domingo, 20 de abril de 2025

É MELHOR NÃO SENTAR MAIS NO BATENTE (Maciel Souza)

 


É MELHOR NÃO SENTAR MAIS NO BATENTE

(Maciel Souza)

 

Uma cena quase não é mais notada

Por diversos motivos que explico:

De TV a internet com fuxico

Tem tirado os vizinhos da calçada.

Muito medo de que surja assim do nada

De bandido a pequeno delinquente,

Cada um da calçada fica ausente,

Entre grades, cercas de alta voltagem,

Pois pra quem é refém da bandidagem

É melhor não sentar mais no batente.

 

Eu me lembro do meu tempo de criança

Quando à noite na calçada se sentavam,

Conhecidos volta e meia ali passavam,

Esta imagem guardo viva na lembrança.

Lá em casa, depois que se enchia a pança,

Fazia a fila, a meninada contente,

Pra tia Ciada, na calçada já presente,

Esperando minha mãe e vó Maria,

Mas hoje, o conselho que eu daria:

É melhor não sentar mais no batente.

 

Houve um tempo que um vizinho empolgado

Contava histórias que eram de assombração,

Sempre tinha no relato um caixão,

Cemitério ou lugar mal-assombrado.

Meu coração ficava acelerado

Na claridade só da lua reluzente,

O nosso medo era coletivamente

E bem maior só na hora de dormir,

Porém hoje, tenho que admitir:

É melhor não sentar mais no batente.

 

Outras vezes a leitura de cordel

Era pauta e alguém lia pra nós.

Uns adultos já cobertos por lençóis

Transitavam entre outros a granel

Para ouvir sobre o rei que era cruel

E o guerreiro que lutava bravamente,

Se havia ali algum incidente

Era quando uma bufa se espalhava,

Se a mãe visse uma chinelada dava

E o menino não sentava no batente.

 

É preciso hoje em dia ter cautela,

O bom senso precisa prevalecer,

Desde cedo, à tarde, ao anoitecer

Para assim evitar qualquer mazela.

Nesta vida estamos na passarela,

Submissos a tudo infelizmente,

Se o perigo cada dia é crescente

Mais cuidados precisamos sempre ter

Pra começo e o mal não nos deter

É melhor não sentar mais no batente.


MACIEL SOUZA






 

3 comentários:

  1. Até mesmo nos pontos mais distantes, nas fazendas, pequenos povoados, é preciso ter todos os cuidados, vez por outra aparecem assaltantes. Nossa vida não é mais como antes. Maciel, seu conselho é pertinente. Ninguém pode mais, displicentemente, ler cordel na calçada ou prosear. Bata papo através do celular. É melhor não sentar mais no batente. (Gilberto Cardoso dos Santos)

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  2. Grande verdade, grande amigo e poeta Maciel!! As pessoas estão presas em suas casas e os delinquentes soltos!!
    Bairros inteiros com portões fechados.
    Hoje é raro vê gente em seus , calçadas.
    João Maria de Medeiros Dantas

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  3. Boa! Maciel disse uma verdade com lleveza, beleza, ritmo e rima de nossa sociedade decadente, a de não mais podermos sentar tranquilos no batente! Valeu, mestre japiense! (Nailson Costa)

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