ASSIM ESCREVI SOBRE AS CHUVAS DE VERÃO.QUE ESPERAMOS VOLTEM AOS TRÓPICOS NORDESTINOS
A cena foi deslumbrante, de repente riscam os céus raios silentes que prenunciam trovões retumbantes, e embalados em ventos de travessia, açoitam os cúmulos que lacrimejam de forma abruta, são as chuvas de verão antecipando-se às águas de março.
Tanajuras se perdem na negritude da noite, não encontram o seu agasalho para a reprodução e abraçam o silêncio sepulcral da morte, um suicídio coletivo, mesmo abotoadas de larvas. Os bem-te-vis ribeirinhos se deleitavam nos charcos colhendo as mariposas suicidas e agonizantes.
Criam a biodiversidade em todos os quadrantes da terra sertaneja. Enchem os pequeninos frutos vermelhos e secos do mangará da jurema preta, animam a juriti ao ofício de aparar naco a naco os espinhos da forquilha do mandacaru, e nela depositar resíduos de capim panasco, fazendo dessa tecitura o seu ninho inviolável.
A flor do mandacaru em fase outonal, dá lugar a fruto que se abre em polpa preta e branca, fazendo a primeira refeição de concrizes e galos de campina. Os campos antes secos, estorricados, recebem em seus pequenos talhos as sementes em cuja germinação nasce o espetáculo da vida reprodutora de ramas e grãos alimentares de viventes dos mais díspares e longínquos grotões da natureza sertaneja.
Põe fim ao jejum do lagarto, que passara a longa estiagem consumindo a cartilagem de sua própria cauda, acorda o mangangá do seu longo exílio em orifícios do marmeleiro seco, despertando para visitação às flores do campo, desde a jitirana multicor à minúscula e precoce flor do camará.
As aves de arribação fazem a grande travessia oceânica, e trocam as savanas africanas pelas paragens e descampados da caatinga nordestina, para o fim de depositarem seus ovos, sabem que as águas do verão se abraçarão no abril chuvoso, ante-sala da estação das sementes, pois, os pastos estão maturados e há alimento para os seus filhotes.
Jair Elói de Souza
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