quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Tempo - Cecília Nascimento


O Tempo

Quando criança, corri com o tempo para crescer.
Quando adolescente, almejei já ser adulto e parar de sofrer.
Na juventude, corri contra o tempo para poder crescer na academia, no trabalho, na “vida”.
Quando adulto, me propus a não perder tempo para avançar na carreira.
Avancei demais em tempo de menos.
Velha já estou. Hoje sei. Quando adulto, dei meu tempo para o trabalho e ele sugou-me a essência da visa.
Quando jovem, cedi meu empenho ao mercado e ele tirou-me a liberdade que teria.
Quando adolescente, desprezei meu presente e vivi sempre ausente, na esperança de um amanhã que não chegou.
E quando criança, tolhi o que de melhor havia em mim por não saber que era o que de melhor possuía: a Fantasia.
Hoje, vivo à procura de aproveitar o lúdico do universo que perdi, por isso brinco com meus netos.
Hoje, vivo na ilusão de aproveitar a diversão que a vida teria a me oferece, mas não há mais lugar para mim no convívio com as Patys e com os Boy’s Presença!
Hoje, quero discutir com os jovens o que tanto estudei, mas meu saber não lhes interessa. Estou “fora de linha”.
Hoje, quero cultivar uma conversa tranquila com meus filhos, mas agora são eles quem estão ocupados demais para perder tempo com velhos como eu.
Restou-me apenas viver o hoje que ontem semeei.
Como o tempo passa depressa!
Que horas são para você?


(Cecília Nascimento)

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