IDEIAS FORA DO AR
O sinal da internet ficou defunto por nove dias, ressuscitou por dois e voltou para a catacumba novamente. Amanhã resolveremos! E esse amanhã nunca chegava. Cancelei. Olhe, é porque estão roubando os fios, mas vamos reativar ainda hoje. Está cancelado.
Contratei uma com velocidade de 5G e a esperança de que não irão afanar os cabos. Os ladrões não têm interesse porque o cabo de vidro se esfarela ao cortar. Ah, tá! Vamos precisar quebrar o forro para estender a fibra. Pouco mais de meia hora depois, eu estava assistindo filmes sem ficar sendo obrigado a ver uma luzinha rodando.
A dependência para com os meios eletrônicos é tão grande que vi uma mulher correr com uma faca atrás de um funcionário que estava tentando impedi-la de continuar com a ligação clandestina. A gente não tem condições de pagar e esse merda ainda quer cortar o gato. Na cabeça dela, estaria justificada a facada que queria desferir contra o trabalhador. Pode faltar água, mas minhas fofocas, jamais.
Eu fiquei irritado quase tanto a mulher barraqueira. Ah, se eu pego esses noiados que estão me deixando sem internet. O primeiro pensamento passa pela violência, tão comum num bebê quando se retira a chupeta. A dos adultos, é a internet. Faça tudo, mas não os deixem sem.
As fofocas são do tempo da fumaça. Mesmo tendo um trabalho enorme para fazer o fogo, ninguém deixava de passar a informação adiante. Essa sede em saber como está indo as relações humanas, vicia. Você viu que viralizou? Se não viu, não pode participar das rodas de conversas.
Está nesse ponto a relação homem/informação, e comigo não podia ser diferente. Corria lá para a garagem, trancava-me dentro do carro para pegar um pouco do sinal do prédio. Já vai para a garagem? As reclamações pela minha ausência em casa se intensificaram. Até vieram me perguntar se eu estava de campana. Estou estudando! Fofocando, pensou a senhorinha que quer saber de tudo.
Continuei dando uma chance para a operadora que me deixou nas nuvens sem paraquedas até conseguir encher o saco da raiva para tomar a decisão de debandar. É barato pegar carona, só que é desconfortável. Resolvi pagar dez a mais e conseguir cinquenta. Agora há uma interminável lista de conteúdos ao meu dispor que nem tenho tempo para escrever muito.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 31.08.2023 - 08h37min.
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