FRACASSOS DO AGRICULTOR
I
Quero falar dos fracassos
Do homem trabalhador
São problemas diferentes
Dependendo do setor
De todos o mais complicado
É do trabalhador alugado
E do pequeno agricultor.
II
Homem que entra na mata
De sol a sol como louco
Corta pau, faz coivara,
Broca mato, arranca toco,
Pensando numa colheita
Perde o sono quando deita
E se dorme é muito pouco.
III
Chega o mês de cair chuvas
Ele acunha a enxada
Passa a noite na janela
Pra ouvir a trovoada
Sem chuvas pra nenhum canto
Faz promessa, rouba santo,
Pra cair uma chuvada.
IV
Finalmente chega a chuva
Ele corre e vai plantar
Canta, assovia contente,
Nem para pra descansar
A lavourinha nem cresce
O passarinho aparece
E já começa a arrancar.
V
Ele faz uns espantalhos
Grita o pássaro, se maldiz,
A lavourinha crescendo
Começa a limpar feliz
Um dia ele se espanta
Com a rosca cortando a planta
Bem no pezinho da raiz.
VI
Começa logo a replanta
Tira os cereais da lata
A chuva não vem no tempo
A lavoura se maltrata
Para de ouvir trovão
Faz uns dias de verão
E chega a peste da lagarta.
VII
É a lagarta comendo
E a seca judiando
Ele vai limpando o mato
E a lavoura esperando
Aí a formiga ingrata
Faz um caminho na mata
E passa a noite derrubando.
VIII
Carrega toda a lavoura
Pra dentro do formigueiro
Vem o porco do vizinho
Quando arromba o chiqueiro
Fuça com a tromba de aço
E o preá come um pedaço
De preferência no aceiro.
IX
Vem a vaca do vizinho
Pula a cerca do cercado
Vai direto pra lavoura
Faz um estrago danado
O boi manso arranca o toco
De tudo ele come um pouco
E amanhece enganchado.
X
O jumento do compadre
Dá um jeito e quebra a corda
Vai direto pro roçado
Come pra ver se engorda
Deixa um estrago tão feio
Ainda se espoja no meio
Caga, mija, pinta e borda.
XI
O algodão prometendo
Dar uns capuchos graúdos
Chega um besourinho preto
Com um bico fino e agudo
Come tudo num segundo
Não há remédio no mundo
Pra combater o bicudo.
XII
O pobre do agricultor
Em situação precária
Enfrentando os inimigos
Que perseguem sua área
Vai, aos trancos e barrancos,
Pagar juros altos aos bancos
Com correção monetária.
XIII
Começa a colher a safra
Mais outra decepção
O rato comendo a fava
O gorgulho no feijão
O milho todo furado
E o bicudo no roçado
Derrubando o algodão.
XIV
São esses os grandes fracassos
Que passa o agricultor
Mas, entre todas as pragas
Que sugam o trabalhador,
Tem um pior do que tudo,
Que a formiga, que o bicudo,
Que é o atravessador.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.
11/05/1987
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
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