Manhã de sol forte, sol bem sertanejo, daqueles que não é a moleira de qualquer um que aguenta não. Neste clima solar, vertiginoso e domingueiro foi inaugurado o Parque da Borborema, situado nos domínios a perder de vista da fazenda Boa Hora, herança eternal da família Bezerra. Foram seis meses de trabalho duro, intenso e desafiador, para ao fim e ao cabo receber as inúmeras pegadas que marcaram e participaram deste dia festivo e feliz.
Fui à inauguração, botei o meu chapeuzinho vindo lá das terras tedescas e fui oferecer flores para Cleudia Bezerra. Um gesto simbólico e afetivo para ela que escancarando as veredas da mata virgem do sertão, abre os braços e o coração para oferecer generosamente aos outros, seu mundo sentimental e as reminiscências de seu sagrado torrão, consciente num tempo em que as fornalhas vorazes das olaria$ e das cerâmica$ consomem tudo e continuam famintas, que é preciso preservar esta riqueza natural através deste novo projeto, cujo objetivo é, sobretudo, ecoLÓGICO e educacional.
O parque é um excelente espaço de lazer, de aventuras e de conhecimento. As trilhas, cuidadosamente sinalizadas com plaquinhas indicativas, levam os visitantes a entrarem num mundo singular, amostra viva e fascinante de nossa fauna e flora. Por entre árvores e arbustos tortuosos, caminhando na escaldância dos lajedos, vivenciamos uma experiência similar a de um filme de Glauber Rocha ou de Nelson Pereira dos Santos, que o digam Gutemberg Silveira, Jomar e Débora Raquiel que lá estiveram com câmeras nas mãos e idéias nas cabeças, registrando o desvirginamento deste espaço surpreendente, por vezes hostil, mas simplesmente majestoso, o nosso SERtão. Nele, podemos também nos imaginar revivendo passagens marcantes da literatura de um Graciliano Ramos ou de um Guimarães Rosa. Pena que o nosso amigo Gilberto Cardoso não querendo queimar a paraibana pele, preferiu a sombra e a água fresca do casarão que abriga o instrutivo Museu. Tivesse encarado a carroceria do trator, como fez a vereadora Aninha de Cleide, grávida de sete meses, teria certamente motivos vários de inspiração para incrementar ainda mais o seu belíssimo projeto “Cantando o Sertão”. Deixou para uma próxima vez, como disse, quando estiver munido de loções e de seus cremes protetores.
Foi de Gilberto que ganhei o cordel “Messias, o rei do nó e a mágica desastrada” e aí está justamente o outro personagem desta grande empreitada: Emanoel Messias dos Santos, meu ex-professor de karatê na longínqua década de 80, do século passado, este baixinho que é um gigante, um desbravador, renitente e determinado, detentor de muitas artes e de muita sabedoria adquirida através de seu autodidatismo. De sua mente criativa e de suas mãos laboriosas surgiram no meio da caatinga, a tirolesa, a pista de obstáculos, o spiriball, o slackline, as trilhas ecológicas, enfim, tudo que empresta ao ambiente o sinônimo de aventura, de emoção, de adrenalina, resguardados pela mais absoluta segurança.
Parabéns Messias, você é mágico e dá nó em pingo d’agua. Parabéns Elias, fiel companheiro-escudeiro de Cleudia, parabéns aos escoteiros que também colaboraram para a realização deste belo empreendimento. Por fim, parabéns Cleudia, você tem feito milagres para a cultura de nossa Santa Cruz. Você é como a nossa vegetação, basta um pouquinho de chuva (incentivo) para florescer exuberante e esperançosa. Vida longa ao Parque da Borborema e ao Museu Auta Pinheiro, irmãos gêmeos da cultura santacruzense!
Marcos Cavalcanti
Excelente, Marcos!
ResponderExcluirÀ tarde retornei e caminhei um bocado. Muito bom mesmo. Parabéns a todos que tornaram o empreendimento possível!