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segunda-feira, 15 de julho de 2024

GERENTE DO TEMPO



GERENTE DO TEMPO

 

Falta uma hora para sair de casa. A mulher ressona ao lado, tentando resgatar o sono interrompido às quatro da madrugada. Alguma novidade na banca do café? A dona estava triste, tristonha porque o marido dela acordou dizendo que hoje ia beber.

Daqui a pouco sairão para assistir. Ah, esqueci de pedir para você ir à oficina ajeitar os faróis de milha. De que trata o filme? É sobre a mentira do "esse é um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”.

Já tomou banho e fica fazendo hora pensando no torresmo que almoçou mais uma vez por semana. Por estar esperando deitado, resolve dizer que a rede na qual está é verde e branca, uma informação que não alterará a vida das pessoas tanto quanto o homem ter ido à lua.

Comprou o arame? Aqui está! É, não dá para tirar este espelho da parede. Está muito bem colado e ainda mais agora que o arame se partiu… 

Minha irmã contou que explodiu hoje quando a filha e o genro brigavam. Ela disse que sentiu-se mal e gritou: “PAREM TODOS OS DOIS”. O neto de sete anos completou: “vão brigar lá no quarto, porque minha mãe vai se estressar e depois vai sobrar para mim que não tenho nada a ver com isso”.

Meia hora para saírem de casa. Só não tendo o que fazer para ficar assistindo os minutos passarem relembrando conversas tidas pela manhã. Que bom é ter tempo para ter tempo. Neste momento, soldados ucranianos estão defendendo o seu território, e ele ali deitado; prostitutas japonesas tendo que ficar expostas nos bares a mando da Yakuza. É muito sofrimento pelo meio do mundo, e ainda bem que ele está fora disso, por enquanto.

Ao lado, no banco, uma moça olha, não precisa nem dizer que é para o celular. Vou ali comprar umas balinhas de leite. No caminho, pensou em passar em uma loja fora do circuito rotineiro. Não dá tempo, com esse trânsito é melhor focar na rota pré-definida para ter tempo para os doces pré-sessão. 

A moça de preto balança as penas enquanto digita perto de uma criança que deita-se no chão berrando. A avó acalenta sem saber que no futuro aquela criança problemática será discriminada por ter sido criada pela avó.

O filme terminou sem acrescentar muito, além de consumir o tempo que nem é mais precioso depois das vinte e duas horas. Na praça, o mesmo tempo que massacra quem está algemado, liberta quem está solto e com poder de compra. Alguns trabalham, outros se divertem, outros choram e outros riem com o choro dos outros. É o jogo de palavras exigindo-se o mesmo tempo para entender o quanto foi gasto na formulação do raciocínio. 

O homem da limpeza passa passando o pano na mesa. Pede licença para justificar o porquê de estar sendo pago, mas sua vontade é esfregar o tecido sujo na cara de quem sujou a mesa.

O estabelecimento já está fechando. É melhor se apressar. Vamos por ali que está menos engarrafado. Não dá para dormir apenas com sorvete e suco de laranja. Lá pras tantas faltará força na transmissão de mensagens sonhadas e as histórias ditadas pelo cérebro se caracterizarão como pesadelo. Do mesmo jeito que um tornado se forma somente se houver um ambiente propício, as tempestades cerebrais irão torturar caso falte combustível. 

Prepara a sopa de tudo com sal e… Isso mesmo. Um pouco mais líquida, tomada na xícara. Vou querer amarrar um cabelo neste sinal para exterminá-lo. É melhor uma cirurgia. Somos homens da caverna e o cabelo resolve. Vai dormir sem resolver o impasse de cabelo ou cirurgia.

Onze por seis, a hipocondríaca tira a pressão por três vezes todos os dias antes de dormir. Maria pressão, é assim que o marido lhe chama. A cidade se alastra no silêncio da escuridão. Os homens e mulheres se deixam levar pelo repouso necessário, e assim fecha-se o dia pelo portão da meia-noite.

 

Heraldo Lins Marinho Dantas Natal/RN, 14.07.2024 - 00h07min.

 


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