Hoje deram a machada final numa patrimônio sentimental daqueles que viveram a quadra municipal de Santa Cruz. Hoje a apatrol derrubou tudo, cobriu o mundo de poeira. Semelhante ao fim do Machadão. Vi agora às 16h30min, quando passei a caminho da academia. Perguntei ao Dr. Rocha Filho o que seria ali construído, e, com clareza, elegância e concisão respondeu-me, " Acho que vai ser .... num sei direito, não. De início vai servir para o parque de Everaldo, depois .... sei não!" Lá estava também o Dr. Medeiros. Aí pensei, talvez seja uma nova elevação da caern/saae, ou não, talvez uma Secretaria Municipal nova, a do Combate às Muriçocas, ou não, talvez um estacionamento para os jegues, ou não, talvez, um espaço para o grande encontro salutar dos paredões de som, ou não, quem sabe o point dos carroceiros, ou não, uma arena para os fanáticos religiosos, quem sabe?! Mas, please, uma praça nova NÃÃÃÃÃOO! Fiz uma crônica em 2006 sobre o abandono dessa quadra que publiquei no Diário de Natal e no Folha do Trairi:
A QUADRA E OS QUADRADOS
“O que é isto, companheira?” Foi a minha primeira reação, ao adentrar as dependências da Quadra Municipal Antônio Henrique de Medeiros. Aquele pequeno, mas não menos nobre espaço esportivo, está num abandono que faz dó.
É normal que os atletas procurem um espaço mais adequado e moderno para a prática esportiva, como o Ginásio Poliesportivo Marcílio Furtado, por exemplo. Não devemos jamais esquecer, entretanto, aquilo que ajudou a construir a nossa formação, o nosso caráter, a nossa história.
A Quadra Antônio Henrique de Medeiros é membro da família de todos os atletas e torcedores que viveram um caso de amor com o esporte de Santa Cruz, em especial, o futsal. Dar-lhe as costas agora é, no mínimo, um ato de ingratidão, e, quando parte do órgão público responsável pela sua manutenção, é um descaso criminoso.
“O que é isto, companheira?” Foi a repetição de meu espanto ao ver a minha Quadra sem platéia, sem as grandes jogadas, triste, suja e fedida.
Sentei-me na arquibancada vazia e silenciosa e lembramos juntos os grandes campeonatos organizados por Ribeiro na década de 1970. Lembramo-nos também dos jogos estudantis; do Comercial de Cebolinha e de Beval; do Técnico de Colega, de Élcio, de Zia e de João de Pedro de Tico; do União de Noroelho, de Trigueiro, de Zé Alaíde, de Tino, de Deusdete, de Ebinho e de Leão; do Barcelona de Carlinho de Valdomiro, de Marcílio Anísio; da Quadra lotadíssima; de papai a vibrar com a boas lutas de Bernadão e Cirilo; do voleibol de Bulhões, de Marcão, de Gatocheba, de Ana Alice, de Marlene e de Noymane.
Fiz-lhe lembrar que hoje, apesar de termos um espaço esportivo mais adequado e moderno, não há mais o gosto adocicado no bolo das grandes festas de outrora.
Queixou-me ela, baixinho e cansada, que ventilou-se a possibilidade de trocar de nome e até de sua demolição para dar lugar a mais uma praça. As praças não são como as praças esportivas. Não propiciam o surgimento de atletas. Pelo contrário, pode ser ponto de encontro de bebedeira e de prostituição.
Disse-lhe que as canetas da incompetência podem até escrever tamanha insanidade, mas nunca riscarão a qualidade de patrimônio histórico tombado pelos corações de todos aqueles que viveram a Quadra Municipal Antônio Henrique de Medeiros.