terça-feira, 14 de junho de 2022

LABORATÓRIO MENTAL - Heraldo Lins

 


LABORATÓRIO MENTAL


O mundo dos pesadelos existe, e sua porta de entrada é uma brecha da espessura de um pensamento. Só se consegue passar por esse minúsculo espaço se o corpo estiver com temperatura elevada. Geralmente, isso acontece por volta da meia-noite e é nesse exato momento em que a realidade e o mundo paralelo encontram-se na dobradiça do tempo. Só depois de muito treinamento se consegue lembrar das experiências vivenciadas nesse mundo que carregamos e nem nos damos conta. 

Sem o domínio da técnica, naturalmente se consegue acessá-lo, porém, o resultado é desastroso. Suor, lágrimas e coceiras surgem no corpo empurrado para lá, e assim, no vácuo das frustrações acumuladas há uma exagerada submissão causadora de sofrimento.

Isso acontece porque, ao perceber que está sendo visitado, os guardiões desse mundo segregado abraçam o invasor fazendo-o tropeçar nos bloqueios instalados. Todos os processos metamorfoseados em humano ocorreram na jaula primária que antes serviu de casulo à construção do próprio ser. É uma espécie de voltar ao passado visitando o futuro. 

A existência desse mundo é comprovada quando se chega a algum lugar desconhecido e se tem a sensação de já conhecê-lo. Significa dizer que a consciência é maleável, por isso, foge da rigidez do corpo em que está firmada. Nesse momento, o consciente aproveita para visitar milhões de mundos que surgem quando se chega à capacidade de admirá-los sem ser surpreendido. 

O coma induzido é uma forma de, também, se alcançar esse mundo, só que não é o recomendado devido ao alto grau de esquecimento que acontece durante o retorno entre o inconsciente e o consciente. É Nessa zona franca que há total desprendimento da razão e emoção, por isso, a única oportunidade de observá-los, separadamente, sem que as imagens produzidas por uma estejam atreladas a outra, é de forma natural.

Esse território, pouco conhecido, está na gente, e a ida a ele leva o humano, sozinho, a testemunhar as ligações que faz o momento ser o que é, além das possibilidades que estão por vir.

Ter o controle do incontrolável é o sonho de muitos, e para torná-lo realidade, basta direcionar, "noturnamente", o pensamento para o manto da escuridão proporcionada pelo fechamento dos olhos. O que chamamos de total apagamento da consciência é apenas uma fase, tipo um túnel, que nos leva para o clarão do terceiro olho. Depois, se permanecermos olhando para essa escuridão proporcionada pelas pálpebras fechadas, passa-se a ver imagens pouco nítidas até chegarmos à resplandecência, onde as ações reprimidas aparecem sem que sejamos vítimas delas.

Pode-se até chamar de sonhos, só não os são porque passam a ser vivenciados quase de forma consciente. Nas primeiras noites, é possível não se conseguir o resultado esperado, mas o modo de colocar o corpo em repouso, com o intuito de se chegar a esse estágio, faz toda a diferença. 

É como se planejássemos uma viagem com todo o ritual merecido. A preparação das malas são os pensamentos que devem ser estimulados antes mesmo de nos deitarmos, deixando recomendado que o sono deve vir de forma articulada, e não por aleatório esmorecimento. 

Depois que se tem acesso a esse mundo escondido e desviado pelo instinto do relaxamento, percebe-se a verdade como ela é, e as lembranças, que o inconsciente joga para nossa memória, passam a ser previstas, libertando-nos da opressão do acaso. 

A maior vantagem dessa técnica é que a catarse mental acontece durante o sono, e ao acordarmos, a mente, cansada de produzir lixo, está totalmente desbloqueada para fluir no “aqui agora”. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 14.06.2022 — 12:29



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