domingo, 4 de dezembro de 2022

TUDO DE VOLTA - Heraldo Lins

 


TUDO DE VOLTA 

 Deitado, procuro encontrar a solução para estancar o pensamento. Se fosse sangue, a cama estaria ensopada, mas como não é, o corrimento se traduz em ideias absurdas que me deixam indeciso para agir. Só sei dizer que preciso administrar o estabilizador de tufões imaginativos para evitar que os movimentos saiam do padrão aceitável da sociabilidade. 

O sol ajuda um pouco, porém o perigo é aumentado quando chega o momento do conflito entre claro e escuro. É preciso ter consciência que é na dobra do tempo que as tramas são alimentadas pelo futuro repetido à exaustão, e não adianta dizer que está havendo aperfeiçoamento porque não está. 

O sono é como se fosse um reinicializador da personalidade que tem a função de fazer voltar à origem do que sempre foi. O poder de perceber quando o tempo está influenciando o ser na produção do querer, é que faz toda a diferença. O porquê de estar pensando sempre do mesmo jeito já dá alguma pista que o espírito vive se enroscando nele mesmo. 

É o vício prendendo, em seus sulcos, a história de quem carrega. Basta vasculhar cada poro entupido de experiências para saber tudo sobre a pessoa. Igual a uma tartaruga carregando seu casco, carregamos o nosso currículo à flor da pele. 

Como é bom divagar sentindo que o fôlego estaciona depois que a caixa de ressonância do mundo é trancada a sete chaves. Agora aconteceu um travamento natural. É como se a cota diária de pensamentos houvesse sido usada em sua totalidade, restando o conformismo para lidar com essas limitações. O difícil é porque a própria mente fica jogando para mim a responsabilidade dessa deficiência e eu, como mentor do processo, digo que a culpa é dela.  

Tenho certeza que ficaria muito satisfeito se a mente conseguisse produzir um conhecimento que me deixasse surpreso. O pior é que corro o risco de permanecer por séculos sem fim sendo taxado daquele que só tem um texto e que nem me dou ao luxo de sair do quadrado em que me meti. Acho interessante energia quântica, buraco negro etc., e até sei que dá status falar de física, mas, que pena, não tenho entendimento sequer para mentir sobre ela. 

Só posso falar da alma humana sem que para isso tenha que comprovar o que digo. Falar de ciência é mais complicado exatamente porque necessitamos trazer as provas juntas ao discurso. Meu QI, por exemplo, não passa do normal, e, mesmo não tendo acompanhado suas modificações nos últimos tempos, sinto que houve uma trágica mudança.

Eu nem sabia que o Titanic saiu com destino aos Estados Unidos, dizia a resposta que colei, só que durante a minha pesquisa descobri que alguém subornou a tripulação para fugir com a família em um dos botes salva-vidas deixando a maioria morrer. 

Espero que a mente crie vergonha e opte em dizer algo mais importante. Será que tenho mesmo que concordar que não podemos ir além do que nascemos para ser? Vamos, mente, diga para que você veio. Ela fica rindo dizendo que eu sempre me achei inteligente e que nunca pedi sua ajuda, agora, diz ela: ”te vira.” 

Entrego os pontos por não poder escravizá-la ao meu “bel querer.” Vontade tenho de expulsá-la da minha cabeça já que vive morando de graça. Se pelo menos ela produzisse algo fantástico que cobrisse as despesas que tenho em mantê-la  bem nutrida, tudo bem, mas não, fica me dominando através do sono, mal estar, fome e, ainda por cima, não me deixa aprender.  

Abro a boca querendo engolir as ideias que vêm pelo ar. Sei que há conhecimentos vindo através do vento, basta saber captá-los, só que o equipamento próprio para isso não veio de nascença, por isso, está decidido: vou comprar um “capta ideias,” custe o que custar.   


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 03.12.2022 ─ 15h25min. 






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