terça-feira, 24 de agosto de 2021

A HISTÓRIA DE SANTA CRUZ EM CORDEL - João Maria de Medeiros

 



Publicado em 2008, reeditado em 2021

APRESENTAÇÃO (Gilberto Cardoso - Poeta, cordelista e cronista

 

Eu apresento a vocês

em forma de poesia

o cordel de João Maria

- professor de português.

O bom cordel que ele fez

fala de nossa cidade

com muita fidelidade

quanto aos acontecimentos

por isso meus cumprimentos

seu cordel tem qualidade.

 

Certamente ao estudante

há de ser de utilidade

Um cordel sobre a cidade

me parece interessante.

Sua ideia foi brilhante

ao escolher tal temática

de maneira muito prática

a história se desfia

em forma de poesia

facilitando à didática.

 

João Maria é professor

além disso ele é cronista

Pra se tornar cordelista

teve Acaci por mentor

Dedicou-se com ardor

a falar de nossa história

nem sempre cheia de glória

mas digna de se contar

para nos direcionar

rumo a melhor trajetória.

 

A HISTÓRIA DE SANTA CRUZ EM CORDEL 

Autor: João Maria de Medeiros 

1

Com licença, meus amigos

Para mostrar meu cordel!

Pra falar de Santa Cruz

Procurarei ser fiel

Depois de longo estudo

Ponho aqui neste papel.

Pra começo de história

Aqui já havia gente

Antes da colonização

Havia um bom contingente

Eram os índios Tapuias

Um povo forte e valente

 3

E com o passar do tempo

A colônia avançando

Todo o esforço dos índios

Ia por terra ficando

Só restou àquele povo

Seu domínio entregando.

Em mil novecentos e trinta

Digo aqui com precisão

José Rodrigues da Silva

Começa a povoação

Alia-se a João da Rocha

E a Lourenço seu irmão.

O povo aglomerou-se

E o povoado aumentando

O seu nome foi mudado

Conforme o tempo passando

De Santa Rita a Santa Cruz

Do Inharé foi mudando.

Existe uma antiga lenda

Que o povo acreditava

Se quebrasse o inharé

A fonte d'água secava

Surgia uma assombração

Todo animal atacava. 

Um santo missionário

Lembrou de fazer uma cruz

Dos ramos do inharé

Ele teve essa luz

Os malefícios cessaram

É isso o que se deduz.

Santa Cruz do Inharé

Por isso ficou chamado

Se não fosse aquela cruz

O mal não tinha passado

O bem superou o mal

Naquele tempo passado.

No ano de trinta e cinco (1835)

Instalou-se a freguesia

Com a Matriz de Santa Rita

Buscou-se a autonomia

O povo todo alegrou-se

Era tudo o que queria.

10 

A luta foi muito grande

Pra mudar de povoado

Pra isso teve a ação

Do Senhor Ivo Furtado

E padre Antônio Rafael

Um sacerdote honrado.

11 

Não se pode sequecer

Dois homens de valentia

Félix Antônio de Medeiros

E Trajano de Faria

Dois bons fazendeiros

Daquela ainda freguesia.

12 

Dia 11 de dezembro

Santa Cruz foi desmembrada

Era setenta e seis (1876)

E consegue ser desligada

De São José de Mipibu

E ficou emancipada.

13 

No ano setenta e sete (1877)

Não nos trouxe muita sorte

A seca foi muito grande

A chuva não veio ao Norte

Foi um período dificil

Causando fome e morte.

14  

Chegando o ano quatorze (1914)

Uma lei é aprovada

Era trinta de novembro

Uma data comemorada

De Vila para cidade

Santa Cruz é elevada.

15 

Como em todo Nordeste

Aqui tinha um coronel

Que nasceu em Araruna

Seu nome era Ezequiel

Um homem de trato fino

E sempre muito fiel.

16 

O Coronel Ezequiel

Um coronel diferente

Conciliador e paterno

Para toda sua gente

Do trato bom se detinha

Homem muito diligente.

17 

Seu filho Gentil Ferreira

Foi Prefeito de Natal

O Senador José Ferreira

Foi destaque nacional

E Odorico de Souza

Bom gestor Municipal.

18 

Dentre os fatos marcantes

Que não deixarei de lado

O padre Manuel Gadelha

Apoiou o discriminado,

Acolheu as prostitutas

E acabou denunciado.

19 

Uma dose de veneno

Ele mesmo preparou

No dia nove de outubro

O próprio Padre tomou

No ano de vinte e seis (1926)

Um suicídio praticou.

20 

O suicídio do padre

Nunca ficou explicado

Para algumas pessoas

Ele tinha se apaixonado

Mas há outra corrente

Que ele foi pressionado.

21 

Seu Theodorico Bezerra

Foi líder na região

Tudo se tornava ouro

Onde colocava a mão

Com um grupo organizado

Não perdia uma eleição.

22 

Sob a sua indicação

Elegeu vários prefeitos

Durante alguns mandatos

Nem sempre foram perfeitos

Assim mesmo o Major

Deixava todos satisfeitos.

23 

Um outro bom cidadão

Sempre muito respeitado

Era seu Miguel Farias

Muito calmo e educado

O carinho e o diálogo

Dele será bem lembrado.

24 

Antes da construção

Da nossa Maternidade

Aqui havia três parteiras

Na nossa comunidade

Menininha e Moacir

São exemplos de bondade.

25

Completando essa tríade

Um exemplo de devoção

Que tendia a todos bem

Com muita dedicação

Junto com o seu marido

Era Chiquinha Dadão.

26  

Quando o povo precisava

Remédio de eficácia,

Pois o xarope caseiro

Era uma grande falácia

Muita gente  procurava

Sebastião da Farmácia. 

 27

Muitos cidadãos daqui

Não devem ser esquecidos

De Fugão a Mané Fava,

Alice com seus pedidos,

Amado Batista e Mano

Do povo sempre queridos.

28 

Por todo esse período

A poesia chega aos lares

Com Gastão, Antônio Borges,

Letácio e Adonias Soares

Estes até já morreram

Às famílias meus pesares.

29 

Durante a repressão

Do Regime Militar

Um nosso concidadão

Dele não pode escapar

Se chama Maurício Anísio

Um cidadão exemplar. 

30 

Maurício hoje é um símbolo

Que deve ser respeitado,

Ele pagou alto preço

Por não ter se acomodado,

Enfrentou a Ditadura

E por ela foi torturado.

 31 

Hoje o Brasil está livre

Do  regime opressor

Muitos deram suas vidas

Sem direito a uma flor

Outros desaparecidos

As famílias sentem a dor.

32 

O mito da educação

Em Santa Cruz é Ribeiro

Nunca em cima do muro 

Declarava-se primeiro

Grande comunicador

Do rádio nosso timoneiro.

33 

Ribeiro sabia muito

Sua opinião era forte

Dominava todo tema

Línguas, política, esporte

Cumpriu bem tudo o que fez

Pena que lhe veio a morte.

34 

Um dos fatos importantes

Que veio a acontecer

Foi a energia elétrica

Que Santa Cruz passa a ter

A João Goulart e Aluízio

O povo quis agradecer.

35 

Santa Cruz foi a primeira

A receber neste Estado

Vindo lá de Paulo Afonso

A ficar eletrificado

Era sessenta e três (1963)

Dois de abril inaugurado.

37 

Por aqui também passou

Um pacifista do mundo

Um homem sacramentado

Chamado Padre Raimundo

Cumpriu com o seu dever

Sério, reto e profundo.

38 

E na luta pela água

Da Lagoa de Bonfim

Vendo a coisa demorada

O padre disse assim:

“Adutora não, voto não.

Adutora sim, voto sim”.

39 

No ano oitenta e um (1981)

O lugar foi arrasado

Causando grande aflição

Principalmente do lado

Da ponte do Paraíso

Levando todo o Mercado.

40 

Uma enchente medonha

Causou o desabamento

Foi lá em Campo Redondo

Que caiu chuva com vento

Desceu com aquele açude

Demorado sofrimento.

41 

Mais um fato importante

Merece ser relembrado

Foi a chegada da água

De Bonfim daquele lado

O povo deste lugar

Estava necessitado.

42 

O Governo Garibaldi

Botou o plano em ação

O Prefeito Dr. Cabral

Exerceu boa pressão

E Monsenhor Expedito

Grande mobilização.

43 

Não podemos ser injustos

E não mostrar a coragem

De um homem lutador

E que tem grande bagagem

Formando opinião

Levando sua mensagem.

44 

Junto com o Monsenhor

Fez a coisa acontecer

Mobilizou toda gente

Pra aquela água trazer

O grande  Hugo Tavares

A quem quero agradecer.

45 

Ainda me lembro o dia

Que isso aconteceu

Era trinta de setembro

Em Noventa e oito se deu (1998)

A água chega à cidade

Grande festa ocorreu.

46 

Lugar bom pra se viver

E área de transição

Entre o sertão e o mar

Já foi terra de algodão

Temos na agropecuária

Hoje nossa ocupação.

47 

É vizinho de Japi

De São Bento bem pertinho

Divisa com Sítio Novo

E Tangará no caminho

De Natal a capital

Terra que tenho carinho.

48 

Não podemos esquecer

Outras cidades decentes

Coronel e Jaçanã

Situados mais a frente

Campo Redondo e Lajes

Terras de povo contente.

49 

A feira de Santa Cruz

A maior da região

Há tudo que se procura

Na feira não falta pão,

Verduras, frutas, farinha

E lugar de diversão.

50 

Depois de falar da feira

Falaremos de cultura,

Pois havendo incentivo

Haverá desenvoltura

Nossos artistas locais

Fazendo cultura pura.

51 

Existe aqui cantadores

E artistas de verdade

Grupos de capoeiristas

E bois-de-reis na cidade

A poesia aqui tem vez

É de muita qualidade.

52 

Aqui a nossa homenagem

A dois Antônios especiais

Seu Antônio da Ladeira

O boi-de-reis ele faz

E a seu Antônio Borges

Que da poesia é às.

53 

Ao grande José Antônio

Que é um bom cantador

Aqui nossos cumprimentos

Por demonstrar o valor

Da poesia popular

Que ele é defensor.

54 

Outros grandes escritores

Merecem ser bem lembrados

Hélio Crisanto e Marcos

Cavalcanti são falados

Zé da Luz e Maroquinha

São Poetas respeitados.

55 

Outro grande expoente

Da cultura popular

É Gilberto Cardoso

Que veio a despontar

Dentro da Literatura

Em todo solo potiguar.

56 

Quero aqui encerrar

Este primeiro cordel

Pra falar de Santa Cruz

Agradeço a Deus do céu

Que me deu inspiração

Pra cumprir este papel.



João Maria de Medeiros é cronista, poeta cordelista e educador.


















2 comentários:

  1. Parabéns João Maria...
    Ficou bom de ler com seis versos...
    Essa inovação de colocar a data entre parênteses ficou muito bom, ainda não tinha visto.
    Não ficou cansativo e já repassei para um bisneto de Theodorico que é casado com minha sobrinha.

    Bravo!

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  2. Muito obrigado, Heraldo Lins.
    Meu pai , José Estevam Neto tambémé é de Carnaúba do Dantas.

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