terça-feira, 30 de maio de 2023

CAMINHANDO EM TEMPOS DIVERSOS

 


CAMINHANDO EM TEMPOS DIVERSOS 


Hoje amanheci nostálgico perguntando-me pelas mulheres que amei. Onde estão?, fiquei a fazer a relação de todas com a intensidade anotada na escala descendente do bem querer.

Também me lembrei dos amigos que foram sumindo ao longo do tempo. Olhei para o mar que há muito eu tinha vontade de morar em frente, no entanto não encontrei as respostas. 

Acho que foi a visão de dois amigos caminhando na praia que me fez sentir assim. Eles caminhavam fazendo-me recordar quando éramos jovens e íamos às festas juntos. Muitas garotas foram seduzidas pelas mensagens que eles me ensinavam a dizer, de forma poética, para impressioná-las. 

Noites e mais noites pelas estradas afora em busca de aventuras amorosas sendo que eles nunca deixaram de me acompanhar. Amanhecíamos o dia em rodas de conversas etílicas onde eu sempre enfatizava que a vida de casado era boa, porém a de solteiro era melhor. Confesso que falava assim por não conhecer ainda o sossego de um lar. Nem sonhava em estar aqui falando deles. Foram pessoas que marcaram muito a minha vida de adolescente dentro de um fusca azul na década de mil novecentos e oitenta. Eles tocavam e cantavam muito bem, motivo maior pelo qual eu sempre os mantive por perto.

Ontem, vi-os caminhando sorridentes em um vídeo ensaiado, mas sem o brilho de antigamente. Muito tempo se passou sem que eu tivesse motivos para me lembrar deles. Sei que não precisa agendar para a pessoa se recordar dos amigos, porém muitas vezes é necessário imagens marcantes para despertar esse passado. Eles surgiram no meu celular e me fizeram parar para analisar a cena deles suados. Isso me transportou para os bons momentos das serenatas em que eu os levava para cantarem na janela de uma pretensa nova conquista.

Os dois tiveram tanta influência na minha vida que passei a querer imitá-los. Comprei violão, aprendi suas canções usando-as como lastro para conquistar amizades, etc. Formidáveis e superinteligentes, eu poderia dizer até que foram meus gurus. Hoje me deparei com dois velhinhos que quase não os reconheci caminhando na orla marítima. Aquele que era magérrimo está com uma barriga que só vendo. O outro, surgiu com uma aparência além da idade biológica.  

Eles são bem mais velhos do que eu, mesmo assim éramos três almas num corpo só. O tempo foi passando, o meu gosto musical foi mudando e eles, proporcionalmente, foram se afastando. Parecia que havíamos combinado de quando eu passasse a escutar música clássica eles fossem embora, como de fato aconteceu. Aqui e acolá eu ainda os escutava, entretanto sem a força da época de ouro. 

Lembro-me quando caí num barranco na sobra de uma curva, e logo em seguida os dois tiveram a ideia de me acalmar cantando as músicas que eu mais gostava. Enquanto o pneu era trocado, eles continuaram fazendo um duo sem arredar o pé.   

Essa coisa de ficar relembrando o passado muita gente diz que é coisa de velho. Quando jovens éramos, nem imaginávamos que estávamos construindo algo que serviria para recordações futuras. Esse futuro chegou transformado em presente nostálgico. Todas as recordações estão violando o conceito de que quem gosta de passado é museu, só que a verdade é que não há como se ver livre disso.  Elas foram presentes, tornaram-se passado e agora retornam com uma força bem maior do que na época. 

Pena que não sinto mais o mesmo encanto que sentia pelas músicas deles, meus velhos amigos e ex-ídolos Zé Ramalho e Fagner, personagens dessa história, em parte, fictícia. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 30.05.2023 – 14h14min.  




2 comentários:

  1. Fagner, Zé Ramalho e Heraldo Lins: 3 bons artistas. Habilidosamente, o autor da crônica evoca a passagem do tempo, as mudanças nas relações e o valor das memórias afetivas. - Gilberto Cardoso dos Santos

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  2. Com certeza, lá na frente terei saudades desses momentos aqui no blog. A vida é um continuar, esquecer e relembrar.

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