terça-feira, 30 de julho de 2019

MEMÓRIAS DE UMA LEITORA - Juciana Soares



Era meio-dia e, como sempre, eu estava esperando ansiosamente, meu pai voltar do trabalho. Sabe aquela história de que para a menina o pai é o primeiro amor? Pois foi assim, meu pai era meu herói, embora, quando o tempo foi passando, percebi que seria meu bandido também! Enfim, essas são memórias sobre leitura, então, vamos direto ao ponto!
        Meu pai chegou do trabalho com um presente para mim, era uma caixa de papelão cheia de lindos livros com histórias de princesas... Nunca irei esquecer a emoção de receber aqueles livros tão coloridos, apesar de meu pai ter sido o herói que me apresentou ao fascínio dos livros e, ao mesmo tempo, o bandido que nunca leu nenhuma história pra mim.
        No entanto, depois de ter vivido muitos dissabores em minha relação pai e filha, mesmo meu pai tendo me dado a alcunha de “a trabalhosa”, não posso cometer a ingratidão de não reconhecer, tudo o que sou devo a meus pais.
Hoje, sei que a formação de um leitor depende muito de os pais lerem para seus filhos, então agradeço, porque apesar de ele não ser um leitor, e não ter dedicado seu tempo para ler para mim, papai teve a sensibilidade de me oferecer livros.
Posso não ter tido o privilégio de ter pais cultos e amorosos que liam para inspirar meus sonhos antes de dormir, mas a vida me compensou, sou caçula e cresci vendo minhas duas irmãs lendo Agatha Christie e Sidney Sheldon.
Desse modo, não herdei apenas roupas que elas não queriam mais, mas também esses livros, por mais que fosse difícil esperar que elas perdessem o interesse neles também. E como era difícil esperar para tê-los em minhas mãos!
Mesmo tendo sido enganada, inúmeras vezes, pela rainha e pelo rei do romance policial e nunca ter tido o prazer de descobrir o mistério, esse contato com a literatura universal foi muito engrandecedor para meu desenvolvimento enquanto leitora, o que me deu fôlego para adentrar por leituras cada vez mais profundas.
Portanto, minhas experiências enquanto leitora comprovam que o homem é um ser social e está sujeito à influência do meio. Mais que isso, parafraseando Pierre Bourdieu: “o hábito de ler pode ser construído socialmente desde a família”. Sendo assim, sou imensamente grata a minha por ter cumprido seu papel.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”