quarta-feira, 21 de setembro de 2022

ESCUTAMOS CADA UMA!... - Heraldo Lins

 


ESCUTAMOS CADA UMA!...


Ao longe, uma onda quebra-se na areia igual a tantas outras. Banhistas dão cambalhotas tentando ser felizes aproveitando o mar que ainda é de graça. Enquanto uns aproveitam o astro-rei no motor da diversão, o sol arde mais intenso nas costas de quem precisa se expor para conseguir comida. 

As mulheres chegam e nem pedem licença para serem mães no sentido puro da palavra. Fujo delas quando as vejo amamentando em público. Aquilo deve ser usado como instrumento de sedução, mas transformado em dindim da Nestlé, deixa-me triste.    

Ontem também fiquei acabrunhado quando me deparei com uma jovem de cabelos verdes, entretanto não era uma extraterrestre, ainda bem. Fazia parte da turma do rapaz de chapéu preto, meias por cima das calças e casaco de calor. Agora é assim. Casaco virou indumentária para segurar o bafo do corpo dando provas o quanto se está disposto à autotortura.   

Mais adiante um guarda olhava a cena caminhando de um lado para o outro. Quanto será que está ganhando para vigiar uma porta aberta? A impaciência o fazia andar esperando o horário chegar para fechar o estabelecimento. 

Parei para conversar e recebi um pedido de ajuda. Seu plano estava atrasado e precisava quitá-lo. Para me sair dessa, disse-lhe que os planos de saúde continuam torcendo pelo sucateamento do sistema. Argumentei, tentando distraí-lo, que para a classe dominante é bom que exista um intenso consumo de bebidas, drogas, fumo, com o objetivo de dar lucro e adoecer quem teima em permanecer sadio. 

Para a roda girar, é necessário que todo mundo adoeça, disse o meu amigo, dono do hospital e sócio do restaurante. Eu mesmo, disse ele, tenho quatro pontes de safena! Deu uma gargalhada e ainda acrescentou: nada se leva dessa vida, a não ser a doença.  


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 20.09.2022 ─ 16h52min




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