CADA MANIA!
Parei o carro em frente ao prédio para esperar alguém. Durante a espera vejo sair um senhor com um cachorrinho branco nos braços. Ele mancando, óculos de grau, camisa de mangas compridas azul e um saco plástico no bolso. Colocou o cãozinho na grama e ficou olhando. Percebi na cena tratar-se do mimo sendo deixado para defecar.
Virei a cara achando ridículo um homem beirando os cinquenta se prestar a esperar um cãozinho inocente fazer suas necessidades. Ele me dava combustível para ir além do que estava testemunhando. O cão farejava e nada de obedecer ao propósito. Deveria ser um divorciado, pensei, e não encontrando ninguém compatível com suas manias, adotou um cachorro para ter o que fazer no final do expediente.
Não sabia ele que estava sendo observado. Deduzi que ele já tivera família e hoje paga pensão para a mulher ficar contente nos braços de outro. Ele com o cachorrinho e eu fofocando sozinho. Se eu os convidasse para um passeio ficaria apertado no meu taxi. Durante o passeio, o expectador de coco diria à sua mulher: está vendo no que deu você sair de casa!? Abandonou-me para ficar com esse... aí! É o Alberto. Ele tem nome. Por sinal é quem leva sua filha para a escola todos os dias. Sim, mas foi você que pediu o divórcio. Claro, eu não aguentava você tocando bateria a noite toda. E eu dizia: venha se deitar, Jerônimo! E você por pirraça continuava fazendo barulho.
E você!? Com essa mania de falar ao celular, deixava-me sozinho por horas enquanto fofocava com sua irmã. Não era minha irmã não, idiota. Era o Alberto. Eu dizia que era minha irmã, e você muito desligado nem percebia. Quer dizer que você já me traía antes de sair de casa? Não, eu já lhe traía antes de entrar. Mamãe, então a senhora também me traía! Cala a boca Cecília que o assunto ainda não chegou no berço.
Diga-me onde eu errei, perguntaria o senhor barrigudo. Você não errou, quem errou fui eu em te aceitar para ser o pai de Cecília... Alguém bateu. Despertei do meu devaneio e baixei o vidro. Era minha cliente que havia chegado. Olhei de lado e vi o senhor na espera. Acenou para a minha cliente e perguntou: Cecília já chegou do colégio? Sim, respondeu a mulher. Ficou com a empregada e pediu para você levar James Joyce assim que terminar o passeio. Arranquei em direção ao shopping me perguntando como foi que adivinhei o nome de Cecília.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 08/04/2021 – 21:28
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