DOMÉSTICA EMPREENDEDORA
Por enquanto, vou deixar vir à tona a realidade dos bastidores. A preguiça de pensar está tão fortificada que prefiro aproveitar qualquer coisa, inclusive dizer que seria ótimo voltar a dormir.
Interrompo a falta de ânimo para ir ao banheiro e no percurso bato com a "canela" na quina da cama. Saio mancando só pensando em voltar ao leito para massagear essa... filha da mãe pra doer! Segurando-me na pia, esfrego a perna com o pé direito.
Que tal falar da violência? Não, já basta essa cama. Procurando o assunto do dia... e então... molhei a cueca. Ando meio distraído. Esqueci de tirar a bicha pra fora e a umidade veio até o joelho. É melhor jogar na máquina e tomar logo um banho. Fico esperando a água que não esquenta. Agora me lembrei que cortaram a energia. Vai frio mesmo. O sabonete caiu. Acho que o “movimento interplanetário” está querendo que eu fique sujo, mas como sou teimoso... Ô..., venha apanhar o sabonete que caiu! O senhor está nu, e dona esposa não vai gostar de saber que eu estava no banheiro apanhando o sabonete para Vossa Excelência. É melhor o senhor sair que eu entro, mas bote pelo menos uma toalha cobrindo esta pequena bela adormecida. Olha que eu posso lhe demitir. Por causa de um sabonete? Não, por causa da "pequena bela adormecida". Desculpe-me, aqui está o sabonete. Dá para o senhor largar meus peitos? Deixe só um pouquinho. Nada disso, os ovos estão queimando e preciso voltar para cozinha. Se quer alguma coisa além do cardápio, esforce-se porque com esse "balango" com cara de sete a um, não me animo.
Não tenho mais "moral" para com minha empregada. O senhor quer ovo ou linguiça? Faça um cuscuz e me chame quando estiver pronto que eu estou doido para comer o seu cuscuz. Odeio cuscuz, mas é a única forma de falar com duplo sentido e entrar no clima. Se não fosse as marcas de "bexiga" nas pernas dela, eu casaria na hora. Pelo jeito o senhor quer um serviço extra hoje, né? Preciso pagar a luz, mas se você contar como sendo um brinde, tô dentro! Nem água. Já dei muitos brindes ao senhor. Hoje, só com o dinheiro na frente.
Volto para a cama. Princesa! O que é? A caneta caiu. Também hoje tá tudo caindo. Bote perto dessa outra caneta. Homem, pelo amor de Deus!, o serviço vai atrasar. Venha se deitar aqui comigo. Estou suada, e hoje de manhã meu marido já bateu o ponto e nem deu tempo eu tomar um banho. Mesmo que eu quisesse tirar o cheiro de bacalhau, lá em casa estava faltando água. Você pelo menos lavou as mãos para fazer meu café? E precisa? O senhor mesmo disse que o meu tempero é o melhor. É, mas esse misturado com o do seu namorado, não fica bom. Minha colega disse que evita o câncer. Ela é médica? Não, vende pastel e dindin num "carrim."
Preciso me concentrar no texto, mas essa viagem da esposa me tirou da zona de conforto. Eu nem sabia que estavam querendo acabar com o estado de direito, e isso também me afetou. Dá um desânimo quando a rotina é quebrada que chego a pensar em “escapulir.”
Pronto!, o café está servido. Eu gostaria de inovar. Como assim? Colocar você deitada no chão com meu prato em cima das suas nádegas, o que acha? Aqui está a conta de água lá de casa. O senhor junta com a sua luz e paga tudo junto, pode ser? Deixe-me forrar com uma toalha. Está gostando? Acho que vou dormir um sono! Quando o senhor terminar, me acorde.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 15.03.2023 - 08h55min.
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