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terça-feira, 18 de junho de 2024

PARABÉNS POR ENTENDER

 


PARABÉNS POR ENTENDER 


Nada se pode fazer por um adoecido. Por quê? Bem, porque ele já escolheu como viver. Nada se pode fazer... já vai repetir o que disse há pouco? É que eu preciso anular a necessidade de um médico no meu leito.  


Vamos mudar de assunto. Não, não posso mudar porque eu tenho ideia fixa. Quem tem ideia fixa é maluco e precisa de um médico. Vai chover! Mudar muito rápido assim também caracteriza um outro tipo de distúrbio. 


Ele ficou em silêncio por alguns segundos e não falou nem por minutos que se transformaram em horas que por sua vez em dias...morreu? Não, apenas estava em dúvida para evitar que lhe enquadrassem em algum tipo de loucura. Mas esse cuidado exagerado em se policiar também não é normal. E o que é normal? Todos temos pensamentos desviados e o que chamamos de normalidade se caracteriza exatamente... Não precisa explicar porque minha cabeça já está doendo. Então você me condena ao silêncio mandando eu não dizer? Não é condenação, apenas uma escolha em não ter que escutar conceitos que amanhã estarão inválidos. 


Uma quarta pessoa entrou na conversa com o objetivo de manter os outros informados que aqueles optaram em nada dizer. Reinou o silêncio e o que se podia fazer era parar tudo. Está proibido de parar a conversa, gritou o leitor que já estava ficando impaciente diante de tantas indecisões. Quem está indeciso aqui?, perguntou o escritor. Claro que são os personagens, porque se eu disser que é o escritor, você vem logo dizer que não tem nada haver com isso. Só que eu tenho e estou fazendo isso exatamente porque acho bom exercer o poder de decidir o que fazer com os personagens. Sim, mas esse poder é relativo, porque se eu decidir parar de ler, você não terá mais nenhum poder quanto a minha curiosidade em saber como irá terminar este texto. Ah, quem dera você deixar essa leitura pelo meio. És viciado em leitura, e todo viciado é fácil de manipular. E você é viciado em escrever, mesmo que seus escritos não tenham nenhum valor literário. Minha preocupação é saber se vai ter algum editor pronto para publicar, e aí o resto é problema seu e dele. Por que dele? Ah, vão dizer que ele não está mais sabendo fazer análises literárias e vai perder o emprego por estar escolhendo lixo. 


Emprego sem salário não é emprego. Quem falou isso? Eu, o editor. Alto lá senhor editor! Você nunca fala em público. Às vezes uma reunião virtual, mas falar mesmo, nunca. Mas o leitor falou! Sim, mas todo escritor precisa, para ser o que diz ser, de pelo menos um leitor, nem que seja ele mesmo em outro momento. Então eu não vou publicar o que você escreveu e tudo deixa de existir. Esse mundo que você acaba de criar vai estar longe dos olhos curiosos do fulaninho que se diz leitor. 


Alto lá, senhor editor, gritou o leitor. Alto lá você também, senhor escritor. Não precisa dizer: "gritou o leitor", porque eu sei que fui eu quem gritou. Agora sim!, você é quem quer direcionar o que devo ou não escrever, é isso? Pelo que eu sei, dizer quem gritou, ou dizer quem perguntou, ou fez isso ou aquilo no texto, essa função é minha. Era sua enquanto eu estava ausente, mas já que você me deu voz, eu posso escolher se preciso ou não dessa muleta para que eu mesmo entenda que fui eu quem gritou, quem disse isso ou aquilo etc. 


Nessa hora o escritor ficou em silêncio sem saber o que dizer. Quem escreveu isso? Sou eu, um segundo escritor interferindo porque o escritor original se transformou em personagem e alguém precisa dar continuidade a esse balaio de gato. Rá ré ri ro ru ru ru ru, riu o personagem do início do texto que foi taxado de maluco. 


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 18.06.2024 - 07h27min.

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