domingo, 21 de fevereiro de 2021

É NORMAL O ESTRANHAMENTO - Heraldo Lins

 


É NORMAL O ESTRANHAMENTO 

  


Fiz uma visita a Florianópolis e me hospedei na casa de um dos manezinhos da Ilha. Essa é a denominação dos nativos que têm um linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Passei alguns dias por lá querendo investir em “lugar de instantinho”. Visitei alguns que estavam expostos à venda pesquisando se “lugar de instantinho” seria um bom investimento na capital catarinense. Desisti do investimento em motéis porque, com a pandemia, há uma tendência para o amor virtual.  


A comunidade em que eu estava hospedado era um pouco afastada, é tanto que sinal de celular não chega. Tive que conversar com os proprietários utilizando o “poste de prosa”. De vez em quando eu tinha que inserir as “pastilhas de prosa” para continuar a conversa. Não tive problemas em me comunicar, tendo em vista que os orelhões de lá realmente funcionam. Até para chamar um “avião de rosca” tive que utilizar o “poste de prosa”. Lá existe, mesmo a comunidade sendo bem afastada, um heliporto constantemente utilizado por bilionários que visitam o lugarejo, e eu, mesmo não sendo desse time, usufrui daquela estrutura. 


As pessoas de lá são muito simpáticas. Fui convidado a jantar sabendo que seria servido, principalmente, “boi ralado”. O anfitrião disse que sua esposa fazia um “boi ralado” muito delicioso. Passei algum tempo comendo carne moída esperando o tal do “boi ralado”. No final foi que percebi que acabara de comer o famoso prato. Pela manhã deu-me vontade de saborear pastel de carne. Viciado como sou em pastel, só consegui meu objetivo quando alguém pediu para mim “envelope de boi ralado”. No terceiro dia de estada, pedi “envelope de boi ralado” com “semente de galinha”. Eles preparam muito bem o pastel de carne com ovos. 


No final da minha estada tive que trazer, em uma gaiola, um “crocodilinho de parede”. Eles embrulharam e me presentearam com certo cerimonial o pacote bem ornamentado. Disseram-me que era para dar sorte. Quando eu cheguei aqui e abri o pacote, dei de cara com uma lagartixa. O simples “crocodilinho de parede” teve que subir no pé de jambo do meu quintal e ficar por lá com outras dezenas de semelhantes que habitam o meu pomar. Agora, para voltar ao meu linguajar normal, vou lanchar três sementes de galinha com sal.



Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Santa Cruz/RN, 24/01/2021 –15:38

showdemamulengos@gmail.com

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3 comentários:

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