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quarta-feira, 2 de outubro de 2024

POR RECOMENDAÇÃO MÉDICA



POR RECOMENDAÇÃO MÉDICA 


Ele perguntou-se: o que fiz de proveitoso ontem? Suas lembranças resgataram a lagoa das dunas e a expressão do casal de espanhóis com quem tentara dialogar. Naquela ocasião, teve que falar lentamente, pois a fama de falar rápido atingiu ambas as nacionalidades, e quase ninguém se entendeu no primeiro momento. 

O grupo saiu em fila indiana, pilotando os quadriciclos alugados para aquele fim. Trilhas foram percorridas, com ondulações na areia, corredores de árvores sombreando poeira e fumaça e fazendo da data um dia repleto de horas inéditas.

Enquanto os motores roncavam, a mulher no banco de trás dizia: "Mais devagar." As risadas ecoavam pelo ar quente, misturando-se ao som dos motores e aos gritos dele: "Isso não é para velho, não!" Ao parar em um mirante, contemplou a vastidão da floresta que o fez esquecer os problemas.

O casal de espanhóis, agora mais próximo, começou a gesticular e sorrir para as fotos, capturando a essência da amizade inesperada. Ao final do dia, sentiu que aquele momento foi um lembrete de que as melhores memórias são construídas na companhia dos outros, mesmo que a comunicação seja um desafio.

O pôr do sol tingia o horizonte de laranja, e ele se perguntava quantas outras experiências como aquela ainda estariam por vir. O que mais poderia descobrir? Com essa reflexão, adormeceu naquela noite, sonhando com novas trilhas a serem exploradas.

Na manhã seguinte, ao olhar pela janela, observou os currais dos animais expostos para passeios e divertiu-se com um carneiro correndo atrás de dois jovens espalhafatosos que gritavam por socorro.

Voltando para si mesmo, pensou em uma caminhada pelas trilhas que ainda não conhecia, talvez até mesmo um novo diálogo com viajantes que cruzassem seu caminho.

Ao chegar à lagoa, encontrou um grupo de turistas conversando animadamente. Aproximou-se e logo estava rindo sem se importar com a barreira do idioma que já não parecia tão imponente.

Enquanto o sol se punha novamente, ele sentou-se no veículo, observando o espetáculo das cores no céu. Com um novo ânimo, pilotou de volta para o hotel-fazenda. Ao chegar, notou que alguns dos turistas que conhecera antes também estavam ali, reunidos em um pequeno grupo.

— Vamos fazer um churrasco!— sugeriu um deles. A ideia de uma refeição compartilhada em boa companhia parecia promissora. Enquanto os preparativos aconteciam, conversaram sobre suas aventuras, os lugares que visitaram e os desafios que enfrentaram, sempre com bom humor.

— Cada viagem tem seu próprio encanto, mas são as pessoas que encontramos que tornam tudo memorável — disse um deles enquanto montava sua câmera.

As horas passaram entre risadas. O cheiro do churrasco pairava no ar, e logo estavam compartilhando pratos e brindes. Naquele instante, sentiu-se grato por ter deixado a zona de conforto e pronto para explorar não apenas novos lugares, mas também novos aspectos de si mesmo.

Quando finalmente se despediu dos demais, uma sensação estranha o envolveu, e foi aí que percebeu que, devido ao seu problema mental, aqueles momentos, aparentemente divertidos, serviriam apenas para contar à sua terapeuta que o dever de casa havia sido feito, mas, na verdade,  foi aí que ele se deu conta o quanto foi difícil interpretar o papel de uma pessoa sociável.


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 02.10.2024 - 07h51min.




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