeito pelos mortos. Que não eram enterrados, sem uma mortalha confeccionada às pressas, algumas horas de repique de velhos sinos.
J.E.S.


Jair Eloi de Souza: Advogado, Educador e Escritor.


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