MÃE CORUJA
Hoje, aborreci-me com minha mãe. Quando a visito ela me dá uma caixa de mantimentos. Toda semana eu ganho a famosa caixa com os mesmos presentes. Por viver viajando nem consigo consumir tudo, consequentemente, na minha geladeira não cabe sequer um pacote de amendoim. Gastei algumas noites de sono planejando o que dizer a ela para não comprar o conteúdo da caixa. Fiz uma lista e deixei em cima da mesa. Expliquei-lhe que colocasse a lista na bolsa para consultá-la quando estivesse na feira.
Na hora em que eu estava me preparando para sair, ela disse que na caixa tinha um saco de seriguela, e que eu tivesse cuidado porque estavam muito maduras. Mãe, seriguela estava na lista. Não vou querer esta semana. Dê de presente à governanta. Vou dar mesmo, porque eu não posso comer, disse-me ela constrangida. Cadê a lista? Está aqui! Procurou... procurou... acho que ela jogou no lixo. Não tem problema, eu fiz uma foto! Veja aqui: seriguela está depois da melancia. Eu esqueci, disse ela enquanto mexia a canjica. Eu falei que a senhora colocasse a lista na bolsa. Esqueceu até de guardar na bolsa!? Homem... deixe de me aperrear!
Vim embora e, quando cheguei, fui desarrumar a caixa. Liguei para fazer a reclamação: mãe, aqui em casa tem dois cocos da semana passada, e com esse que a senhora mandou são três. Eu não consigo comer tanto coco seco em uma semana. Está anotado! A senhora encontrou a lista? Desligou o telefone na minha cara. Fiquei esfumaçando de raiva. A geladeira entupida e mãe empurrando coco.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 22/02/2021 – 16:19
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