ENTREVISTADOR: Gilberto Cardoso dos Santos
ENTREVISTADO: José de Castro.
Tomei conhecimento do poeta José de Castro através
da professora Valdenides Cabral Dias que, em uma de suas aulas, nos deu
a oportunidade de ler o livro infantil POEMARES,
da autoria dele.
Em particular, teceu palavras elogiosas ao seu
diversificado trabalho. Pude, finalmente, conhecê-lo melhor no IFRN
de Santa Cruz em uma das apresentações da Caravana de Escritores Potiguares,
organizada por Thiago Gonzaga -
agradabilíssimo evento que contou com a participação de grandes nomes da
literatura norte-rio-grandense:
Thiago Gonzaga, José de Castro, Junior Dalberto, João Andrade, Dancley Fernandes, Damião Gomes, Cleudivan Janio, Oreny Júnior, Drika Duarte,Leocy Saraiva, Marcelo de Cristo, Hélio Crisanto e Marcos Cavalcanti.
1. Caro José, além
de ter percebido que é um grande poeta e prosador, notei sua vocação para o
ensino, claramente revelada na conversa que tivemos. Fale-nos, inicialmente de
suas origens, formação, e de aspectos que julga relevantes.
JC: Fiz minha
graduação em Comunicação, com especialidade em Jornalismo, na Universidade de
Brasília. Formei-me em 1970. Depois, fui para São José dos Campos/SP, onde fiz
o meu mestrado em Tecnologia da Educação e trabalhei no projeto Satélite
Avançado de Comunicações Interdisciplinares – SACI, do Instituto de Pesquisas
Espaciais – INPE/SJC. Trabalhava como produtor de televisão educativa. O
projeto SACI veiculava suas aulas na TV-Universitária e em emissoras de rádio
do RN, com o objetivo de titulação de professores leigos aqui no Rio Grande do
Norte.
Em 1972, fiz
minha primeira visita ao estado, para pesquisar, junto à rede de educação a
distância, a aceitação das aulas que eu produzia, no caso teleaulas de
matemática. Como o projeto foi estadualizado, vim de São Paulo transferido para
o INPE/Natal, onde passei a ser diretor de programação e realização da TV-U e
participei de treinamento da equipe local para a produção das teleaulas aqui no
RN. Depois, deixei o INPE/Natal e ingressei na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como professor no Departamento de Educação. Ajudei a estruturar
o programa de pós-graduação em Educação, participei da criação da revista
Educação em Questão, daquele Departamento e criei um laboratório (Oficina de
Tecnologia Educacional), para empréstimo e produção de vídeos para os
professores utilizarem em sala de aula. Criei as disciplinas Vídeo e Educação e
Técnicas de Produção de Vídeo. Ambos, revista e laboratório, existem até hoje,
sob nova direção, pois me aposentei em 1997, quando já era Diretor Geral da
TV-Universitária. Tive a alegria de ter participado do projeto de criação da
rádio FM-Universitária (a concessão da emissora foi conseguida durante o meu
mandato como diretor da TV-U).
Depois de
aposentado, passei a trabalhar na Secretaria de Estado da Educação do RN, na
área de planejamento educacional e participei ativamente do Programa Nacional
de Incentivo à Leitura – PROLER/RN, que era bem dinâmico, um dos melhores do
país. Viajei o estado inteiro ministrando palestras e oficinas literárias.
Cheguei a ser Coordenador da CODESE, uma das maiores coordenadorias da Secretaria
de Educação, que reúne cinco subcoordenadorias. Nessa época, tive o grande
privilégio de participar do processo de montagem e inauguração da biblioteca do
Santarém, na Zona Norte, o Centro Cultural e Biblioteca Escolar Professor
Américo de Oliveira Costa, aberto com um acervo aproximado de 35 mil títulos.
Depois, passei um tempo como assessor de planejamento na DATANORTE e depois
como bolsista da Fundação de Apoio à Pesquisa do RN – FAPERN.
Depois da FAPERN
passei a me dedicar inteiramente a escrever meus livros, visitar escolas e
promover oficinas literárias, o que faço até os dias atuais. Inclusive
participo ativamente como um dos membros da Caravana de Escritores Potiguares,
coordenada pelo escritor e pesquisador Thiago Gonzaga, que vem visitando muitas
cidades do estado, a divulgar a literatura local junto às escolas.
2. Como se
desenvolveu seu gosto pela leitura? Cite autores que foram significativos no
desenvolvimento deste gosto pela literatura.
JC: Ao chegar à
escola pública, lá em Minas, aos sete anos de idade, já sabia ler, pois havia
sido alfabetizado em casa por uma das minhas irmãs. Lá em casa não tinha
livros, mas eu conseguia pegar livros emprestados em uma biblioteca volante que
visitava quinzenalmente o bairro onde eu morava, em Governador Valadares – MG,
cidade em que morei até os meus 15 anos. Minhas primeiras leituras foram de
livros infantis: O pequeno polegar,
Joãozinho e Maria, João e o pé de feijão, As aventuras do Barão de Münchausen, Vinte mil léguas
submarinas (Júlio Verne). Mas lia também romances, como os livros de Lin
Yutang (Uma folha ao vento), O morro dos ventos uivantes (Emily
Brontë). Li também Monteiro Lobato, Mark Twain (As aventuras de Tom Sawyer e as
Aventuras de Huck). E um detalhe: ainda criança, li a Bíblia de capa a capa,
como li também o segundo livro mais vendido depois da Bíblia, que é “O Peregrino”, de John Bunyan. Claro que
li autores como Manuel Bandeira, Castro Alves, Alphonsus de Guimaraens,
Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias. Todos esses, de alguma forma, me
influenciaram.
3. Quando se
descobriu poeta e prosador?
JC: Sempre gostei
de escrever contos e crônicas. Inclusive gosto muito de escrever minicontos, o
conto curto. Quando era adolescente cheguei a ensaiar a escrita de alguns
poemas para a primeira namorada, lá em Brasília. Mas, curiosamente, inaugurei-me
como escritor na área do humor. Publiquei frases de humor por duas vezes no
jornal “O Pasquim”, de Ziraldo,
Millor Fernandes, Jaguar, Ivan Lessa, Henril, Paulo Francis e na revista “Bundas”, de vida curta, editada pelo
Ziraldo. A partir daí, mantive coluna de humor durante dois anos em jornal dos
Diários Associados em São José dos Campos/SP. Foi essa atividade de colunismo
de humor que deu origem ao livro Quem brinca em serviço (tem mais horas de
lazer), publicado pelas edições Sebo Vermelho, do Abimael Silva. O livro foi
ilustrado pelo talentoso chargista Ivan Cabral e teve prefácio do escritor Nei Leandro de Castro e
orelha do irreverente Alex Nascimento.
Pretendo lançar uma nova edição deste livro, assim que tiver tempo de me
organizar. Na área da prosa, cheguei a publicar contos no Suplemento Literário
“O Minas Gerais” e também frases de
humor que tiveram boa aceitação da crítica. Inclusive, num concurso nacional de
contos, dentre mais de 8 mil concorrentes, fiquei entre os 110 semifinalistas.
Publiquei textos no caderno literário da Tribuna do Norte e também em “O Galo”, na revista Preá, da Fundação José Augusto. Nessa época, nem passava pela minha
cabeça escrever para crianças, o que veio a acontecer pouco depois de passar a
colaborar com o PROLER/RN, quando lancei, em 2002, A marreca de Rebeca, pela
editora Paulus/SP. Foi nessa época em que pude notar a minha tendência maior
para a poesia. Aos poucos, até hoje, estou aprendendo a ser poeta. Uma tarefa
para a vida inteira.
4. Explique-nos a
diferença entre o Haicai de origem japonesa e o Haicai Guilhermino. Dê-nos
alguns exemplos, seus ou alheios.
JC: O haicai é um
gênero milenar japonês, um terceto, que teve Matsuo Bashô e Kobayashi como dois
de seus maiores expoentes. O haicai tradicional segue a estrutura métrica
5-7-5, não tem título e nem rimas, e deve se inspirar sempre na natureza e em
seus elementos, como o tempo, as estações do ano, flores, animais, por aí
afora. Guilherme de Almeida, poeta brasileiro, nascido em Campinas/SP deu
grande contribuição a esse gênero, trazendo-lhe algumas novidades. Sugeriu que
o haicai passasse a ter título e rimas. Manteve a estrutura original 5-7-5 e também
a necessidade de se permanecer dentro da mesma temática ligada à natureza e ao
cotidiano. Estabeleceu que o primeiro verso deve rimar com o terceiro e que,
dentro do segundo verso, tem que ter uma rima. A segunda sílaba métrica deve
rimar com a sétima. Veja um exemplo de haicai do próprio Guilherme de Almeida:
O HAIKAI
Lava, escorre, agita
A areia. E, enfim, na bateia
Fica uma pepita.
(Guilherme de Almeida)
Interessante mostrar, também, o haicai guilhermino do poeta
angicano Jarbas Martins (recém empossado na Academia Norte-rio-grandense de
Letras) que tem uma produção significativa nesse gênero. Veja um deles:
A LUA DE FRENTE
Lua quase ausente.
Quase unha, testemunha.
A lua de frente.
Quase unha, testemunha.
A lua de frente.
(Jarbas Martins)
Eu também tenho alguns haicais guilherminos, os quais
pretendo reunir em livro junto com outros gêneros minimalistas. Veja:
SOLIDÃO
Contemplo a lua:
ilusões, talvez clarões
de saudade tua.
ilusões, talvez clarões
de saudade tua.
(José
de Castro)
5. O que é
Poetrix e em que se diferencia do Haicai? Cite alguns exemplos.
JC: O poetrix é
um gênero de terceto genuinamente brasileiro, mais especificamente baiano,
criado há uns 12 anos por Goulart Gomes. Inclusive existe um Movimento
Internacional Poetrix - MIP, do qual a poetrixta Gilvania Machado (organizadora dos livros Fagulhas Poéticas I e II e do livro
autoral Rendas & Fendas) é representante
desse movimento aqui no estado do RN. O poetrix difere do haicai nos seguintes
aspectos: 1) pode e deve ter título sempre; 2) pode tratar de qualquer tema; 3)
tem liberdade de usar rima; 4) pode ter até 30 sílabas métricas no total, sem
especificação de quantidades por verso. Portanto, o poetrix confere muito mais
liberdade de criação.
Veja alguns
exemplos de poetrix da minha lavra, que estão no livro 501 Poetrix para Ler antes do Amanhecer, edição comemorativa aos 10
anos do Movimento Internacional Poetrix.
CONTRASTES
Noite
vazia,
lua fina,
maré
cheia.
(José
de Castro)
SUTILMENTE
Na
tua orelha,
de
sussurros
brinco.
(José
de Castro)
POETRIX
ANALFABETO
A
B
Ç
(José de Castro)
Talvez este terceiro poetrix seja um dos menores do
mundo, pois observe que cada verso contém uma só letra...
6. Dentre as
espécies de poemas que compõe, temos ainda Palavratrix e um outro gênero
brasileiro, Aldravias. Caracterize-os e ilustre-os com alguns exemplos.
JC: Palavratrix é
uma derivação do poetrix em que o poeta tem que desdobrar uma palavra em três
outras e agregar-lhe um título que estabeleça uma nova estrutura de
significação.
Veja um exemplo
de Palavratrix que criei:
LÁGRIMA
de
pura
dor
(José de Castro)
ÀS VEZES
amor
tece
dor
(José de Castro)
Quanto ao gênero ALDRAVIA, este também é uma criação
genuinamente brasileira. Só que desta feita, uma criação de poetas lá de Mariana/MG
(Gabriel Bicalho, Andreia Donadon-Leal, dentre outros). Tem quase a mesma idade
do poetrix. Existe uma Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas – SBPA, da
qual faço parte, tendo participado de três antologias de poetas aldravianistas.
A aldravia é um poema de seis versos, sendo cada um deles
univocabular. Ou seja, cada verso tem que ter apenas UMA PALAVRA. É, portanto, um poema com estrofes de seis
versos. Não existe preocupação com título, nem com métrica e nem com rima (pode
existir rima e pode ser metrificado, na opção do poeta).
Veja duas aldravias que publiquei, dentre outras, na obra O Livro III das Aldravias (ed. Aldrava Letras e Artes – Mariana – MG, 2015)
1.
pisca
pisca
solidão
vaga
lume
coração
2.
asas
tortas
outono
voa
folhas
mortas
7. Que é poesia,
poeta?
JC: Poesia é tudo
aquilo que tem o compromisso com o sentimento, com a beleza e com a emoção. Em
tudo existe poesia, não só no poema. O poema é uma das formas de se fazer
poesia, pois ela pode existir em outras artes: pictóricas, figurativas,
tridimensionais, como a escultura e a arquitetura, por exemplo. O poema é a
forma mais conhecida de se evidenciar a poesia e, às vezes, ambos são tratados
como se fossem a mesma coisa. O poema é a poesia inaugurada sob a forma de
palavras.
8. Quais livros
já publicou? Fale um pouco de cada um.
JC: Tenho sete
livros infantojuvenis publicados. Lancei-me na literatura infantil com o livro
A MARRECA DE REBECA (Paulus/SP, 2002), que traz poemas sobre animais, insetos,
aves. O livro foi ilustrado pelo artista plástico Eliardo França. Hoje, este
livro está em nova edição pela editora Bagaço/Recife, ilustrado por Eduardo
Souza. Um livro que, há quatorze anos,
vem sendo reimpresso e sendo adotado em várias escolas, tanto aqui no Rio
Grande do Norte quanto em outros estados da federação.
Em seguida, em
2003, publiquei um livro de humor para adultos, QUEM BRINCA EM SERVIÇO, pelo
Sebo Vermelho, do Abimael Silva. Este livro é uma coletânea de máximas de humor
fruto da época em que eu era colunista de humor no Agora, de São José dos
Campos. Agreguei outros gêneros de humor neste livro que pretendo reeditar, com
retirada e acréscimos de textos. Esta obra, como já falei, teve orelha do
escritor e poeta Alex Nascimento, prefácio do escritor e poeta Nei Leandro de
Castro e foi ilustrada pelo chargista Ivan Cabral.
Meu segundo livro
infantil foi O MUNDO EM MINHAS MÃOS, pela editora Bagaço/Recife, 2005. É um livro de poema que fala sobre os cuidados
que devemos ter com o Planeta Terra. E lança um desafio aos leitores mirins: o
que você faria se tivesse o mundo em suas mãos? Este livro vem sendo adotado em
muitas escolas e tem tido releituras muito interessantes por parte dos alunos.
Em 2007, lancei o
livro POEMARES, pela editora Dimensão de Belo Horizonte, ilustrado por Flavio
Fargas. É um livro de poemas sobre animais. Ele foi selecionado pelo MEC para
constar do Programa Nacional de Biblioteca da Escola, com uma tiragem de 32 mil
exemplares, chegando à maior parte das bibliotecas das escolas públicas do
Brasil.
Ainda no mesmo
ano de 2007, publiquei pela Paulinas/SP, o livro A COZINHA DA MARIA FARINHA,
ilustrado por Elma Neves (irmã do ilustrador André Neves). Este livro é um
resgate de algumas das minhas memórias culinárias de criança, quando ajudava
minha mãe lá em Minas. Imaginei a Maria Farinha com sua cozinha mágica,
misturando pratos do sudeste, do sul e do nordeste.
No ano de 2012
publiquei o livro POETRIX, pela editora Dimensão de Belo Horizonte, destinado
ao público adolescente, ilustrado pela mineira Santuzza. Esta obra foi também
selecionada pelo MEC para participar do Programa Nacional Biblioteca da Escola
– PNBE, com tiragem de 30 mil exemplares, também chegando à rede de bibliotecas
escolares de todo o país.
Neste mesmo ano
de 2012 lancei o livro DICIONÁRIO ENGRAÇADO – REFLEXÕES DE UM ADOLESCENTE, pela
editora Paulinas/SP, com ilustrações de Roberto Negreiros. A personagem central
é um adolescente que brinca de ressignificar as palavras. Por exemplo: Vaca = Animal que, quando não dá
mais leite, vira bife.
No ano de 2015,
lancei três livros. POEMAS BRINCANTES, pela CJA Edições/Natal, do meu amigo editor
Cleudivan Jânio, ilustrado por Alexandre Souza. Este livro faz um resgate de
brinquedos e brincadeiras de rua, como pula-corda, bambolê, roladeira,
brincadeiras de roda, dentre outros.
Os dois outros
livros lançados foram de poemas
dedicados ao público adulto. O primeiro deles foi o APENAS PALAVRAS, uma
coletânea de poemas de épocas diferenciadas, que agrupei em cinco temáticas: o
eu poético, o eu feminino, o eu lírico, o eu filosófico e o eu navegante. Este
livro vem tendo grande aceitação também perante o público juvenil.
O outro livro
lançado em 2015 foi o QUANDO CHOVER ESTRELAS, pela editora Jovens Escribas, do
Carlos Fialho, de Natal. Este livro foi dedicado ao poeta Paulo Leminski. É uma
linha de poemas mais experimental que brinca com as palavras. Da mesma forma
que o Apenas Palavras, este livro vem
tendo excelente aceitação por parte do público mais jovem.
Além destes
livros, tive participação em muitas antologias poéticas, inclusive várias de
poetrix e algumas de aldravias e outras de versos com gêneros variados.
Participei de seis antologias da SPVA/RN, três antologias de poetrix e três
antologias de aldravias. E participei de outras coletâneas, como, por exemplo Mil Poemas para Gonçalves Dias e Poetas Del
Mundo, vol. I.
Além disso, organizei
para a União Brasileira de Escritores – UBE/RN, da qual faço parte do conselho
consultivo, a COLETÂNEA DE POEMAS – UBE/2015, reunindo grande parte do que há
de melhor na poesia potiguar contemporânea.
Participei,
também da produção de dois livros para a Comunique Editora, dos jornalistas
Rilder Medeiros e Osny Damásio. Um de educação para o trânsito, do poeta
cordelista Hernani Duarte , intitulado NÃO ATROPELE A VIDA e outro também de cordel, de autoria do poeta
Manoel Cavalcante, que traz o título de DORINHA, A PEQUENA GIGANTE – A MENINA
QUE VENCEU O BUYLING.
9. Decerto tem
muitos sonhos a realizar. Fale de seus projetos.
JC: Estou
organizando alguns novos livros, de gêneros variados. Neste ano de 2016 existem
possibilidades reais de lançar novos livros que já estão nas editoras
CJA/Natal, Bagaço/Recife e Dimensão/BH. Inclusive, a Bagaço está me prometendo
uma reedição do livro O MUNDO EM MINHAS MÃOS em novo formato, com outro
ilustrador. A CJA está com dois originais meus, sendo um de humor para
adolescentes que é o DESDITOS POPULARES e o PASSARADA (poemas infantis), ambos
em fase de negociação. A editora Dimensão está prometendo até o final do ano a
edição meu livro VACA AMARELA PULOU A JANELA, de reinvenção de parlendas.
Deverá ser ilustrado pela premiadíssima artista plástica, escritora e
ilustradora Mariângela Haddad.
Tenho também a intenção de conseguir tempo para organizar um
livro de poemas minimalistas, com poetrix, haicai e aldravias, além de um livro
de prosa-poética, um de contos e outro de poemas para adultos. São muitos
projetos e pouco tempo para concretizá-los, pois existe muita solicitação de
visitas a escolas e também para ministrar oficinas literárias. Como sou
apaixonado por tudo isso, acabo me envolvendo em muitas atividades dessa
natureza.
10. Que livros e
filmes nos indicaria? Se tivesse que escolher apenas um poema, qual seria este?
JC: Essa é uma
pergunta bem difícil. Vamos tentar peneirar, dentre tantos livros e filmes que
me encantaram alguns que eu posso destacar, por uma ou outra razão fortuita.
Livros de autores
nacionais: Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa; O olho de vidro do meu
avô, de Bartolomeu Campos de Queirós; 23
histórias de um viajante, de Marina Colasanti.
Livros de autores
estrangeiros: Cem anos de solidão, de
Gabriel García Marquez; Terra sonâmbula,
de Mia Couto; Pedro Páramo, de Juan
Rulfo; Os nossos antepassados, de
Ítalo Calvino; Dom Quixote de La Mancha,
de Cervantes.
Poetas Nacionais:
Paulo Leminski, Manoel de Barros, Adélia Prado, Mário Quintana, Cecília
Meireles, dentre outros. Drummond é hours
concours.
Filme: “A hora e a vez de Augusto Matraga”
(Roberto Santos, 1966); “Era uma vez no
Oeste” (Sergio Leone, 1968); Antes do
amanhecer (Richard Linklater, 1995).
Gosto de Neruda e
de Pound. Mas um dos poemas que mais me fascina é de um poeta romeno, Mihail
Eminescu (1850-1889) e se chama “Glosa”. É um poema filosófico sobre as
vicissitudes da vida. Vejam:
GLOSA
I
Tempo passa,
tempo vem,
Tudo é velho e
novo é tudo;
Sobre o mal e sobre
o bem,
Interroga-te e
medita;
Nada esperes, nem
receies;
Como as ondas,
passa a onda;
Se te incitam, se
te chamam,
Insensível fica a
tudo.
II
Muita coisa ante
nós passa,
Nós ouvimos muita
coisa;
Quem se lembra
disso tudo
E a escutá-lo
ficaria?
Tu, recolhe-te a
um canto,
Encontrando-te a
ti próprio,
Quando com ruídos
vãos,
Tempo passa,
tempo vem.
III
Nem se incline a
fria agulha
Da balança do
pensar
Para o instante
que se muda
Em ventura
mascarada,
Que da própria
morte nasce
E talvez se esvai
num ápice;
Para aquele que
conhece,
Tudo é velho e
novo é tudo.
IV
Como espectador
no teatro,
Imagina-te no
mundo:
Mesmo que um faça
de quatro,
O seu rosto
reconheces;
Se discuteem ou
se choram,
Tu desfruta-os do
teu canto,
Dessas manhas
refletindo
Sobre o mal e
sobre o bem.
V
O futuro e o
passado
São da folha a
mesma página;
Vê o fim desde o
princípio
Quem aprende a
conhecê-los;
O que foi e o que
será
No presente
possuímos;
Mas quanto à sua
vaidade,
Interroga-te e
medita.
VI
Porque tudo
quanto existe
Se submete às
mesmas leis;
Há milênios e
milênios
É o mundo alegre
e triste,
Outras máscaras e
bocas,
Mesma peça e
mesma voz
Tantas vezes
enganado,
Nada esperes, nem
receies.
VII
Nada esperes,
vendo os míseros
Pelo êxito a
lutarem;
Perderás com
esses tolos,
Apesar do teu
engenho.
Não receies, pois
entre eles
Tentarão
prejudicar-se;
Não procures
acompanhá-los,
Como as ondas,
passa a onda.
VIII
Como um canto de
sereia,
Lança o mundo as
suas redes;
Quando muda
atores em cena
Larga nuvens de
poeira;
Tu, então, passa
de lado,
Nem sequer dês
atenção;
Não desvies o teu
caminho
Se te incitam, se
te chamam.
IX
Se te mexem, tu
afasta-te,
Se difamam, nada
digas;
De que serve o
teu conselho,
Se bem sabes
quanto valem?
Digam eles o que
disserem,
Passe quem passar
no mundo,
Para não gostares
de nada,
Insensível fica a
tudo.
X
Insensível fica a
tudo,
Se te incitam, se
te chamam,
Como as ondas,
passa a onda;
Nada esperas, nem
receias;
Interroga-te e
medita;
Sobre o mal e
sobre o bem,
Tudo é velho e
novo é tudo;
Tempo passa, tempo
vem.
(MIHAIL EMINESCU)
Observem que a
estrofe X é o inverso da I, lida de baixo para cima, lida ao contrário. Observem
também que a partir da estrofe II, cada uma
das estrofes se encerra com um dos
versos da estrofe I. Ou seja, ele lançou um mote na estrofe I, e vai glosando-a
ao longo do poema. Daí o nome GLOSA.
Para mim é um dos
poemas mais belos e de maior profundidade que já vi. Muito bem construído e tem
um conteúdo filosófico do mais alto nível. Não é à toa que Mihail Eminescu foi
considerado um dos maiores poetas da Romênia.
11. Deixe-nos,
junto com as palavras finais, seus contatos pessoais, meios de adquirir suas
obras e mais alguns textos de sua autoria.
Para encerrar
esta entrevista, gostaria de dizer que hoje faço parte da Sociedade dos Poetas
Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN, sendo um dos pioneiros desta
sociedade, tendo participado de seis dentre suas sete antologias poéticas.
Faço parte também
do conselho consultivo da União Brasileira de Escritores – UBE/RN.
Sou membro da
Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas – SBPA (Mariana/MG), além de ser
membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – ALACIB –
Mariana/MG, ocupando a cadeira 28, representando Parnamirim/RN.
No ano de 2015 fui
agraciado com o título honorífico de Cidadão Natalense.
Recebi diploma de
Cônsul Poeta Del Mundo de Parnamirim, concedido pelo Movimento Poetas del
Mundo.
Sou patrono de
uma sala de aula na Escola Municipal Erivan França, da Zona Norte de Natal.
Sou também
patrono de uma biblioteca na Escola Municipal professora Jacira Medeiros, de
Parnamirim/RN, a Biblioteca José de Castro, que vai completar 02 anos de
existência, agora no dia 30 de setembro de 2016.
Importante dizer
que mantenho uma fanpage no facebook no seguinte link: https://www.facebook.com/Poemas-Prosas-Veredas-de-mim-155321637965770/
Tenho também
textos publicados no Recanto das Letras. http://www.recantodasletras.com.br/autores/josedecastro
Neste endereço
tenho quase 2.300 textos, com quase 700 mil acessos.
Meus livros podem
ser encontrados na Livraria Nobel Salgado Filho, na Livraria Paulinas, na
Cooperativa Cultural Universitária (Campus da UFRN).
Venho colaborando
regularmente com o jornal “O Galo” (que foi retomado pela UBE/RN e pela
FJA/RN), com a revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, com a revista
cultural Kukukaya, organizada pelo
escritor Alfredo Neves, com o Blog do Marcelo Abdon e com o blog Substantivo
Plural, de Tácito Costa e Sérgio Villar.
Estou
referenciado como autor potiguar em duas importantes obras:
Dicionário de escritores
norte-rio-grandenses: de Nísia Floresta à contemporaneidade. Natal: EDUnP, 2014, de autoria da escritora,
professora e pesquisadora Conceição Flores. (p. 200)
Impressões Digitais – escritores potiguares
contemporâneos, vol I.
Natal: Offset, 2013, de autoria do escritor e pesquisador Thiago Gonzaga (p.
99)
Tenho uma peça
teatral inédita em livro (ÓPERA DOS GATOS), que já foi encenada durante 4 dias
no auditório do Colégio das Neves, por uma equipe de professores e alunos
daquela escola. É uma comédia musical infantojuvenil.
Vez por outra
faço trabalhos de revisão de livros, principalmente a convite das editoras
Sarau das Letras, CJA Edições e de autores que publicam suas obras de forma
independente. Dentre vários livros revisados, posso destacar o PIPA VOADA SOBRE
BRANCAS DUNAS, do autor Junior Dalberto, CORAÇÃO DE PEDRA, de Damião Gomes,
CARTAS DE SALAMANCA e CASA DAS LÂMPADAS, de David Medeiros Leite; O MENINO DAS
CORES, de Clemilson Sena; DORINHA, A PEQUENA GIGANTE, de Manoel Cavalcante; A
LENDA DO DRAGÃO DOURADO, de Gisele Borba; MATRYOSHKA, de K.L.Diógenes; ACÁCI,
MUNDO 17, de Gustavo Diógenes; ANCORADOUROS, do poeta Kiko Alves; LUTO DOCE, da
poeta Tatiana Morais; dentre tantos outros livros.
Da mesma forma,
venho sendo muito solicitado para prefaciar obras e escrever orelhas de livros
de muitos autores locais, bem como textos para contracapas.
Finalmente, tenho
tido a alegria e a honra de participar de muitas feiras literárias e encontros
de leitura aqui no estado. Posso destacar: FLIPIPA, FLIq (Natal/RN), Feira
Literária de Água Nova/RN, FLIGARG (Acari/RN), Feira Literária de Nísia
Floresta, Feira Literária de Natal – FLIN e dos Seminários de Educação e
Leitura – SEL, organizados pela professora e doutora Marly Amarilha, além de
ter participado de várias edições do Seminário Potiguar Prazer em Ler
(Natal/RN), que neste ano comemora 10 anos de existência. Sempre participei do
Prazr em Ler ora como palestrante, ora como coordenador de mesa, ora
ministrando oficinas e lançando livros.
Tive a
satisfação, também de participar do Grupo de Trabalho – GT, nomeado pela
Prefeitura Municipal de Natal, como voluntário, representando a União
Brasileira de Escritores – UBE/RN, encarregado de elaborar o Plano Municipal do
Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas de Natal. O PMLLLB (ou o
Plano dos 3 L), está em fase de alocação de recursos e irá para audiência
pública na Câmara dos Vereadores para virar Lei ainda neste ano de 2016. Nele estão previstas ações de curto, médio e
longo prazo para se incrementar a leitura na cidade do Natal, inclusive existe
a previsão de criação e instalação de quatro bibliotecas municipais, uma em
cada região administrativa da cidade. O slogan criado é bem significativo:
NATAL QUER LER MAIS. E, claro, em qualquer tempo, sempre Natal haverá de querer
ler mais, pois o direito ao livro e à
leitura é um dos direitos básicos essenciais a qualquer cidadão.
Uma das grandes
alegrias também que tenho hoje é a de poder integrar a Caravana de Escritores
Potiguares, projeto idealizado e coordenado pelo escritor e pesquisador de
literatura potiguar, Thiago Gonzaga. Junto com vários autores, viajamos pelo
Estado visitando escolas e institutos federais de educação, sempre levando
livros e incentivando o trabalho de leitura e escrita na busca de fazer do Rio
Grande do Norte um estado de leitores.
Como já falei,
tenho vários projetos literários em andamento, com a previsão de lançamento,
ainda em 2016, de alguns livros para o público infantojuvenil.
Ainda acalento a
vontade de me dedicar um pouco mais à prosa, principalmente a prosa poética. Tenho
vários textos escritos em fase de
organização. E, com certeza, publicarei novos livros infantis e infantojuvenis,
sem me esquecer de poemas para “gente grande”.
Afinal, a poesia
é a linguagem dos deuses. E, como sempre digo: “É preciso a mão do poeta para
reinventar o mundo.”
E, para encerrar,
um poema meu, ainda inédito, que aprecio muito.
UM DIA SEREI POETA
Um dia fui professor.
Qualquer dia serei poeta.
E, quanto mais poeta, mais aprendiz eu serei.
E sendo aprendiz, voltarei a ser professor.
Pois o professor,
quanto mais pensa que ensina,
mais se percebe ignorante de tudo.
Qualquer dia serei poeta.
E, quanto mais poeta, mais aprendiz eu serei.
E sendo aprendiz, voltarei a ser professor.
Pois o professor,
quanto mais pensa que ensina,
mais se percebe ignorante de tudo.
E o poeta,
não sabendo de nada, desconfia de tudo.
Ignorância é coisa boa,
que nos faz ir em frente, duvidar e perguntar.
não sabendo de nada, desconfia de tudo.
Ignorância é coisa boa,
que nos faz ir em frente, duvidar e perguntar.
Poeta é o ser das incertezas.
Quando o poeta não sabe a resposta, ousa inventar.
Tudo o que o poeta desconhece ele faz de conta.
Tudo o que o poeta desconhece ele faz de conta.
Alimenta-se de sonhos e mistério, o poeta.
Um dia não serei mais poeta.
Mas a poesia há de continuar sendo.
Porque a poesia é tudo aquilo
que tem a beleza de permanecer.
Eu poeta, efêmero me confesso.
Risco o céu sem deixar traço.
O infinito é ave sem ninho.
Feito andorinha, passo.
Feito andorinha, passo.
(José de Castro)
Contato: josedecastro9@gmail.com
http://www.recantosdasletras.com.br/autores/josedecastro
Entrevista em
versos com José Acaci Rodrigues
ENTREVISTA COM O POETA E PROSADOR JOSÉ DE
CASTRO
ENTREVISTA COM WILARD MONTEIRO E OUTROS
ARTISTAS POTIGUARES
ENTREVISTAS EM EXPOSIÇÃO DE WILARD
MONTEIRO
RENATO SILVA:
SANTACRUZENSE, POTIGUAR E CIDADÃO DO MUNDO
ENTREVISTA COM
ROBSON RAMON
VINDA DE MÉDICOS
CUBANOS, ENTREVISTA COM DR. PETRÔNIO SPINELLI
ENTREVISTA COM O
CINEASTA BUCA DANTAS
ENTREVISTA COM O
AUTOR DE MEIA PATA
Espero ter contribuído de alguma forma para a divulgação da literatura potiguar. E espero, também, que as pessoas cada vez mais busquem os livros e coloquem a leitura como um dos esteios de sua formação cultural. Principalmente a leitura literária, seja prosa ou poesia. De coração, agradeço ao amigo Gilberto Cardoso dos Santos pela oportunidade de divulgar meu trabalho neste belo espaço. Sucesso a todos os seus empreendimentos. Viva a leitura e a escrita!!!
ResponderExcluirPoeta, nós nos sentimos honrados por suas generosas e esclarecedoras respostas. Não tenha dúvida de que muito contribuiu. Em um dos livros que leu capa a capa na infância, a Bíblia, lemos: "Lança o teu pão sobre as águas e depois de muitos dias o acharás". Não tenho dúvidas de que esta entrevista será de grande utilidade ao longo do tempo.
ResponderExcluirVerdade, amigo... Sempre gostei dos textos bíblicos, muitos deles poéticos, como os Salmos de Davi e os Cânticos e o Eclesiastes... É um dos mais belos livros de todos os tempos... Eclesiastes 3
Excluir1 Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:
2 tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
3 tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir,
4 tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar....
Então, amigo, é tempo de celebrar a vida com POESIA...