quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O RUIM COM RECHEIO DO PIOR - Heraldo Lins

 


O RUIM COM RECHEIO DO PIOR


A da Rússia começou e já caiu da moda. Agora, é a de Israel dando fôlego para que a terceira seja anunciada. Toda vez é assim. Mais uma guerra pipoca, aí todo mundo fica torcendo que ela se alastre vindo a se transformar na última tão esperada. 

No Brasil, já faz tempo que uma guerra civil funciona a todo vapor, então imaginem um lugar só com areia, vento e calor. Não dá outra. É conflito se transformando no melhor entretenimento assim como na periferia das grandes cidades.  

Armas dão status em todo lugar do mundo, e para um jovem sem perspectiva, morrer ou matar pouca diferença faz. O planeta está assim e vai piorar. Quem tem o poder das armas não admite ser oprimido, e tirar esse poder é quase impossível até porque muitos são beneficiados com a indústria de armas. As drogas são apenas mais um agravante que serve para dar força e neutralizar o medo na hora dos combates. 

Quanta cocaína está sendo consumida pelo Hamas? Só eles mesmos sabem. Do lado de lá também não tem santo. Nessa hora, a produção de narcóticos é bem vista, pois nesse tipo de atividade é preciso pessoas destemidas para apertar gatilhos em direção aos inimigos sem receio de receber balaços de lá pra cá; precisa-se de homens e mulheres dispostas a entregarem suas vidas em troca do pó bem refinado e puro. Em toda invasão, o item que não pode faltar são os estimulantes inibidores do medo. Não é por acaso que existem os que, não tendo tanta disposição para conviver no bem-bom com as mulheres, decidem ser suicidas por trás das barricadas.

Dar duro no trabalho para ter uma vida insignificante, empurra as pessoas também para o campo de batalha. A insatisfação com o cotidiano não é só uma característica inerente a uma pessoa que não teve oportunidades. Sonhamos com uma vida melhor, e tudo isso é motivo para impulsionar todos contra todos. Ninguém declara guerra se está bem resolvido. Isso muitas vezes passa pela questão da autoafirmação inerente a cada ego inflado pelo poder de destruir.

Durante muito tempo, os Estados Unidos tornaram público que tinham armas para destruir o mundo no atacado, só que esqueceram de controlar as indústrias que estão acabando com o referido mundo no varejo. Ninguém fala em planejamento familiar, já que quanto mais gente para morrer, melhor. A família se mantém escrava para alimentar o filho para depois enterrá-lo na cova que estava reservada para os mais idosos. 

Tem muita gente usando as sagradas escrituras para justificar que Israel seria atacada, e isso nos remete às inquisições onde os pagãos deviam morrer sob as bênçãos de Deus. 

Quando se fala em guerra, não se pode ignorar quais as crenças religiosas envolvidas no conflito. Será que o mundo seria melhor sem elas? Acredito que o leque de razões para manter os conflitos está sendo ampliado, e daqui a pouco haverá a guerras setorizadas, já que o exemplo maior é quem torce por um time de futebol se acha no direito de exterminar os do clube adversário. A briga continua ao nível de resmungos até as mais intensas atrocidades. 

Depois das últimas eleições, ficou bem definido quem é quem no jogo dos ódios políticos. Cada vez mais temos carência para acomodar os nossos de forma confortável, então abrir caminho será sempre o objetivo a ser alcançado, independentemente qual o meio utilizado. 

A faixa de Gaza é um exemplo muito claro de pessoas que moravam em uma casa e os de fora chegaram expulsando os proprietários para o quintal. Quem passou pela experiência de ter sua casa invadida que explique os motivos que os ucranianos não aceitam que os russos façam o mesmo com eles.

A invasão de um pelo outro, em qualquer momento da história, sempre serviu de estopim para carnificinas, e, depois de certo tempo, vem um acordo de paz fajuto que servirá apenas para que ambos os lados tomem fôlego e voltem para o campo de batalha com novas formas de destruição em massa.  

Matar dá audiência, e não é por acaso que os envolvidos estão registrando suas ações. A guerra também gera perguntas tipo: e quando for aqui perto? Devo comprar uma arma, construir um Bunker ou dar um tiro no próprio ouvido?

A febre da violência é fecundada e adubada em cada lar, basta ver que um irmão matou o outro só porque tinha curiosidade em saber como era destruir uma vida humana, independentemente se esse alguém o amava ou não. Repete-se a história de Caim e Abel e nós ainda ficamos estarrecidos com isso. É tão rápido a tsunami da violência, e ainda mais é a capacidade que ela tem de nos anestesiar, que já no outro dia havíamos esquecido essa barbárie.

Os médicos mortos na chacina da cidade do Cristo Redentor, nem imaginavam que seriam sorteados. A cervejinha descontraída lhes custou além do preço que estava registrado no cardápio. Nem sei se o dono do quiosque cobrou a conta dos familiares, mas deve ter agradecido aos céus por não estar naquele momento anotando o pedido de mais um tira-gosto. 

Aqueles profissionais viviam se aperfeiçoando com o objetivo de salvar vidas. Investiram em provas, plantões, até receberem uma amostra da grande derrota do Estado para a criminalidade.  

A guerra não só destrói prédios e mata gente, destrói também o padrão estabelecido da vida comum. Os psicólogos não têm muita utilidade em tentar sanar os traumas das crianças levadas pelos aproveitadores que existe em todo lugar. Com os pais mortos, é um prato cheio para quem vive aguardando uma chance de sequestrá-las. Aquelas cabecinhas, logo cedo, estão se dando conta que fazem parte de um mundo animal cheio de explosões, sangue e gemidos. Como era bom se ainda estivessem protegidos pela placenta.

Homens morrem deixando as mulheres cada vez mais carentes de alguém para amá-las, conversar e dividir suas lágrimas. Isso é a guerra. Assaltos, bullyings, boatos, fakes, tudo isso gerando o que estamos vendo em Israel, ou seja, a índole humana mostrando sua verdadeira face. São os descendentes de Adão e Eva fazendo o que sempre fizemos com grande competência.


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 10.10.2023 – 14h48min.



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