Eu era menino
quando o tempo era
ontem.
Na casa de
alpendre
via minha avó, de
avental de chita
e abano na mão,
atenta a atiçar as
chispas do fogão.
No fogo de lenha
a panela de barro
cozinhava lentamente.
Meu avô madrugava
nas veredas
tangendo um
burrico
com cangalha e
cambitos,
carregando água de
cacimba
em barris de
zinco.
Na hora do almoço
a família reunida
em volta
da grande mesa,
sentada em bancos
de madeira;
todos,
sorridentes, suados e serenos,
serviam-se em
pratos de porcelana.
Na cozinha
tisnada,
minha avó fazia
café forte e quente.
Café torrado e
misturado com rapadura do brejo,
batido no pilão de
madeira
e passado em
coador de pano.
À boca da noite,
na sala grande da
velha casa,
antigas histórias
eram enredadas
na polifonia de
personagens.
Parentes e amigos
vizinhos, se revezando
sob o lume da
lamparina a gás,
avolumavam as
sombras de heróis e vilões
que continuam
vagando
em minhas noites
de insônia.
Atualmente,
já mergulhado nos ismos
e logos das ciências,
quando tomo um
Nescafé de refil
fecho os olhos
e vejo pela janela
do tempo
meu avô cortando
lenha no terreiro
e na cozinha
tisnada
a minha avó
soprando as brasas do fogão,
fazendo um café
forte
que ainda hoje
aquece as cinzas
de minha memória.
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