AS SEDUÇÕES DE RITINHA
E A ASTÚCIA DO AVARENTO
E A ASTÚCIA DO AVARENTO
Quando Ritinha voltou
À sua terra natal,
Depois de quase três anos
Morando na Capital,
Foi aquele rebuliço!
Pois ela tinha o feitiço
Da beleza original.
À sua terra natal,
Depois de quase três anos
Morando na Capital,
Foi aquele rebuliço!
Pois ela tinha o feitiço
Da beleza original.
Bem feita, cintura fina,
Morena cor de canela,
Uma boca sedutora,
Que não tinha igual à dela,
As pernas bem torneadas,
As mãos bastante afiladas,
Só a tornavam mais bela.
Morena cor de canela,
Uma boca sedutora,
Que não tinha igual à dela,
As pernas bem torneadas,
As mãos bastante afiladas,
Só a tornavam mais bela.
Foi para a cidade grande,
Ainda com pouca idade,
Partiu em busca da sorte,
Dinheiro e felicidade.
Por ser muito preferida,
Resolveu ganhar a vida
Sem muita dificuldade.
Ainda com pouca idade,
Partiu em busca da sorte,
Dinheiro e felicidade.
Por ser muito preferida,
Resolveu ganhar a vida
Sem muita dificuldade.
Abraçou a profissão,
Neste mundo, mais antiga.
Porém, se cuidava muito,
Sem preguiça nem fadiga.
Era mesmo uma escultura,
Sem um grama de gordura
Em sua linda barriga.
Neste mundo, mais antiga.
Porém, se cuidava muito,
Sem preguiça nem fadiga.
Era mesmo uma escultura,
Sem um grama de gordura
Em sua linda barriga.
Inteligente e esperta,
Evitava a malandragem.
A nobreza se encantava
Com a sua bela imagem,
De modo que em torno dela
Formou-se uma clientela
Da mais alta grã-finagem!
Evitava a malandragem.
A nobreza se encantava
Com a sua bela imagem,
De modo que em torno dela
Formou-se uma clientela
Da mais alta grã-finagem!
Mas, como a cidade grande
Está sempre em pé de guerra,
E quem é da roça nunca
Esquece seu pé de serra,
A Ritinha, certo dia,
Juntou sua economia
E voltou pra sua terra.
Está sempre em pé de guerra,
E quem é da roça nunca
Esquece seu pé de serra,
A Ritinha, certo dia,
Juntou sua economia
E voltou pra sua terra.
Lagoa Verde viveu
O seu maior alvoroço,
Quando Ritinha voltou,
Bonita igual um colosso,
Cheia de ostentação,
Mexendo com o coração,
Dos mais velhos ao mais moço!
O seu maior alvoroço,
Quando Ritinha voltou,
Bonita igual um colosso,
Cheia de ostentação,
Mexendo com o coração,
Dos mais velhos ao mais moço!
Para a pequena cidade,
Pacata e provinciana
– Um recanto de beatas,
Cada qual mais puritana –,
Sem agito e sem embalo,
Foi mesmo um tremendo abalo
O retorno da mundana.
Pacata e provinciana
– Um recanto de beatas,
Cada qual mais puritana –,
Sem agito e sem embalo,
Foi mesmo um tremendo abalo
O retorno da mundana.
Indiferente às cantadas
Do rico e da populaça,
Com seu nariz empinado,
Ritinha era uma ameaça
Aos homens conceituados,
Que deixavam seus cuidados
Pra vê-la passar na praça.
Do rico e da populaça,
Com seu nariz empinado,
Ritinha era uma ameaça
Aos homens conceituados,
Que deixavam seus cuidados
Pra vê-la passar na praça.
Já recebera recados
Do prefeito e do juiz,
Com propostas tentadoras
De fazê-la mais feliz.
Recusou um coronel
Para se manter fiel
Ao empinado nariz!
Do prefeito e do juiz,
Com propostas tentadoras
De fazê-la mais feliz.
Recusou um coronel
Para se manter fiel
Ao empinado nariz!
E continuou assim.
Mas o tempo foi passando.
Ritinha então percebeu
Os seus recursos minguando.
Como a vida é um cassino,
Aos caprichos do destino,
Aos poucos foi se curvando.
Mas o tempo foi passando.
Ritinha então percebeu
Os seus recursos minguando.
Como a vida é um cassino,
Aos caprichos do destino,
Aos poucos foi se curvando.
Foi quando lhe apareceu
O Isaac Samuel,
Um agiota avarento,
Um mão-de-vaca cruel,
O qual não abria a mão,
Nem pra pedir a benção
À sua mamãe fiel.
O Isaac Samuel,
Um agiota avarento,
Um mão-de-vaca cruel,
O qual não abria a mão,
Nem pra pedir a benção
À sua mamãe fiel.
Porém, quando viu Ritinha,
Não escondeu seu desejo.
Vencido pelo seu charme,
Aproveitou o ensejo,
E já na ponta dos pés,
Propôs um conto de réis,
Por uma sessão de beijo.
Não escondeu seu desejo.
Vencido pelo seu charme,
Aproveitou o ensejo,
E já na ponta dos pés,
Propôs um conto de réis,
Por uma sessão de beijo.
A proposta tentadora,
Ritinha então aceitou,
E um encontro, no escuro,
Com Isaac combinou.
No mesmo dia, à noitinha,
Lá na casa de Ritinha,
O homem logo chegou.
Ritinha então aceitou,
E um encontro, no escuro,
Com Isaac combinou.
No mesmo dia, à noitinha,
Lá na casa de Ritinha,
O homem logo chegou.
Foi beijando-a como um louco,
Sem limite de beijar.
Já sufocada, Ritinha,
Quase não pôde falar:
– Seu Isaac, por favor,
Quero dizer ao senhor
Que eu preciso respirar!
Sem limite de beijar.
Já sufocada, Ritinha,
Quase não pôde falar:
– Seu Isaac, por favor,
Quero dizer ao senhor
Que eu preciso respirar!
Na total escuridão,
O homem disse: – Qual nada!
Meu nome não é Isaac,
Eu sou Zé da Farinhada.
Fique sabendo a senhora,
Que o Isaac está lá fora,
No portão, cobrando entrada!
O homem disse: – Qual nada!
Meu nome não é Isaac,
Eu sou Zé da Farinhada.
Fique sabendo a senhora,
Que o Isaac está lá fora,
No portão, cobrando entrada!
© 𝓟𝓮𝓭𝓻𝓸 𝓟𝓪𝓾𝓵𝓸 𝓟𝓪𝓾𝓵𝓲𝓷𝓸
09/09/19
09/09/19
*Adaptado do conto “Astúcia de judeu”,
de Humberto de Campos (1886–1934).
de Humberto de Campos (1886–1934).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”