quinta-feira, 22 de agosto de 2019

APELO DE UM CONVOCADO À GUERRA - Hélio Crisanto


APELO DE UM CONVOCADO À GUERRA
Imploro em nome da paz
Não quero ser assassino
Matar nunca fui capaz
Nem tive instinto ferino
Tire de mim esse carma
Nunca peguei numa arma
Como posso ir numa guerra?
Ter que pegar num fuzil
Ferir quem não me feriu
Espalhar ódio na terra
Para ferir ser humano
Confesso não tenho alma
Como posso causar dano?
Sendo uma pessoa calma
Junto a outros combatentes
Ter que matar inocentes
Provocar destruição
Jogar bomba nas aldeias
Destroçar casas alheias
A bordo de um avião
O que farei nos conflitos?
Cheio de seres perversos
Com seus poderes malditos
De maldades submersos
Ser vítima de mãos vorazes
Nas chamas dos camicases
Morrer sem pedir socorro
Ter que deixar meus filhinhos
Sofrer por homens mesquinhos
Entrincheirado num morro
Como um soldado guerreiro
Não quero subir em pódio
Ter fama de fuzileiro
Combater ódio com o ódio
Matar por causa banal
Ser um herdeiro do mal
Destruir sonhos e lares
Ser porta-voz da injustiça
Como arauto da cobiça
Derramar sangue nos mares
Será justo eu aceitar
Esse pedido tirano?
Alguém querer me jogar
Neste antro desumano?
Matar, chacinar crianças
Liquidar as esperanças
De um mundo já degradado
Botar fogo nos canhões
Amedrontar as nações
Lançando o fogo cruzado
Se me forçarem a lutar
Jogarei as armas fora
Sem temer em deserdar
Tiro a farda e vou embora
Dispensarei as medalhas
Fugirei sã das batalhas
Porém de cabeça erguida
Se a guerra nada constrói
Deserdarei como herói
Sem ter a honra ferida
Livrai-me dessa má sorte
Chega desse pesadelo
Prefiro as dores da morte
Clamo fazendo esse apelo
Podem gritar com alarde
Me chamarem de covarde
Meu pedido aqui se encerra
Não quero essa violência
Ferir minha consciência
Como assassino de guerra
(Hélio Crisanto)

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