CONVERSAS NO CHÁ DAS CINCO
Só há um momento em que um homem foge das mulheres: quando elas estão juntas fofocando. Tentei quebrar essa tese ao recebermos visitas aqui em casa. Começaram falando como fazer pamonha, e eu perto escutando-as. Todas já sabiam como fabricar esse alimento, porém, cada uma acrescentou algo que no final deu no mesmo. Saí para mais longe por ser nocauteado pela transversalidade.
Depois entraram na conversa que para as diabéticas é bom servir uma salgada, enquanto para as de pressão alta, a pamonha doce é a ideal. Havia momentos em que elas diminuíam o tom para evitar que mesas, poltronas e cadeiras roubassem suas receitas.
Uma delas foi preparar algo no fogão. Ficaram as outras cinco falando das noras. Uma estava concentrada no próprio seio. “Não dói mais, só quando levanto o braço! É melhor consultar o médico.” Saíram do assunto sobre pamonhas, entraram nas noras e pularam para mastectomia sem a menor cerimônia.
“Estou com medo dessa altura,” enquanto Necira telefonava: “alô!? Você vai fazer uma chamada de vídeo? Ai, que coisa linda. Alô!? Caiu!
“A senhora quer um cafezinho? Eu almocei assim que saí. Eu tomei suco de maracujá para dormir. O médico disse que o açúcar causa câncer.
“Pegue umas raivinhas de macaxeira. Não se preocupe com o chão, depois eu varro.
Toda semana meus irmãos vão ao sítio e trazem manteiga e leite. Papai tem Alzheimer. Ele tem mais de oitenta? Noventa e cinco! como eu estou longe dessa idade... é verdade, e cada vez mais se afasta dela... kkkkkkkkk... ”
Eu, particularmente, jamais pensei que tão perto de mim houvesse gente com essa capacidade de falar de dez assuntos ao mesmo tempo e entender outros vinte. Não que eu me sinta incapacitado para manter um diálogo nesse padrão, mas é melhor não arriscar. Chá das cinco, nunca mais!
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 12.06.2022 — 14:26
Ao contrário da conversa das comadres, um texto enxuto que muito nos diz.
ResponderExcluirIsso mesmo. Obrigado!
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