Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia”. Este é o primeiro parágrafo de um belo texto da escritora Marina Colasanti: Eu sei, mas não devia. O texto é um misto de simplicidade e profundeza que merece ser lido e relido sempre.

Quanto a mim, em meio a minha pequenez e insignificância, existem dias em que não me contenho e  me liberto quando escrevo. Sinto certa satisfação com isso. A minha motivação desta vez decorre da inquietação e manifesto por parte em especial de alguns jovens de minha cidade, nas redes sociais, que têm expressado certa insatisfação e consequentemente reivindicado um olhar mais focado nos valores de nossa terra. Essa inquietação em não querer se acostumar e que não deviam, apontando , buscando espaço e reconhecimento, parece-me bastante salutar, deve ser estimulada e me dá a sensação de que são dignos e devem ser ouvidos.
Não quero nem me alongar com o livro “Quem tem medo de papangu?”, da escritora Goimar Dantas, de origem Japiense, onde nele se divulga o nome de Japi, homenageia pessoas de Japi e resgata aspectos de nossa cultura local. Parece-me justo, porém, que seu livro chegue às nossas escolas, a exemplo do que acontece Brasil a fora, pois se antes era pela escritora, com seus inúmeros livros publicados e reconhecimento lá fora, agora ainda mais por este, bem mais nosso e com todos os primores e requintes daqui.
Exatamente neste aspecto somos ainda apáticos, insensíveis e lentos, sem a rapidez somente com que aderimos fielmente e logo cedo ao Halloween e sua sedução globalizada de mão única, em nossa patética incoerência de errantes, de emancipação sem bandeira de orgulho e aparentemente sem guia no jardim, já que nos faltam informações precisas sobre quem de fato foi designado para juntar num só lugar e cuidar de nossas flores: todos os nossos Lucas, Santanas, Leandros, Nildos, Geraldos, meu compadre Washington japiense, nossos juniores dentre outros com nossas Marias… e todas as Marias que vão com as outras. E é daqui que vai a minha reverência pelo dinamismo dessa criação,àqueles que recriam, redescobrem com desdenho ao desenhar e redesenhar o mundo, que inventam ou reinventam e à geração dos que se dispõem especificamente em decifrar essas coisas, para cantá-las, decantá-las em poesia, ou simplesmente descrevê-las.
Enfim, a valorização do que é nosso é o primeiro ponto e que passa inicialmente pelo nosso reconhecimento, depois vem o zelo, a preservação, o cuidado, sendo bem mais justo que participemos dos resultados quando primeiro participamos do processo. E embora nosso grito seja ainda um grito tímido, mostra num primeiro momento o sentimento de pertencimento e de que não vivemos em terras de ninguém ou alheios ao que acontece aqui do lado. Vejo nisso parte de um processo que espero ser sintomático de que queremos participar ativa e intensamente de tudo que nos diz respeito. Ao menos, espero!
E assim é, e assim que tem que ser, e assim que seja sempre: a terra da gente, aos olhos da gente, transformada num mostruário de singularidades, detalhes, peculiaridades que só nos dizem respeito, pois só minha terra tem primores que tais não encontro eu lá. E eis que não sou adepto da filosofia de se encarar circunstâncias adversas para só então perceber que era feliz e não sabia: O pão nosso eu quero aqui, daqui e a minha poesia linda de cada dia eu quero hoje.
 Maciel