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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

ATIRE O PRIMEIRO PASSO

 


ATIRE O PRIMEIRO PASSO


Nas altas horas, o centro do mundo gira na cabeça de uma só pessoa acordada. Ela pensa que, sem ela, o mundo ficaria mais triste, mais sem graça, e por aí vai. Seu pensamento, há muito, não passa do próprio umbigo, e isso a faz egoísta na essência profunda do que o termo significa. Estira-se na cama pensando no prato que irá ingerir amanhã, pois sua maior atividade é abrir a geladeira, além de outras menores, como assistir a vídeos e tirar uma soneca.


Mas, mesmo com essa rotina, há uma chama que arde em seu interior, uma inquietude que insiste em não se apagar. Ela se levanta, puxada por um impulso inexplicável, e caminha até a janela. A cidade abaixo está iluminada, cheia de vidas que ela não conhece. O movimento constante parece lembrá-la de algo que perdeu, talvez um sonho que nunca se permitiu sonhar.


Enquanto observa, um desejo surge: não apenas existir, mas sentir. Ela se pergunta se é capaz de romper as correntes do comodismo, de buscar algo que vá além da geladeira e das telas.


Naquele momento, a solidão parece uma escolha, no entanto ela não quer ficar para trás em um mundo que gira tão veloz. Decide que amanhã não será igual, mesmo não sabendo como, sabe que precisa tentar.


Acorda com a luz do dia filtrando-se pela cortina, e o primeiro pensamento que invade sua mente é sobre a promessa que fez a si mesma na noite anterior. Levanta-se, com a determinação ainda fresca, e se olha no espelho. O reflexo parece desafiá-la a ser mais do que apenas uma sombra do que poderia ser.


Após um café simples, uma ideia a atravessa: que tal um passeio pela cidade? Algo tão simples, mas que poderia ser o primeiro passo em direção a essa nova vida. Com um misto de ansiedade e excitação, coloca uma roupa que não usa há tempos e sai de casa.


As ruas, agora, são um mosaico vibrante de cores e sons. A cada passo, ela sente uma leveza que não sentia há bastante tempo. Observa pessoas apressadas, vendedores nas esquinas, artistas em performances de segundos semafóricos. Cada rosto é uma história, e, por um instante, ela se imagina sendo parte de todas elas.


Passa por um pequeno café e, sem pensar duas vezes, entra. O aroma do café fresco e os sorrisos dos atendentes a acolhem como um abraço. Ela pede uma xícara e, ao se sentar, percebe que ainda há vida na simplicidade. E é ali, com a xícara quente nas mãos, que começa a escrever um diário. Palavras fluem como um rio, contando não apenas suas frustrações, mas também suas esperanças.


A tarde avança e ela se permite observar mais. A cada esquina, uma nova oportunidade de conexão. Conversa com um artista de rua, troca ideias com uma mulher que pinta quadros coloridos e até se junta a um grupo de pessoas praticando yoga no parque.


E assim, no calor daquele dia, algo novo vai brotando dentro dela. Não é apenas sobre sair de casa, mas sobre abrir-se para o mundo e suas infinitas possibilidades. Ela entende que a mudança não acontece da noite para o dia, mas que cada pequeno passo conta.


Ao voltar para casa, já não sente a solidão da noite anterior. Há uma nova chama em seu coração, e ela sabe que, mesmo que o caminho seja longo, hoje, pelo menos, ela começou a caminhar.


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 25.09.2024 - 07h51min.




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