segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

NATAL CIDADE-PRESÉPIO - Diogenes da Cunha Lima

 

NATAL CIDADE-PRESÉPIO

Diogenes da Cunha Lima

      

Lembro no Natal cantiga de sinos, o Deus Menino nasceu num curral. Não quis companhias humanas. No nicho, presença de bichos, José e Maria.

         O mais extraordinário acontecimento da humanidade ocorreu em Belém, na Palestina, que, por lei, é cidade-irmã de Natal

         A nossa cidade teve início no dia 6 de janeiro de1598, com a construção da Fortaleza dos Reis Magos. A cidade nasceu, por ordem do rei, no dia 25 de dezembro do ano seguinte. Poucas casas, mas cidade, porque ordem de rei não se discute.

Natal é, na realidade, a cidade de louvor à Natividade, ainda que com poucos símbolos. Não temos um sino, nem um presépio monumental.

Quando estava no exercício da Reitoria da UFRN, pedi a Oscar Niemeyer que fizesse um projeto do presépio urbano. Depois, a nossa Academia de Letras, mesmo sem dinheiro, contratou o serviço. Na gestão de Garibaldi Alves, o Governo financiou e foi construído no Candelária. Foi inaugurado por Wilma de Faria, com missa e festas. Havia um belíssimo painel de Dorian Gray. Lamentavelmente, o Governo Estadual abandonou-o e foi literalmente destruído por vândalos. O sino, símbolo do Natal, não passou de pequenos projetos.

Acresce notar que o Rio Grande do Norte é o Estado que ofereceu trinta Santos ao Brasil e a religiosidade impera no povo em todas as suas regiões. Muitas famílias continuam a fazer presépios domésticos, o que salva a tradição.

A história registra que o primeiro presépio foi construído em uma gruta na cidade Greccio a pedido de São Francisco de Assis. O seu amigo Giovani colocou na Gruta um jumentinho e um boi. O fato ocorreu no ano 1223. A representação natalina elaborada pelo Santo tem tudo a ver com a oração de verdade e alegria que ele nos ensinou. Ser instrumento de Deus, levando fé, amor, perdão, esperança e união.

No Brasil, o presépio foi apresentado aos índios por São José de Anchieta em 1552. O louvável costume espalhou-se por todo o país, obedecendo também às circunstâncias locais e criatividade dos executores. Muitas vezes, vemos rochas pintadas de marrom sobre cartão, estrelas brilhantes, anjos e até patinhos nadando sobre o espelho.

A tradição estabeleceu que os pastores seriam os pobres, os mais humildes a reconhecer a divindade. Assim também os reis magos, que ofereceram ao Rei perfumes e ouro. Chamar-se-iam Gaspar, Belchior e Baltazar. Os magos eram cientistas, sábios, mágicos para o povo. Muito se venera na Catedral de Colônia, na Alemanha, o jazigo dos reis magos.

Amaury Costa escreve dizendo que a cidade de Natal não faz jus ao seu nome. Lembra que a substituição pelo símbolo comercial Papai Noel, com sua barba à maneira de Karl Marx, em nada se parece com São Nicolau, o Bispo turco. Presenteou-me com Carta Apostólica do Papa Francisco, que luta pela multiplicação dos presépios, por ser o evangelho vivo, que representa o mistério da Encarnação do Verbo.

Natal merece ser a cidade-presépio nestes tempos de solidão, perigo, crise desafiadora trazida pelo vírus à economia, à educação. É tempo de revigorar a fé, a esperança, a alegria de viver como instrumento de Deus.


 


Diógenes da Cunha Lima (poeta, prosador e compositor) é advogado e presidente da ANL (Academia Norte-rio-grandense de Letras). Alguns de seus livros: “Câmara Cascudo - Um Brasileiro Feliz”, “Instrumento Dúctil”, “Corpo Breve”, “Os Pássaros da Memória”; “Livro das Respostas” (em face do “Libro de las preguntas”, de Pablo Neruda); “A Memória das Cores”; “Memória das Águas”; “O Magnífico”; “A Avó e o Disco Voador” (infantil). 

Foi Presidente da FJA, Secretário de Estado; Consultor Geral do Estado; Reitor da UFRN; Presidente do CRUB. Atualmente, dirige o seu Escritório de Advocacia e preside a ANL (Academia de Letras). Alguns de seus livros: “Câmara Cascudo - Um Brasileiro Feliz”, “Instrumento Dúctil”, “Corpo Breve”, “Os Pássaros da Memória”; “Livro das Respostas” (em face do “Libro de las preguntas”, de Pablo Neruda); “A Memória das Cores”; “Memória das Águas”; “O Magnífico”; “A Avó e o Disco Voador” (infantil).

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