AS FACES DA PAIXÃO
(Nailson Costa)
“É hoje! Esta noite será especial”,
pensava Pedro em Marieta, que sumira da vida dele havia três longos e sofridos
anos, sem deixar rastro, perfume, recado. Pedro apaixonara-se pelos olhos
alegres-esverdeados de Marieta. Apaixonara-se, também, pelas covinhas de suas
bochechas sensuais, quando de seu sorriso contagiante. Pedro sofria de amor por
aquela mulher madura, inteligente, educada, simpática e linda! E a coisa mais
patética de um ser humano é o sentimento de um varão apaixonado! Os homens são
bobões, não têm a leveza, a discrição e a camuflagem feminina no campo das
grandes batalhas passionais. Revela-se
um fraco! E Pedro, havia três anos, perguntava por Marieta aos amigos próximos
e obtinha deles os seus silêncios frios como resposta. Marieta sumira da sua
cidade, de sua rua, das redes sociais... nada de notícias dela! Sumira. Pedro
até pensou em procurar a polícia, mas algo lhe dizia que Marieta estava fazendo
uso daquele charminho característico do DNA feminino, aquele semelhante à
própria sombra, que, quando de frente ao seu par, foge, afasta-se, com
aproximação deste, mas se este, ao lhe dar as costas e sair, desistir do
contato direto com a sombra, esta corre
à sua procura. Era assim que Pedro pensava e confortava-se com isso, a certeza
de que Marieta o amava! As mulheres são como as sombras: cheias de charminhos e
frescuras. E era assim que Pedro pensava a respeito do sumiço de Marieta.
Pedro tinha uns feelings fiéis
aos seus bons pressentimentos e, na manhã daquele 31 de dezembro, ele teve a certeza de que ela apareceria linda, alegre, com seus olhos
alegres-esverdeados e suas covinhas no engaste de suas bochechas sensuais a
sorrir e a dizer-lhe “Feliz ano novo, meu amor”.
- Tenho que me fazer lindo,
também – disse Pedro a ele mesmo.
Diferentemente das mulheres, e
possivelmente de Marieta, ele não foi ao salão de beleza , mas foi à academia,
malhar os músculos, para apascentar a alma.
Pedro não aguentaria mais aquelas poucas horas de distância do seu
amor. E três anos de espera nunca são como as horas
que antecedem a festa, o baile, o encontro, o abraço, o “Como você está linda”,
o beijo tão esperado. Essas horas são os doces, as entradas, são o
avant-prémiere, as deliciosas preliminares do momento ansiosamente aguardado.
Pedro toma banho, canta no banheiro, bota um perfume
másculo, aquele com o cheiro de todos os espinhos verdes da natureza e ameaça
dar algumas rodadas diante do espelho, mas desiste e veste um branco amarelado
pela espera, penteia os fios compridos de sua paixão e toma um uber, que
vai ao encontro de Marieta, depois de três longos e sofridos anos de sua
ausência .
Pedro adentra o salão sem a
leveza, a sagacidade e a discrição das mulheres belas. É que os homens não têm o
dom dos fingimentos necessários! Sequer sabem disfarçar a angústia de suas
procuras. Baile animado, lotado de bebidas quentes e de comidas sensuais, com as
suas mesas todas fartas de pessoas fáceis e Pedro sério e ansioso, com a sua angústia destoando da alegria daquele
momento. Era um senta, levanta, estica o pescoço ... as horas passando, “Opa, ela chegou!”, toma uma, não era ela, toma outra, olha pro relógio
e uma garota ri, toma mais uma,” Agora é ela”... Cadê Marieta?
Amanhece o dia, salão vazio e
triste. Pedro, sentado, sozinho, à mesa lotada de comidas frias e das bebidas
dela, sente a mesma dor de três anos antes, quando o excesso de bebida levara-o,
às pressas, ao hospital , infartado, para não mais acordar. Acorde, Pedro.
Pedro havia falecido havia três anos, e Marieta chorara muito a sua partida,
mas refizera a sua vida, casando-se com Leandro, que amava Marieta com as
mesmas forças de Pedro e que lhe dera dois lindos filhos, Ilana Larissa e Pedro
Felipe.
- Acorde, Pedro, precisamos descer o segundo
UMBRAL do salão de sua outra pena! Vamos?
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