quinta-feira, 6 de novembro de 2014

BELOS VERSOS DE MARIANA TELES


GALOPE À BEIRA-MAR 

Meu verso reúne costumes de um povo
Que nasceu na sombra do sertão valente
Fala das histórias de antigamente
Contadas nas rimas de um poeta novo
Quem ouve uma vez quer ouvir de novo
Que o verso é do mundo do céu e do ar
Tem marcas bonitas do improvisar
Relembra a cadência do rei do baião
O retrato vivo da cor do sertão
Longe das areias da beira do mar

Eu sou de uma terra de gênios poetas
Doutores sem letras, sem togas e anéis
Que às feiras exibem varais de cordéis
Escutando as histórias de antigos profetas
Matutas bonitas e analfabetas
Que aprendem primeiro cortar, costurar
Doutora nas prendas de cuidar do lar
Que prendem cabelo com laço de fita
E quanto mais simples fica mais bonita
Do que essas outras da beira do mar

No pé de uma serra nasci escutando
Aboio, toada, forró, cantoria
Acordava junto com o romper do dia
E na morte dele tava me deitando
Durmo numa rede com o pé balançando
A bíblia que eu leio me ensinou cantar
E se  Deus de novo na terra voltar
Procurando rastros perdidos no chão
Vai achar pegadas no pó sertão
Longe das areias da beira do mar

Nasci envolvida no véu do repente
Sentindo os sopapos do som da viola
Onde o verso nasce parecendo mola
Quando um vai pra trás vem outro pra frente
Meu vestido é feito como antigamente
Vendo a hora a barra no chão se manchar
No couro ou na sola aprendi andar
Criei-me na terra longe do asfalto
De saia comprida sem sapato alto
E não me acostumo na beira do mar.

O shopping da gente é dia de feira
A lona se estira no chão da calçada
Num chapéu de palha já descosturada
Uma banda falta a outra é inteira
Nossa cafeteira é uma chaleira
E um pano limpo pra café coar
Eu inda pastoro pra não derramar
Um fogão de lenha que meu avô fez
Mesmo assim não troco nesse de vocês
Pois café não presta com gosto de mar.

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