domingo, 30 de março de 2025

SE UNIDOS NÃO SOMOS FORTES, IMAGINE DIVIDIDOS - Gilberto Cardoso dos Santos

 



SE UNIDOS NÃO SOMOS FORTES, IMAGINE DIVIDIDOS

(Gilberto Cardoso dos Santos)


Graças à cooperação, 

Construímos monumentos. 

Andorinha faz verão 

Somente em agrupamentos. 

Evitar tola peleja 

É necessário na igreja 

Também na vida privada 

E na prática dos esportes. 

Unidos, nós somos fortes; 

Divididos somos nada.

 

Dividir é necessário 

Para somar em bondade.

Em nosso viver diário, 

Evitemos a maldade.

Multipliquemos o amor,

Amenizemos a dor

Dos irmãos de caminhada,

Tão carentes de suportes. 

Unidos nós somos fortes;

Divididos, somos nada.

 

Quem no egocentrismo aposta 

Tem um palpite incorreto.

Gosto de Nonato Costa 

Junto de Nonato Neto.

Quem vive em sociedade 

Busque a solidariedade 

E não vida desregrada 

Que não tem éticos nortes.

Unidos, nós somos fortes; 

Divididos, somos nada.

 

Alguns que são narcisistas

Dizem: nada de união.

Outros que são pessimistas

Descartam cooperação.

Num cordão não confiamos,

mas se a três deles dobramos

Uma corda está formada

e pode evitar más sortes.

Se unidos não somos fortes,

Divididos somos nada.

 

 Livros do autor:


Gmail, Instagram e Facebook: gcarsantos



sexta-feira, 28 de março de 2025

SORRISO DA SALVAÇÃO

 


SORRISO DA SALVAÇÃO 


Visitando uma livraria, percebi quantas ideias ainda são registradas em papel. Homens e mulheres, até de lugares distantes, estavam presentes com seus escritos, acreditando que eu estaria disposto a acolhê-los.

Minha vontade era poder comprar tudo para jogar no lixo: livros em quadrinhos, "Diário de um Banana", até a guerra entre a Rússia e a Ucrânia já estava no além-prelo. Dentro da cena, algumas mulheres jovens olhavam o acervo, e a vendedora, de soslaio, perguntando-se o que eu estaria fazendo digitando sem comprar nada. Uma jovem, vestindo preto e com armação num rosto sério,  dirigiu-se diretamente ao caixa com duas ideias nas mãos. Tudo muito bem arrumado, pensei, depois de olhar atentamente. A jovem voltou e devolveu os livros à prateleira, resmungando baixinho depois de conferir os preços.

Um casal de mulheres, de mãos dadas, se aproximou do local onde eu estava. Uma ligação telefônica de parentes, lembrando-me do meu aniversário – apenas com dez dias de atraso – fez-me voltar à realidade de, como todo mundo, viver sendo vítima do tempo.

Um grupo de garotas chegou falando com intensidade além dos decibéis permitidos, elogiando as obras que haviam lido. Doeu nos tímpanos ouvir aquela euforia de jovens que se preocupavam apenas em blá blá blá. Ainda bem que fui recompensado por uma delas, em silêncio, olhando e sorrindo em minha direção. 

A vendedora me fitou, fingindo arrumar o que não precisava ser arrumado. "Disfarça", teriam dito a ela no treinamento. Circulando, ela pensou em me dizer, mas o filtro de vendedora a impediu de expressar seu pensamento.

Harry Potter ainda estava na gôndola do supermercado de aventuras, presente em todos os formatos de capa dura, numa seção completa dedicada a mentiras para entreter. A palavra escrita não sai de moda, pensei, aprofundando-me na reflexão sobre quantas pessoas lucram fazendo com que ideias sejam passadas adiante. Os editores, as gráficas e todo o resto, empenhando-se para que o papel com palavras chegue aos olhos sedentos por algo além de vídeos.

Subi a escada e dei de cara com uma cafeteria. Sacos de lixo na entrada, porém ninguém para me atender. Olhei em volta e dirigi-me ao balcão. "Já fechou?" Com muita calma, consegui atrair o olhar de uma mulher de branco. Ela balançou a cabeça, confirmando. Uma outra levantou-se, mostrando todos os trinta e dois dentes sadios. "Fechou porque hoje é dia de dedetização. É necessário", disse ela, tentando justificar o motivo de estarem fechando mais cedo. Tentou manter o sorriso de asiática, mas logo se recompôs quando percebi, sem falar nada, que ela deveria ser a gerente. Desci os degraus quase dando um encontrão no carregador dos sacos de lixo.

Voltei ao salão dos livros. As jovens leitoras já haviam ido embora, levando suas falas intensas de "já li" e "depois te empresto". Sentei-me no banco em frente à livraria. Uma moça passou, falando para as outras que iria descer a escada porque tinha medo de elevador. Um rapaz, com a farda da empresa de leitura, postou-se perto. "Será que está me vigiando?" Não, não estava. Apenas esperava a amiga que o acompanhou no final do expediente. 

Levantei-me e saí, pensando em uma das garotas que cruzou o caminho desta escrita. Ela nem sabia que estava prestes a explodir, pois minha missão era acionar o dispositivo preso ao corpo. O que me fez mudar de ideia foi aquele sorriso. Ah, que sorriso!"


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 27.03.2025 - 22h10min.

domingo, 23 de março de 2025

REALIZAÇÃO DO APOESC RECITANDO O SERTÃO EM 2025

 


Significativo número de pessoas compareceu ao evento


Expressivo público que ficou até o final

APOESC Realiza a Sexta Edição do Show Poético-Musical “Recitando o Sertão” em Santa Cruz-RN

Na noite do dia 22 de março de 2025, o Teatro Candinha Bezerra, em Santa Cruz-RN, foi palco de mais uma inesquecível edição do show poético-musical "APOESC Recitando o Sertão", realizado pela Associação de Poetas e Escritores de Santa Cruz (APOESC). Em sua sexta edição, o evento celebrou a cultura do sertão através de apresentações predominantemente autorais, emocionando o público presente com poesia, música e homenagens a grandes nomes da literatura e da música nordestina.

O espetáculo prestou tributo aos escritores Rosemilton Silva, José da Luz e Vital Farias, além de destacar composições autorais de artistas locais, como Hélio Crisanto, que apresentou músicas criadas em parceria com Galvão, Zeca Brasil, Camilo Dantas e Antony Camilo, bem como obras de Gilberto Cardoso.

O evento foi patrocinado pela Lei Aldir Blanc e pelo Ministério da Cultura, com o apoio da Secretaria de Cultura de Santa Cruz-RN, representada por Marcos Silva e sua capacitada equipe. A construção do cenário contou com a colaboração essencial de Beto, Tiago e Naldo, que deram um toque especial à ambientação do espetáculo. A Ranieri, sempre solícito e presente, o grupo agradece. 

A apresentação e a conclusão do show ficaram por conta do jornalista Robson Freitas, de Tangará-RN, que também se destacou pelas filmagens, entrevistas e registros fotográficos que eternizaram os momentos mágicos da noite.

Destacamos também o belo trabalho de cobertura do evento feito pelo comunicador Lenilson Oliveira, da Web TV Santa Cruz.

Destaques Artísticos e Agradecimentos
O elenco do espetáculo reuniu poetas, declamadores, instrumentistas e cantores que encantaram o público: Hélio Crisanto, Gilberto Cardoso, Adriano Bezerra, Liane Bezerra, Andressa Nascimento, Regina Thelly, Isabele Karoline, Diego Cassiano, Tiago e o jovem talento revelação, que emocionou a plateia com sua pequena sanfona. Trata-se de José, filho de Danilo e de Raquel, agradável surpresa do APOESC Recitando o Sertão.

A Rádio Santa Cruz, por meio de João Fernandes e Édipo Natan, merece agradecimentos especiais pelas entrevistas que resultaram em ampla divulgação do evento. O empenho da equipe de som de Max e Franklin e a iluminação idealizada por Tiago também também merecem destaque, pois garantiram uma experiência audiovisual impecável.

A APOESC expressa profunda gratidão ao público, que lotou o teatro e permaneceu até o fim, incluindo aqueles que viajaram de outras cidades para prestigiar o espetáculo.

Encerramento em Grande Estilo
O "Recitando o Sertão" reafirmou o poder da cultura sertaneja e o talento dos artistas da região. Em meio a aplausos calorosos e emoção à flor da pele, a noite ficou marcada como mais um capítulo memorável na história da APOESC e da valorização da arte nordestina.

Parabéns a todos os envolvidos pelo sucesso do evento e pela celebração da essência cultural do sertão!



Apresentação da música "Zé da Luz, um ser de luz", da autoria de Gilberto Cardoso




A talentosa declamadora, cantora e poetisa Andressa Nascimento



 José e Diego Cassiano tocaram o coração do público


Lenilson Silva, da Santa Cruz TV, entrevistando Liane

Isabele Karoline declamou belos versos



Regina Thelly encantou com músicas de Hélio e de Rosemilton.


 O jornalista Robson Freitas, sempre atento aos detalhes



Regina Thelly e seu esposo Miguel Borges


Robson na abertura do evento

Irmãos de Rosemilton Silva, homenageado no evento



Andressa, Isabele, Liane, Adriano e Robson Freitas


Presença de Marcos Silva (secretário de cultura) e de Ritinha (conselheira tutelar)


terça-feira, 18 de março de 2025

POSSO FILMAR?

 


POSSO FILMAR?


A cada dia, perco minhas memórias. Já nem sei quem sou, pois minhas referências foram perdidas durante os acessos às redes sociais. Será que isso está acontecendo com as outras pessoas? Não sei, mas sei que ninguém olha para mim como olhava antigamente. Agora, o celular é mais importante do que eu, e só me resta também fingir que estou acessando a telinha.

Fico teclando, ouvindo mulheres falarem abertamente sobre suas relações sexuais com a maior naturalidade possível, algo impensável há vinte anos. Agora, tudo pode, pois o mais importante é gerar likes, sem se importar nem um pouco com a moral ou os conselhos das vovós, que também se tornaram conteúdo, com suas demências, mal de Alzheimer etc. Quem tem filho com deficiência, muitas vezes, usa-o para manter sua conta em alta, mostrando vídeos daquela realidade que antes era digna de pena.

Na era das redes sociais, poder mostrar a realidade, por mais dura que seja, é motivo de alegria. Estamos vivendo na era da sem-vergonhice, não que eu seja contra, pelo contrário, até curto isso. Essa mudança de comportamento, em que o feio e o imoral eram trancafiados nos conventos, deixou de existir graças ao celular, que transforma todos em atores e atrizes na grandiosa festa digital.

Que bom que o celular chegou para dar alegria a quem vivia cercado de serras, pântanos e lixões. Catador de lixo com canal na Internet, mostrando sua labuta, é o mais comum. Um elogio aqui, outro acolá, dá gás para que ele continue na luta. Uma prostituta, saindo com caminhoneiros, também transforma seu trabalho em algo digno. Ou seja, os costumes viraram de ponta-cabeça.

Os manda-chuvas ditatoriais, para não ficarem para trás, resolveram entrar em cena com ameaças de bomba atômica. Tenho quase certeza de que a terceira guerra mundial será toda filmada. Resta saber quem sobreviverá para dar like.

Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 18.03.2025 - 16h04min


quinta-feira, 13 de março de 2025

RESENHA DE “OS MISERÁVEIS EM CORDEL" - Nailson Costa



RESENHANDO OS MISERÁVEIS EM CORDEL, de Gilberto Cardoso

Lavoisier, o filósofo, o químico - o não político partidário, governador, senador, conquistador, pegador, de nosso RN - dia desses disse, “nada se cria, tudo se transforma”. É bem por aí mesmo. Eu acabei de ler o livro do meu amigo, o santa-cruzense de Cuité-PB (ou seria do cuiteense de Santa Cruz-RN?), Os Miseráveis – em cordel -, e fiquei encantado com o talento, a categoria, a destreza desse maravilhoso poeta, membro da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel! O cara vestiu o best seller, Os Miseráveis, romance social, escrito em 1862 pelo escritor francês Victor Hugo, com as roupas simples do gênero literário narrativo, poético nordestino, e tão nosso de cordel. Ao começar a leitura, pensei; “vou dar uma passadinha por uns 30 minutos, tendo em vista que eu já havia lido o original e visto o filme, e depois o retomo, quando tiver mais tempo”. Enganei-me! Cara, as rimas se encontram com tanta leveza, paixão e conexão, gerando um ritmo cadenciado, sonoridade digna de um coro, um uníssono oral, que mais se parece casais no mais sublime acasalamento de suas núpcias, assim, macias e bem redondilhas, tudo ajustado e encaixadinho em sua métrica irretocável! As suas 175 páginas foram devoradas em menos duas horas! É o que eu sempre digo, o artista é um químico que sabe como recriar, quer dizer, transformar, tudo aquilo que ele capta do interior de seu interior, e/ou do exterior de seu exterior, e o funde, numa fissão binária ou não, em seu laboratório químico de artes! E eis a arte fecundando a vida e a vida transformando a arte! Ah, e sobre a narrativa, a história em si, recomendo a leitura desse maravilhoso livro de Gilberto!

(Nailson Costa)



José Nailson Costa é cronista, contista, poeta e profundo conhecedor da literatura potiguar e brasileira. É autor do livro Conto Crônicas Com Dó Maior





O CINEMA DO SERTÃO: DA ESCASSEZ À BONANÇA - Washington Ribeiro

 


O PORQUÊ DESTE CORDEL

A natureza, como um cinema da vida real, me mostrou um filme que, de maneira profunda, ficou gravado em minha mente: cada cena, cada detalhe, cenário, enredo, atuação, emoção... Sentimentos diversos e intensos.

Retratava a saga do vaqueiro para alimentar e proteger o rebanho durante uma seca impiedosa. Essa história se passava no sertão nordestino, onde, em um cenário abrasador, sob uma rotina diária ininterrupta, armado de foice, lança e outros atributos... tudo forjado na garra, na fé e na esperança..., seguia firme o vaqueiro, vencendo, dia após dia, verdadeiras batalhas até o ápice final, quando chega o tão esperado inverno e sana todas as dores.

Como elementos principais destacavam-se: o sertão, o vaqueiro, o rebanho, a seca, a chuva, a natureza, a esperança, a fé... Essa mistura tem uma ligação muito forte, fonte inesgotável de inspiração, material genuíno para o poeta. - Washington Ribeiro

 

 

O CINEMA DO SERTÃO: DA ESCASSEZ À BONANÇA

Ao ver a seca assolando,
O vaqueiro fica alerta.
O laço da angústia aperta,
Com o pasto se acabando.
Reservatórios secando,
O prenúncio é de amargar...
Vendo a esperança acabar,
O tempo desce a ladeira;
A seca fecha a porteira
E não deixa o inverno entrar.

Vê-se o sol, escravizado,
Aguçar sua rotina.
A cor cinza predomina
Sobre o solo esturricado,
Num cenário desenhado
Pela seca impiedosa.
Mas, de forma majestosa,
Forjado em superação,
Segue firme na missão
O vaqueiro em "verso e prosa".

O vigor e a inteligência
Vão andando lado a lado
Para alimentar o gado
Com bravura e competência.
Exercita a paciência
Numa rotina de horário;
Segue firme o itinerário,
Armado de foice e lança,
E, nas chamas da esperança,
Vai queimando o calendário.

No palco vai atuando:
Queima espinhos, corta palmas...
Sem ter plateia, sem palmas
E sem câmeras filmando...
Só a mente registrando
Cada cena dessa lida,
Dia a dia repetida.
E mesmo no anonimato,
Vai cumprindo ato a ato,
Vencendo as secas da vida.

E tem a pele queimada
Pelo sol e pelas chamas.
A seca escreve seus dramas,
Põe em cartaz na jornada.
Embora a mente cansada,
Traça planos pra missão...
Ser forte? A única opção.
De mão dada à experiência,
Abraça a resiliência
Com os braços da razão.

Cansa o corpo, cansa a mente!
Seca traz danos imensos,
Momentos tensos e intensos;
Da paz, sufoca a semente.
O vaqueiro segue em frente,
Sua fé em Deus não cansa.
Segue o ritmo, dança a dança...
Certo do fim desse entrave,
Pois o inverno traz a chave
Que abre as portas de bonança.

Vai tangendo o dia a dia,
Aboiando a persistência.
O vaqueiro é resistência;
Para o Poeta, Poesia.
E vislumbrando alegria,
Na mente vem trovoada,
Apascentando a jornada.
Nessa lembrança sonora,
Que traz um filme de outrora
Com emoções de invernada.

Bons tempos se aproximando:
Previsões são promissoras.
Fauna e flora, detectoras;
Natureza anunciando.
No mandacaru florando,
Na formiga que trabalha,
Cada fator é navalha
Golpeando essa enxaqueca,
Cortando os pulsos da seca,
Datando o fim da batalha.

O vaqueiro faz contagem,
Ansiosamente espera...
Um certo receio impera,
Mas entende ser bobagem,
Pois logo terá pastagem,
A paisagem restaurada.
Segue na mesma pisada,
Reta final "dá o gás"...
Planta a semente da paz,
Sonha em vê-la germinada.

Com emoção, faz pedido
A Deus Pai, o Criador.
Reza com todo fervor,
Vendo o torrão ressequido.
Feito filme repetido,
De carona com a hora,
Esperanças indo embora...
Mas, no horizonte, acenando,
Alegre nuvem, chorando,
Alegra o peito que chora.

E chega a chuva esperada!
Então, a saga se encerra...
Vê-se a paz vencendo a guerra,
Vê-se a seca derrotada!
Trovão fazendo zoada,
O relâmpago frequente;
Inverno chega imponente,
Abraçando a natureza...
Desce verso em correnteza
Pelo riacho da mente.

As nuvens no firmamento
Despejam bênçãos divinas.
Da seca, fecha as cortinas,
Decretando encerramento.
É fim do mau elemento,
Bonança entende o recado.
O Sertão é transformado,
Pois chuva derrama graças;
Da paz, retira as mordaças,
Nosso inverno é decretado.

Numa descarga medonha,
Relâmpago no horizonte
Risca o céu, clareia o monte —
Tudo que o vaqueiro sonha.
É como a dizer: disponha!
Por seu ato de bravura.
Refazendo-se a Natura,
O vaqueiro fica vendo
As mãos da chuva tecendo
Um tapete de fartura.

Com a chuva justiceira,
Canta em festa a passarada.
Seca bate em retirada,
Cabisbaixa, sai ligeira.
Vibra a natureza inteira,
O suplício terminou...
Pastagem se restaurou,
Reservatórios enchendo...
Inverno vem devolvendo
Tudo que a seca roubou.

Vem a chuva, vão-se as dores,
As mazelas da estiagem.
Pinta de verde a pastagem,
Pondo a paisagem em cores.
Natureza, rindo em flores,
Canta canção afinada,
Partitura desenhada
No tinido da biqueira,
No chorar da cachoeira,
No cantar da passarada.

A chuva que lava o chão
Também lava a mente, a alma,
E, ao mesmo tempo que acalma,
Acelera o coração.
Na goteira da emoção,
O sertanejo faz prece,
Com devoção agradece
Pela graça recebida.
— Natureza abastecida
De tudo nos abastece.

Washington Ribeiro
Barcelona-RN

 



Nascido em 04 de março de 1976 na cidade de Barcelona, RN, José Washington Ribeiro da Silva é um apaixonado pela arte da palavra. Filho de José Francisco da Silva e Maria do Socorro Ribeiro da Silva, Washington reside em sua terra natal e dedica-se à educação do município.

Washington participa ativamente de eventos culturais como saraus e feiras literárias, tanto em escolas municipais quanto estaduais. Sua voz ecoa nos palcos, recitando poemas e incentivando a leitura.

A paixão pelas palavras o acompanha desde a infância, quando, como um ouvinte atento, absorvia a beleza da linguagem e, em momentos de inspiração, construía versos soltos. Foi em 2013 que Washington decidiu dar forma aos seus pensamentos, transformando suas ideias em poemas. Seus versos abordam temas como a enigmática natureza, a complexidade do ser humano, e a busca pela essência da beleza em sentimentos que brotam da mente e do coração.

Em 2019, Washington descobriu o mundo mágico da literatura de cordel, encantando-se com o desafio de construir poemas que obedecem à disciplina da rima, métrica e oração.

Para entrar em contato com Washington Ribeiro e conhecer mais sobre sua obra, você pode utilizar o

WhatsApp: (84) 9 8859 6282;

Facebook: Washington Ribeiro; 

Instagram: washingtonribeiro_s;

Email: washingtonribeiro76@gmail.com 

segunda-feira, 10 de março de 2025

ORDEM NA DESORDEM

 


ORDEM NA DESORDEM


Há dias em que me pego questionando a razão de viver. Para que nascemos? Essa é a pergunta sem resposta que acompanha a humanidade desde que o ser humano olhou para o próprio braço e se perguntou: o que tem aqui dentro? Não o rasgou para ver o que hoje chamamos de veias, ossos etc., devido à imposição da dor — essa sargento que dita as regras da autopreservação.


Acredito que, se houvesse um Ministério do Suicídio, onde as pessoas pudessem optar por deixar de viver, existiriam filas e mais filas de indivíduos querendo dar cabo da própria existência. Mas é proibido se matar ou estimular outros a fazê-lo.


Segundo a lei, é crime deixar a vida por vontade própria, mas não é crime sofrer as dores do câncer, suportar uma deficiência física com seu all-inclusive de discriminações e dificuldades, nem ficar sem ter o que comer. A lei é tão suicidante quanto o próprio ato de se matar.


Na Idade Média, se alguém não aceitasse trabalhar até a exaustão e optasse por finalizar o sofrimento por conta própria, sua família era torturada. A única forma para mantê-los sendo explorados era com essa ameaça.


Depois, percebeu-se a necessidade de um vigia para a própria vontade — e que fosse de baixo custo. Então criaram deuses para vigiarem a consciência dos desesperados, com o slogan de que a pior vida ainda é melhor do que morrer e ir para o inferno. Assim, tornou-se mais fácil formar um exército de esfomeados prontos para continuar trabalhando em nome da salvação da alma — outra invenção extraordinária. Criaram até um manual, com histórias ameaçadoras, para ser estudado nas sinagogas e, assim, inibir esses pensamentos desviantes.


Todos devemos pensar da mesma forma, ou seja, temer um ser que castiga aqueles que optam pelo livre-arbítrio. Seja artista, pedreiro... todos devemos ter a mesma consciência de que existe algo além do além, vigiando até nossos pensamentos. O único lugar onde há seres totalmente libertos dessa história da carochinha é em um berçário. Lá, já fomos livres para fazer o que bem entendêssemos, mas ainda não sabíamos qual decisão tomar.


Parece que essa indecisão ainda nos acompanha. Vivemos na esperança de que o amanhã seja melhor, mesmo com a ameaça da terceira guerra mundial, que nunca chega e nunca chegará, mas serve como uma forma de manter a humanidade entretida. Os Javés das presidências e tantos outros "Javezinhos" de cargos subalternos estão a serviço do capital econômico e religioso.


É preciso manter essas pessoas no poder para garantir que o medo permaneça por perto. Assim, todos do exército de reserva — que paga dízimo, imposto, pedágio, boleto etc. — continuam sem se rebelar. Essa é a estratégia para manter a ordem mundial nesse padrão que achamos normal. E, se não for assim, corre-se o risco de um Ministério do Suicídio passar a ser promessa de campanha, tornar-se realidade e, depois disso, o caos se instalar — pois a base da pirâmide social não mais aceitará sustentar o clero e a burguesia.


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal, 10 de março de 2025 – 08h42min

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

POR UM FIO - Bertin Di Carmelita

 


POR UM FIO


A luta por uma democracia

Está presa por um fio:

Fio do tempo

Fio de um tecido

Que fio a fio

Se trama sua malha

Fio dos anos da cor de chumbo

E no fio da navalha.


Agricultores, pescadores, extrativistas

Religiosos, operários, estudantes, sindicalistas...

Não foram poucos os que sofreram

Torturas e prisões ilegais

Desapareceram...

Para nunca mais 

Se meterem com a dita-dura


A democracia em sua forma

Real, leal, tão pura

Ainda hoje procura...

Por seus filhos

Seus homens e mulheres

Que sumiram no emaranhado dos fios


Do pau-de-arara 

Da vala rasa

Do choque-elétrico

Dos telefones, sem fio...

Seguindo em desafio

Sob a sombra da história

Sigo tropeçando em fantasmas

Assombrando-me com o som

Dos sobrevoos...


Mesmo assim:

Voo e vou

Juntando os fios da meada

Ligando os fios da estrada

Iluminando as memórias vividas

E não contadas

De nossas vozes sofridas

Silenciadas...


A democracia ainda é frágil

E sei que a justiça 

Quando não falha, é lenta

Mesmo assim eu confio...


A opressão ainda se apresenta

Anos e anos a fio!


A arte sobreviverá

A democracia também...

Mesmo estando por um fio!


Bertin Di Carmelita

Marabá-Pará, 20/02/25