quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

DISCURSO DE OBAMA SOBRE RELIGIÕES


"...Com o aumento crescente da diversidade americana, os perigos do sectarismo são maiores que nunca. O que quer que nós fôssemos antes, hoje não somos mais uma nação cristã, ou pelo menos não apenas cristã. Somos também uma nação judia, uma nação islâmica, uma nação budista, uma não hindu, e uma nação de descrentes. E mesmo que tivéssemos apenas cristãos, e expulsássemos todos os não-cristãos dos Estados Unidos da América, qual cristianismo ensinaríamos nas escolas?? Seria o de James Thompson ou o de Allan Sharper? Quais passagens da bíblia deveriam ser a nossa política? Deveríamos seguir o Levítico, que diz que a escravidão é aceitável? Que comer camarão é uma abominação? Ou vamos seguir Deuteronômio, que diz para apedrejar um filho, se ele se desviar da fé? Ou vamos nos apegar apenas ao sermão da montanha? Uma passagem que é tão radical, que é improvável que nosso departamento de defesa sobreviveria à sua aplicação (risos e aplausos da platéia). Então antes de nos empolgarmos demais vamos ler as nossas bíblias. As pessoas não têm lido suas bíblias. O que leva ao meu segundo argumento, que a democracia exige que os que são motivados pela religião transmitam suas preocupações com relação ao todo, ao invés de valores específicos. Ou seja, que o proponente esteja sujeito à argumentação razoável. Por exemplo, eu posso ser contra o aborto por motivos religiosos, mas se eu quiser aprovar uma lei proibindo a prática, eu não posso usar os ensinamentos da minha igreja ou evocar a vontade de Deus. Eu tenho que dizer por que deveria ser proibido para as pessoas de todas as crenças, inclusive para as pessoas que não têm crença nenhuma. E isso vai ser difícil para as pessoas que acreditam na inerrância da bíblia, como muitos evangélicos, mas para uma decisão realista não temos outra escolha. A política depende da nossa habilidade de persuadir os outros a se acomodarem à nossa realidade comum. Ela envolve dar o braço a torcer às vezes. E a um certo nível fundamental, religião não permite dar o braço a torcer. Está na ordem do impossível. Se Deus fala, espera-se que os seguidores sigam suas ordens, não importando as conseqüências. Então submeter a sua própria vida a esse estilo rígido pode ser sublime, mas fazer as nossas decisões políticas baseadas nesses compromissos, pode ser algo perigoso, e se vocês duvidam deixem-me dar um exemplo: Todos nós conhecemos a história de Abraão e Isaque. Abraão é ordenado por Deus a sacrificar seu próprio filho. Sem exitar ele sobe até a montanha e amarra seu filho no altar. Ele ergue a faca e prepara para agir, como Deus ordenou. Bem, nós sabemos que as coisas acabaram bem, Deus mandou um anjo interceder no último segundo, e Abraão passa do teste de devoção de Deus. Mas é justo dizer se que qualquer um de nós, ao deixar essa igreja, víssemos Abraão no teto de um edifício, erguendo sua faca, nós, no mínimo, chamaríamos a polícia! E esperaríamos que o conselho tutelar tirasse Isaque de Abraão. Nós faríamos isso porque nós não escutamos o que Abraão escutou. Não vemos o que Abraão vê. Então o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquilo que todos nós podemos ver, e todos nós podemos escutar: as leis comuns e a razão básica. Então temos trabalho pela frente, mas tenho esperança de preencher a lacuna que existe e vencer o preconceito que aparecem nesse debate, e tenho esperança que milhões de crentes nos EUA querem que isso aconteça. Não importa o quão religiosos ou não-religiosos sejam, as pessoas estão cansadas de ver a religião como arma de ataque. Elas não querem que a religião seja usada para diminuir e dividir as pessoas, porque no fundo não é como elas vêem a fé em suas próprias vidas."

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