Chegou dezembro. Estamos às
vésperas do Natal. O comércio renova suas mercadorias e anunciam promoções a
torto e a direito. Nas vitrines, o vermelho, o branco e o prateado vestem os
impassíveis manequins. Nas fachadas dos prédios comerciais microluzes piscam capitalizando
olhares já capitalizados. No recôndito dos lares os adornos natalinos assumem
lugares de destaque para lembrar uma das mais simbólicas datas da cristandade.
Em tempos pretéritos
estampei na capa do jornal Memorial Santacruzense, o seguinte título: Santa
Cruz, Cidade Luz! Era no tempo da administração de um doutor. Tempo em que na
praça Cel. Ezequiel Mergelino se montava um presépio iluminado, para o qual os
pais se dirigiam felizes levando as suas crianças para fotografá-las ao lado de
um Papai Noel magrinho, contratado por Zé Retratista. Tempos depois, a Casa de
Cultura Popular ganhou pelo esforço de muita gente, um presépio em tamanho
natural, e este serviu de cenário para muitos outros clics e admiração. As
crianças subiam sorridentes no burrinho e na vaquinha e os adultos tocavam com
reverência o menininho da manjedoura. Paradoxo dos paradoxos, obra de um crente
e de um ateu que deixando de lado as suas convicções mais íntimas, entendiam
com respeito o que significava aquela realização para a grande maioria dos cidadãos
santacruzenses. Passados mais alguns anos, o presépio foi esquecido e
finalmente lançado nos monturos de lixo da cidade. Todavia, não faz parte do
lixo da história, pois está registrado em fotografias e nas nossas lembranças o
bem que fez a Santa Cruz, não só por sua beleza estética e valor cultural de
que era dotado, mas sobretudo pelo caráter prático e solidário de sua
idealização, pois através dele conseguimos que as populações de Santa Cruz,
Lajes Pintadas e Campo Redondo doassem dezenas de brinquedos para melhorar o
acervo da brinquedoteca do Hospital Universitário Ana Bezerra.
É quase Natal na turística Cidade Santuário, de modo que como cidadão,
julgo ser lícito perguntar: Onde estão as luzes do Natal, pagas com os nossos
impostos? Queimaram todas? Onde foram depositados os anjos que de trombetas em
punho anunciaram o Natal e o Ano Novo do ano passado? Bateram asas? Onde estão
as centenas de metros de mangueiras de luzinhas que contornavam o Teatro
Municipal, o Pinguinho de Gente, os arcos da Vila de Todos, metade da frente da
igreja Matriz e os troncos das árvores? Não é hora, senhora prefeita, de
pendurá-los? Não é hora de acender a nossa Cidade Luz? Não é hora de
incrementar ainda mais a ornamentação?
É hora sim de enfeitar as nossas praças, dando ao povo aquilo que ele
espera e que já estava acostumado a ver, reforçando na prática o que diz o
nosso recém eleito Hino Municipal, cujo estribilho canta assim: “Terra pujante e gloriosa, salve! salve! Santa Cruz, tua força, TUA LUZ, tua glória, a todos seus
filhos conduz.”. A cidade turística, que tradicionalmente
se iluminava no dia 30 de Novembro, para marcar com brilho o dia de seu
aniversário, não pode se atrasar, não pode se apagar.
Já não tivemos carnaval, já não vimos o brilho do tradicional Festival
de Quadrilhas, não podemos ficar na escuridão neste Natal. Bastam os dias sombrios
de violência que nos afligiram durante o ano inteiro. Queremos luz, queremos
paz, queremos o colorido piscante, pulsante que nos empresta alguma autoestima;
queremos o canto festivo que alimenta o nosso ser sensível. Pagãos, cristãos,
crentes ou ateus, somos todos demasiadamente humanos e esperançosos de que dias
melhores hão de vir para a nossa querida cidade de Santa Cruz, pois se de dia
já “quase” não falta água, que no Natal e Ano Novo, de noite não falte LUZ.
Marcos Cavalcanti
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