domingo, 21 de novembro de 2021

AÇÃO E REAÇÃO - Heraldo Lins



 AÇÃO E REAÇÃO


As emoções são atrevidas e continuam se metendo em tudo. Perde-se dinheiro para fazer valer a raiva, mas a razão encontra suas razões para justificar as atitudes. A falsa sensação de liberdade, depois de uma ação vingativa, traz a justificativa para se pensar que compensa o prejuízo material causado pelo troco dado.

O mundo está separado em vingança e perdão. Até os animais entendem essa linguagem, basta ver a rixa entre leões e hienas. Eles vivem diariamente nessa pendenga sem data para terminar. Pena que eles não tenham a religião nem a polícia para os conterem, só que nós fazemos o mesmo sem nos darmos conta. As escolhas, aparentemente inocentes, são guiadas pelo senso de vingança:

 _Não vou comer pão porque o trigo vem de um país rival, e por isso, boicoto o trigo. É assim o padrão de pensamento que muitas vezes nos rege.

Como imaginar que alguém tome uma decisão contra ele mesmo só pelo prazer de ver o outro mal? Isso acontece muito mais vezes do que se imagina. 

Ainda bem que não temos o poder de destruição utilizando apenas o pensamento. Se assim fosse a humanidade já teria sido extinta. Os recém-nascidos seriam os "Cains e Abeis" em larga escala. 

Mas ter a consciência de estar agindo por pura vingança cabe a poucos perceber. É preciso analisar-se quando se está em pleno surto raivoso. Na tranquilidade é possível descortinar esse ato lesivo, mas no calor das discussões o leão ataca as hienas acreditando que não há outra alternativa, se não, a violência. 

Pode-se até dizer que a melhor forma é evitar chegar ao ponto de leão. Depois de disparado o gatilho do ódio, fica fácil a plataforma da vingança reger as ações. O instinto animal de ataque e defesa entra em “campo” cegando-nos. Parte-se para a briga, muitas vezes, sem saber que a derrota está clara. Nessa lógica, a justificativa encontra respaldo para ações impensadas e o desastre está feito. 

O arrependimento faz parte da nostalgia da raiva. O homem por natureza nasceu para o conforto, e saindo desse estágio sofre tanto quanto as vítimas. O desassossego é testemunhado pelo travesseiro silencioso que o acompanha noite a noite, e, a partir daí, a guerra é uma forma de se libertar da aflição travada na madrugada. Precisa-se tomar consciência dos perigos de se formar uma ideia de agressão coletiva.

Enquanto não nos preocuparmos verdadeiramente com a paz, sempre haverá ditaduras e seus desdobramentos. Os nichos são criados para isentar alguns e criar dificuldades para outros. Quase ninguém tem interesse que haja harmonia duradoura, ao contrário, criar problemas é uma artimanha para que privilegiados permaneçam no bem-bom.

Lembro-me que à época das grandes secas em Santa Cruz/RN, existiam carros pipas abastecendo os chafarizes dos bairros pobres. A escassez de água era a motivação para filas intermináveis de latas nas calçadas. Às quatro horas já se começava a formação. A prefeitura administrava os veículos que muitas vezes eram desviados para encher as piscinas dos assessores do governo local. Enquanto as latas eram amassadas nas brigas por um lugar mais próximo, os influentes tomavam uísque rindo da desgraça alheia. 

Com esse padrão ainda sendo executado no nosso território, é difícil as hienas não atacarem os leões. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 18/11/2021 – 13:07




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