sábado, 30 de novembro de 2019

LEGIÃO URBANA - Homenagem em cordel



Poema autoral onde cito os títulos de todas as canções da maior banda de rock nacional de todos os tempos.
Legião Urbana!

"Cordel Legionário"
Autor: Robson Renato

Eu não sei como SERÁ
Que essa DANÇA dos meus versos
Poderá me acompanhar
Desbravando multiversos
Pra PERDIDOS NO ESPAÇO
Enxergarmos tons diversos.

Mas sem medo de versar
Percebi que AINDA É CEDO
Pra viver sem me arriscar
Acovardado e com medo
Se o PETRÓLEO DO FUTURO
Já queimou nosso segredo.

Por isso, senti que posso,
Viver sem pedir esmola
E gritar: somos SOLDADOS
Da GERAÇÃO COCA-COLA!
Decifrando o TEOREMA
Que aprendemos nessa escola.

POR ENQUANTO, sigo em frente,
Aprendendo a cada passo,
Pois o BLUES do meu caminho
Traz a força do compasso
Que no REGGAE dos meus sonhos
Reproduz o que não faço.

Mas foi QUASE SEM QUERER
Que amargurei corações,
Fiz igual ao DANIEL,
Que NA COVA DOS LEÕES,
Fez da FÁBRICA da fé
Um poço de salvações.

A METRÓPOLE do medo
Trouxe ao jovem reprimido
Uma MÚSICA URBANA
Rompendo o TEMPO PERDIDO
Pra gritar que somos ÍNDIOS
Procurando algum sentido.

Ouvindo Renato Russo,
Marcelo, Rocha e Bonfá,
Desbravei meus sentimentos,
Trouxe o rock para cá
E no ACRILIC ON CANVAS
Subi meio tom em lá.

Esperando ANDREA DORIA
Naveguei nos pesamentos
Coloquei PLANTAS EM BAIXO
DO AQUÁRIO dos tormentos,
Renovando a minha força,
Remontando pensamentos.

EDUARDO me falou
Que sem MÔNICA não vive
E escutando a Legião
Relembrei um amor que tive
E conheci mil lugares
Que nunca sequer estive.

E foi DEPOIS DO COMEÇO
Que minha força biônica
Partiu de ANGRA DOS REIS
Numa viagem platônica
Aportando na obscura
CONEXÃO AMAZÔNICA.

Mas EU SEI que progredir,
Sem viver o MAIS DO MESMO,
É buscar o crescimento
Sem chorar jogado à esmo
E fugir do mal do TÉDIO
Desbravando todo o sesmo.

Pois a QUÍMICA da vida
Demonstra que a decadência
Deve ser eliminada
Eximindo a displicência
Num FAROESTE CABOCLO
Que perpasse a nossa essência.

Porém, QUE PAÍS É ESSE
Onde HÁ TEMPOS, PAIS E FILHOS,
Batalham por igualdade
Tentando mudar os trilhos
Mas são sempre perseguidos
Pela força dos gatilhos?

Os MENINOS E MENINAS
Sofrendo em SETE CIDADES
Esperando um FEEDBACK
Das nossas autoridades
E o vagão das DUAS TRIBOS
Descarrilhando maldades.

Mas sei que SE O SOL BATER
NA JANELA DO SEU QUARTO
E as canções da Legião
Deixarem seu peito farto
A coragem nascerá
Na força de um novo parto.

Somos jovens e podemos
Resgatar nosso Brasil,
Já gritei para MAURÍCIO:
Seja forte e varonil!
Pois não serei para sempre
LOBISOMEM JUVENIL.

Versei no MONTE CASTELO
Conjugando o verbo amar,
Compus trovas e sonetos
Galopando à beira mar,
Mas sofri muito ESPERANDO
Esse MEU AMOR PASSAR.

Pois a força desse amor
Deve ser nosso legado
Pra mudarmos esse MUNDO
Que ANDA TÃO COMPLICADO
No TEATRO DOS VAMPIROS
Do fantoche alienado.

Dessa fonte SERENÍSSINA
Surge a força do METAL
Que lutando CONTRA AS NUVENS
Num gesto descomunal
Apazigua nossas dores
Num VENTO NO LITORAL.

Vejo um norte pra seguir
Nos acordes legionários...
Subindo A MONTANHA MÁGICA
Fui na ORDEM DOS TEMPLÁRIOS
E aprendi na L' AGE D'OR
Acordes imaginários.

Quando ouço LOVE SONG
Aperto meu coração...
Em COME SHARE MY LIFE
Resgato a recordação
Dos amores que vivi
Nas canções da Legião.

DO ESPÍRITO que bebe
NA FONTE da PERFEIÇÃO
Surge a paz que traz OS ANJOS
Ofuscando a solidão
PelOS BARCOS da bondade
No mar da renovação .

Posso VINTE E NOVE vezes
Ouvir UM DIA PERFEITO
E VAMOS FAZER UM FILME
Tocar dentro do meu peito
Mas se fosse SÓ POR HOJE
Não estaria satisfeito.

Descobri que sou capaz
Ouvindo O DESCOBRIMENTO
E os problemas DO BRASIL
Ficam claros no momento
Que o GIZ da criticidade
Rabisca meu pensamento.

Se LA NUOVA GIOVENTÚ
Ouvir toda a melodia
Que LOVE IN THE AFTERNOON
Retrata com tal magia
Saberá que a Legião
Na verdade é poesia.

PASSEIO DA BOA VISTA
Rompe a dor da TEMPESTADE
E lendo O LIVRO DOS DIAS
Tomo um gole de saudade
Mas QUANDO VOCÊ VOLTAR
Matarei minha vontade.

Conhecendo A VIA LACTEA
Viajei nos sentimentos,
Percebi que L'AVVENTURA
Troxe nobres pensamentos,
E foi LONGE DO MEU LADO
Que LEILA viveu tormentos.

Disse ALOHA quando vi
O tamanho do presente
Quando ouvindo A Tempestade
Fiz da MÚSICA AMBIENTE
Um hino pra minha vida
Cantado dali pra frente.

NATÁLIA nasceu sabendo
Ser filha d'um legionário
Pois ESPERANDO POR MIM
Marcou no seu calendário
Que no dia DEZESSEIS
Estaria em meu cenário.

A MÚSICA DE TRABALHO
Cantei pra vencer o mal,
Meu espírito cresceu
Sendo um SOUL PARSIFAL,
E cantando MIL PEDAÇOS
Quebrei meu emocional.

Mas em 1° DE JULHO
O SAGRADO CORAÇÃO
Matou AS FLORES DO MAL
Pra nascer OUTRA ESTAÇÃO
E com DADO VICIADO
Viciei na Legião.

Com CLARISSE e MARIANE
Enfrentei A TEMPESTADE
Acordei ANTES DA SEIS
E senti que a liberdade
Só servia pra aumentar
As mazelas da saudade.

Ouvindo LA MAISON DIEU
Fui sentindo a Legião
Curtindo RIDING SONG
Alegrei meu coração
E quase morri de medo
Na TRAVESSIA DO EIXÃO.

E sem COMÉDIA ROMÂNTICA
Conheci a dor que encerra
Numa música chamada
CANÇÃO DO SENHOR DA GUERRA
Mas só vi quem sou ouvindo
MARCIANOS INVADEM A TERRA.

Renato Rocha e Bonfá
Renato Russo e Marcelo
Fizeram RIDING SONG,
Primeira de um disco belo,
Que serviu pra registrar
A grandeza deste elo.

SCHUBERT LÃNDLER veio
Com perfeita sintonia
Ao lado de HIGH NOON
Mostrar toda sinfonia
Da canção instrumental
Repleta de nostalgia.

Uma banda que ficou
Marcada pela grandeza
Com letras bem trabalhadas
Nos arranjos da leveza
Que deixou nessas canções
Muitas fontes de beleza.

HOJE À NOITE NÃO TEM LUAR,
Mas trago a recordação...
Pois se a dor me visitar
Maltratando sem perdão,
A saudade não me engana
Pois a LEGIÃO URBANA
Alegra meu coração.

Robson Renato
Robson Renato
Poeta Cordelista, Sonetista e trovador.
Instagram @PoetaRobsonRenato

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

A Flor da Mangueira Rosa



A Flor da Mangueira Rosa

João Gomes Sobrinho – Xexéu

Lajes meu berço querido,
Abençoado torrão,
Que me deu inspiração,
Pra tudo quanto escrevi,
Agradeço o grande mestre,
La do céu ter me ensinado,
Fazer poema inspirado,
Da terra onde nasci.

Quem vier nas Lajes vê,
A lagoa e o serrote,
Que eu fiz o primeiro mote,
Com nove anos de idade,
Naquela mangueira rosa,
Foi a minha academia,
Nela aprendi poesia,
Na maior tranquilidade.

Aquela mangueira ali,
Representa um drama infindo,
O monumento mais lindo,
Que deste solo se ergueu,
Era no quintal da casa,
Que eu brincava diário,
Hoje demonstra o cenário,
Onde um poeta nasceu.

Foi nessa mangueira onde,
Andei meus primeiros passos,
Quando saia dos braços,
De quem mais me deu carinho
A morte levou mamãe,
Pra onde quem vai não vem,
Fez eu chorar sem ninguém,
Na sombra dela sozinho.

Foi ali que eu vi abelhas,
Fazendo festa nas flores,
Passarinhos cantadores,
Saudando o nascer do dia,
O sabiá modulando,
No verde céu do arvoredo,
Como quem conta um segredo,
Num quadro de poesia.

Papai cantava comigo,
Na sombra dessa mangueira
A moda da jardineira,
E outra que dizia assim,
Enquanto vida eu tiver,
Por mim serás relembrada,
Moreninha bem-amada,
Pra que fugiste de mim,

O romance da princesa,
Do reino da pedra fina,
O de Alonso e Marina
E da cigana feiticeira,
Mistérios dos três anéis,
E a lâmpada de Aladim,
Papai cantava pra mim,
Na sombra dessa mangueira.

Essa mangueira foi palco,
De amor e poesia,
Na sombra dela eu relia,
Cartas de frases amorosa,
Cantei igual um xexéu,
Na mata verde do sonho,
Agora choro tristonho,
Revendo a mangueira rosa.

Foi o tempo esse malvado,
Quem destruiu meus amores,
Despetalou todas flores,
Do meu pé de amor perfeito,
Só não destruiu ainda,
Pra minha felicidade,
Esse jardim de saudade,
Que tem plantado em meu peito!

É esta saudade infinita,
De quem jamais esqueci,
Faz eu declamar aqui,
Sentindo a brisa cheirosa,
Trazer o cheiro suave,
Das primaveras de outrora
Recordo beijando agora,
A Flor da Mangueira Rosa!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Sephan Vassiliew



Sephan Vassiliew
Por Cíntia Follmann – novembro/2019

Finalmente o público leitor brasileiro pode desfrutar a melancolia presente nesta primorosa obra de Jules Laforgue, renomado escritor simbolista francês e belamente vertida ao português por Liliane Mendonça.
Escrita em 1881, Laforgue nos apresenta a jornada de Stephan, um menino aparentemente sozinho, sem família ou parentes, que foi jogado num internato de interior, onde passa cinco anos de silenciosa e triste solidão.
O narrador nos leva através de sua tediosa rotina, entre estudos, longas noites de solitária vigília, e os pequenos momentos de quase alegria nos passeios além dos muros da escola. Apesar de aparentemente ser de família de posses, em comparação aos outros alunos filhos de burgueses e camponeses, nunca recebia visitas, não encontrando consolo nos caprichos que seu dinheiro podia comprar.
Sua natureza solitária e desconfiada privava o jovem protagonista dos jogos e brincadeiras com os colegas, tornando-o ainda mais recluso em seus pensamentos. Este distanciamento da realidade é diminuído com a presença do narrador, um aluno do internato que, em alguns momentos, consegue se relacionar com “entediado” como Stephan era conhecido entre os colegas.
Com uma leitura fácil e muito fluída, esta delicada tradução nos permite desfrutar das inebriantes descrições das imagens vistas pelo protagonista, que despertam no leitor uma maré de sentimentos que nos aproximam ainda mais da angustiante vida de Stephan. O cuidado com a escolha das palavras, enfatiza a poeticidade desta obra, como destaca-se “E que trégua! Que alimento para as nostalgias dele, esses dias passados no esquecimento de tudo, em pleno campo, sob o vasto céu, diante do horizonte! ”. A dureza da realidade em oposição ao anseio da alma por liberdade se mantém na narrativa através dos jogos de palavras e descrições arrebatadas dos ambientes, artisticamente mantidas pela tradutora.
Com o coração pleno de lindas descrições e inundado de angústia somos levados até o final trágico do aluno, que termina sua jornada pelo internato assim como começou: solitário e triste!


domingo, 17 de novembro de 2019

POR FAVOR, GEORGE SAND, NÃO MORRA!




POR FAVOR, GEORGE SAND, NÃO MORRA!
Liliane Mendonça – novembro/2019

Estou lendo um livro[1] no qual o escritor francês Gustave Flaubert fala de sua amizade com a também escritora francesa George Sand, sua “cara mestre”, como ele a chamava.
O livro está chegando ao final e, de repente, me dou conta que ela, Sand, já vai morrer. Flaubert vai narrando progressivamente os anos de convívio entre eles, afirma que ela foi sua melhor amiga, e sobre ela faz esse tipo de declaração “Como a Suíça, George Sand domina seus vizinhos, ela sabe como olhar para eles, os contemplar[2] ” e ela, por carta, disse a ele uma vez “você é tão bom que não pode fazer o mal”. A narrativa, perto do final, traz ambos mais velhos, mais cansados, por vezes, um pouco tristes. Cada um na sua cidade, na sua casa, no seu mundo particular. Quando ele diz no livro que ela só tem mais um ano e meio de vida, me dá um nó na garganta. Eu paro de ler, fecho e abraço o livro, literalmente, com a sensação tola de que se eu não ler, ela não vai morrer... como se isso fosse possível, como se o tempo já não tivesse passado o suficiente, não apenas para a morte levá-la, mas também ao célebre narrador, que sobreviveu a ela por quatro anos.
Imediatamente lembro-me de Rodrigo, o narrador de A Hora da Estrela, quando diz
Macabéa me matou. Ela estava enfim livre de si e de nós. Não vos assusteis, morrer é um instante, passa logo, eu sei porque acabo de morrer com a moça. Desculpai-me essa morte. É que não pude evitá-la, a gente aceita tudo porque já beijou a parede. Mas eis que de repente sinto o meu último esgar de revolta e uivo: o morticínio dos pombos!!! Viver é luxo. Pronto, passou. (Clarice Lispector, A Hora da Estrela, 1977)

E de repente essa é a mesma, e também outra história...
Apesar de terem passado por momentos financeiros difíceis, Sand e Flaubert conseguiram viver de literatura. Tiveram outros recursos associados, mas não pararam nunca de escrever. Os escritores viveram no século XIX, e desenvolveram uma grande amizade a partir de 1863, após o lançamento do romance histórico Salammbô[3], de Flaubert, que foi reprovado pela crítica especializada da época, mas agradou muito a George Sand que escreveu um artigo para o jornal La Presse[4] elogiando o livro. Flaubert admitiu que ela lhe fazia falta de uma maneira insuportável depois da morte. Chegou a afirmar que achava que sofria sua perda tanto quanto o filho dela. A amizade entre eles durou até o fim da vida.

Está bem, chega de fugir do assunto.
Agora, volta em mim a imagem de Macabéa, a protagonista de A Hora da Estrela, ela está rodopiando com seu vestido novo e sorrindo. Depois vem Flaubert “Esse é o caráter de George Sand: a bondade, toda a bondade, nada além da bondade.[5]
Pego novamente o livro, o aperto com força, e, com os olhos cheios de lágrimas, digo baixinho “Está bem! Vamos acabar com isso!” Mas, inquieta e angustiada a criança dentro de mim mal consegue controlar a vontade imensa de gritar:
- Por favor, George Sand, não morra!!

****

Tanto Gustave Flaubert quanto George Sand fizeram sucesso com suas obras junto ao público enquanto viveram, mas, depois da morte, Sand foi esquecida por muitos anos, enquanto Flaubert foi mais estudado e permaneceu canônico. Porém, recentemente entre 2014 e 2017 três livros dela foram traduzidos aqui[6] no Brasil. Será que sua vida e sua obra estão voltando a ocupar o lugar que merecem na literatura mundial? Ela estaria começando a reviver?





[1] Mon amie George Sand, um portrait selon Gustave Flaubert. La Nouvelle République, 1998
[2] Ibid. P 71-  tradução livre.
[3] FLAUBERT, Gustave; Chez Michel Lévy, 1862.
[5] Mon amie George Sand, um portrait selon Gustave Flaubert. La Nouvelle République, 1998. P 42 trad livre
[6] O carvalho falante (2014); História da minha vida (2017); François, o menino abandonado (2017).



quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Morte do poeta Letácio Pereira - Nota de Pesar


Nós, da APOESC (Associação de Poetas e Escritores de Santa Cruz) comunicamos o falecimento do senhor Letácio Pereira, conhecido poeta da cidade. 

Nasceu  em Santa Cruz, à rua Dr. Elói de Souza, aos 25 de dezembro de 1935. teve como primeiros educadores: Dona Santinha Marques, Dona Elisete Pessoa, Nenen Galdino e Terezinha Cury. Ingressou no curso de admissão do Grupo Escolar Quintino Bocayuva em 1940, recebendo o seu diploma em 1945;  cursou no Ginásio Comercial todo o 2º grau e em seguida foi trabalhar com seu pai, o então tabelião João Ataíde Pereira, sendo nomeado em 1957, ajudante de Cartório. Por vários motivos óbvios, permaneceu no atual cartório, vindo aposentar-se pelo mesmo ofício na década de 80. 

Letácio foi membro da ASPE e participou de várias antologias, dentre elas Santa Prosa em Cruz e Verso, em 2004. Também teve poemas seus publicados em jornais da cidade.

Nas palavras do poeta e historiador Edgar Santos "A cultura literária perde um excelente e lírico poeta." 

Apesar da pouca saúde, era uma pessoa carismática, dotada de inegável inteligência e de coração generoso.

Nosso sincero pesar à família do poeta.


O  POETA  E  O  MAR (Autor: Letácio Pereira)


Certo  dia  eu à  beira  do velho mar
Contei  minhas  dores  a  quem  sofria
Entre  grande  barulho  a  rugir a vagar
Atentamente  me olhava  e  me  ouvia
           
Contei  meus  amores,  que  tinha  a  amar
E muito sério  a  continuar  mui  rugia
Contrariando  o  tempo  e  sem  parar
Sem  amor  e  sem  ninguém  ali  gemia

Conversando ali  aquele  dos  seus  amores
Confessou-me  que  os  não possuíam
Que  apenas  amava as  belas  flores...
           
Fui  saindo de  sua  orla  pensativo
Pois o  poeta  e  o mar  não tinham
Somente  do  grande  Deus  ser cativo!

++++++++++++++++++++++

EVANGELHO DAS SELVAS


            Carlos, após sua rápida refeição bem cedinho um pouco de leite, um napo de pão, era apenas isso; Cinco  e meia da manhã e o poeta Carlos apanhava um caderninho e também um lápis, costumava levá-los consigo, e ainda um livro como hábito seu.

            Caminhando pelas calçadas, rumava em direção ao poente, muito embora o sol estivesse no nascente; daí em diante aquele poeta, de costumes rudes, que poderíamos até chamá-lo poetaço, dobrava à primeira esquina, rumava e dobrava a esquina seguinte, redobrando simultaneamente mais uma.  Aproximava-se do Arrabalde da cidade e daí o perímetro urbano (início do matagal) avizinhando-se do matagal, daí adentrava a selva, e abandonava à zona urbana.

            Porém Carlos, nosso personagem, tornava-se “anfitrião” do “Campinas”, pássaro que o maravilhava o qual sempre àquela hora cantarolava em meio  a grande árvore; Quando ele  o escutava em repetidas melodias por três vezes seguidas, saciava o seu desejo matutino e, daí caminhando novamente à selva.  Chegando mais ou menos três quilômetros mata adentro, parava – E logo puxando o seu lápis e seu caderninho e também seu livro inexplicável, encostava-se em uma das variadas árvores, - como fazia antes ao seu “Campinas”.  E por várias  horas estando a meditar, movia-se com gestos ensaiados – como a  reclamar a falta de alguém.

            Balbuciando, talvez alguns versos de sua autoria ou improvisos.  Após esses monótonos gestos e palavras imperceptíveis, isso, ininterruptamente.  Dir-se-ia que nosso personagem fazia juras e perjuras a alguém mui amada, que perdera no caminho da existência...  Carlos, encostado na árvore de sua preferência,  meditava  mais uma vez um quarto de hora;  Daí ansioso inicia o retorno a cidade; volta pensativo por não ter de muitas, mais uma vez, sequer, visualizada em sua personalidade, sua amada.

            Nosso Carlos, retorna em passos cadentes pela mesma trilha, que sempre o leva todas as manhãs.  Quando aproxima-se da cidade, o barulho toma todo seu interior – e o “Evangelho das Selvas” deixa de possuí-lo  na mente e na alma.  Carlos, chega novamente ao casarão e daí em diante o “Evangelho das Selvas”, o que o traz e o leva nas ruas da cidade.           



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

UM LUGAR QUE NÃO EXI$TE - Mais que resenha, uma recomendação



UM LUGAR QUE NÃO EXI$TE - Mais que uma resenha, uma recomendação

Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc 17:10).

"Um lugar que não exi$te" - frase irônica apropriada, aplicada a uma realidade tão nossa - foi o título escolhido para o filme de Hailton Mangabeira, cordelista, contista (detentor de múltiplos talentos, em suma); para uma película que retrata de forma pitoresca (e ao mesmo tempo tão realista!) o que ocorre nos pleitos eleitorais do Brasil, mas principalmente do Nordeste. Não trata propriamente de política, mas da politicalha nacional, sem eximir o povo de sua parcela de culpa.

Recomendo-o, não propriamente por boas atuações ou por se tratar duma história bem costurada e com bom clímax; atores amadores e populares contracenam sem muita preocupação de que tudo não passa duma grande brincadeira, representativa  de uma realidade tão danosa à sociedade. Recomendo-a,  não por se tratar propriamente duma ótima comédia, mas pela clara intenção do autor em nos trazer uma lição de cidadania. Os que ainda forem assisti-la, relevem quaisquer aspectos negativos. Degustem-no como quem come peixe, sem esmorecer diante das espinhas. A boa vontade do Hailton e do Lula fazem-se bem evidentes. Foi algo feito com muito amor; e o amor, diz a Bíblia, cobre uma multidão de pecados.

Hailton é, antes de qualquer coisa, um educador nato e em todas suas produções culturais, percebendo-o ou não, nos dá aulas. Ao mostrar com bom humor a realidade, aponta-nos  o que poderíamos vir a ser, caso mudássemos de mentalidade. Nas entrelinhas, o autor apela à sensatez humana, dá um voto de confiança à capacidade cognitiva das potenciais plateias. Diz-nos: "Ei, erga a cabeça. Pare de olhar para o seu próprio umbigo. Veja o que sua indiferença, inocência e/ou egoísmo têm feito."

À semelhança de um bom anfitrião, Hailton e sua equipe deram o melhor de si para nos trazer tão importante recado. Nesta produção, obviamente distante de qualquer coisa que pudéssemos chamar de hollywoodiana, Lula Borges (que também é educador) fez bem mais com menos e teve êxito em atingir os alvos pretendidos, com muita graça e, talvez, quase de graça. Não se trata de arte pela arte, mas duma produção artística engajada. Um longa engajado, mas sem teor panfletário.

Já que feito por dois educadores, vejamos tal trabalho como um projeto interdisciplinar que visa ir além da comunidade escolar. Algo grandioso e nobre em suas pretensões.

Tenho certeza que, à semelhança do que ocorreu com o eu poético de Drummond, havia uma pedra no meio do caminho desse poeta e do produtor - uma não, diversas - mas eles passarinharam sobre os obstáculos humanos e desumanos dos descrentes, indiferentes e  opositores.

A trilha sonora é impecável.

Trata-se de uma mensagem contundente, digna de toda nossa atenção!

Valeu pelos esforços e por se tratar de uma obra concebida para circular nos trilhos da ética.

À semelhança dos serviçais bíblicos citados no início deste texto, Hailton e Lula Borges se voluntariaram para nos servir. Após o serviço, tímida e humildemente aguardam nosso feedback. Mudamente nos dizem: "fizemos apenas o que devíamos fazer".

Quanto a mim, expectador satisfeito, o mínimo que posso fazer é lhes dizer com sinceridade: Vocês fizeram, sim, o melhor que podiam. Se faltou algo, deveria ser imputado à negligência dos que  poderiam ajudá-los mas não o fizeram. De modo algum vocês foram inúteis em seus esforços. Neste filme vocês optaram por promover nossa cultura (nos outros também) e por nos alfabetizar politicamente. Parabéns por tentarem nos  conscientizar de maneira lúdica e por disponibilizarem gratuitamente o penoso fruto de vosso trabalho no Youtube.



Link para o filme:




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