NO SÍTIO DE JOÃO BEZERRA
Eu quero pedir licença
E a Jesus inspiração
Para falar de um sítio
Daqui do nosso sertão
Seu valor não é medido
E assim é reconhecido
O maior da região
O seu dono é João Bezerra
Desse lugar de fartura
Cabra rico e poderoso
Homem de muita bravura
Por ser muito inteligente
Virou o mais influente
No ramo da agricultura
João Bezerra nesse sítio
Tem zelo e muito cuidado
Se for num ano de inverno
Nasce tudo avantajado
Um certo dia eu não minto
Tirou o bico de um pinto
Pra fazer cocho pro gado
Jerimum de trinta quilos
Pra ele é coisa pequena
Batata de três arrobas
Não tem a pesagem plena
Mandioca de dez braças
Manda jogar para as traças
Arrancar nem vale a pena
Cento e trinta garnisés
João engorda num chiqueiro
Cuidando diariamente
Pra lucrar muito dinheiro
Com xerém e fruta pêca
Mesmo num ano de seca
Ele exporta pro estrangeiro
As frangas do seu terreiro
Ninguém acreditaria
Quando estão aborrecidas
Botam três ovos por dia
Isso lá não é problema
Cheio de clara e de gema
Tem forma de melancia
Quando tem festa no sítio
Depressa mata um barrão
Chama mais de mil pessoas
Pra comer da criação
Após toda a comilança
Distribui pra vizinhança
O que sobrou da porção
Num ano de pouca chuva
Algaroba sai mirrada
Cada vagem que o pé bota
Dá quase uma tonelada
Com dois palmos de largura
Manga já nasce madura
Bezerra nasce amojada
Surucucu de dez metros
Ele diz e não se acanha
O maturi de um caju
Dá cem quilos sem castanha
Uma cobra de veado
Mede o dobro do cercado
Amigo é grande a façanha
João cria com muita luta
Quinze pebas numa loca
Cada um come por dia
Trinta quilos de minhoca
Não vendo algum empecilho
Se plantar um pé de milho
Já nasce dando pipoca
Certo dia num barreiro
João pescou uma piaba
Lhe digo não é mentira
Até hoje ele se gaba
Era tão grande o peixão
Que serviu de refeição
Pra toda a Cacaruaba
João sendo um sujeito sério
Não gosta de cambalacho
Plantou um pé de banana
Na barreira de um riacho
A carga foi tão pesada
Que colheu numa tacada
Mil bananas num só cacho
Pariu vinte seis cabritos
Uma cabra que João cria
Pesando dezoito quilos
Cada bicho que saia
A cabra com muito jeito
Botou um em cada peito
Pra não haver regalia
Desse sitio todo o dia
Sai jarras de goiabada
Carretas de tangerina
Carro pipas de coalhada
No oitão, pra seu deleite
Corre um riacho de leite
Que alimenta a meninada
Nesse sítio minha gente
Nasceu um pé de pimenta
Com dez metros de altura
Mas isso ele nem comenta
Quem for lá verá a prova
A plantinha ainda nova
Sua sombra é opulenta
Nesse sítio me acredite
Tem um pé de abacateiro
João testou uma enxertia
Cruzando com um cajueiro
Esse pé quando se zanga
Bota caju, uva e manga
Safrejando o ano inteiro
Lá no curral de seu João
Tem um bezerro injeitado
Que costuma tomar leite
Num tambor enferrujado
Ele sem nenhum estresse
Numa mangueira abastece
Pro bicho ficar cevado
Na lavoura ele cultiva
Mil alqueires de feijão
Mil hectares de fava
Quarenta de pimentão
Possui seiscentos bois
Por lá um grão de arroz
Parece mais um melão
Lá em João um pé de cana
É grosso que nem coqueiro
Botando folhas de açúcar
Servindo pro mundo inteiro
Por ser tão batalhador
Virou grande exportador
Criou fama de usineiro
João Bezerra tem um burro
Galopeiro e andador
Mais veloz do que um trem
Possui no rabo um motor
Com tanta vitalidade
Se houver a necessidade
Ele puxa até trator
Esse burro minha gente
Andava o nordeste inteiro
Carregando rapadura
Quando João era tropeiro
Certo dia um caminhão
Bateu no burro de João
Virou num despenhadeiro
Na plantação de coqueiro
É grande o contentamento
Com tantos cocos gigantes
Que ninguém dar vencimento
Com a grandeza da planta
Amigo a água era tanta
Que João fez encanamento
João Bezerra sempre foi
Um homem de muita fé
Certo dia plantou milho
Na véspera de São José
Mesmo com tantas formigas
Mais de trezentas espigas
João colheu em cada pé
Num dia de muita chuva
João se encheu se alegria
Quando o viu o pluviômetro
Esborrotando água fria
Ele esqueceu emborcado
E viu que tinha sangrado
Duas vezes num só dia
Certo dia no roçado
João ouviu um barulhão
Algo muito assustador
Como se fosse um trovão
Não contendo a agonia
João partiu uma melancia
Saindo dela um leão
Esse sitio ele não vende
Por ser grande a sua saga
Não tem comércio pra ele
Com orgulho João propaga
Podem fazer fuzuê
Nem mesmo São Saruê
Vai ocupar sua vaga
(Hélio Crisanto)
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